Com autorização do STF, agentes da Polícia Federal chegaram nas primeiras horas da manhã ao Congresso. Suspeita é de obstrução de Justiça
A Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, em Brasília, na manhã desta terça-feira (24). A operação investiga possível crime de obstrução de Justiça por parlamentares do PP (Partido Progressista).
De acordo com fonte da PF, políticos do partido teriam tentado evitar que um ex-assessor da legenda colaborasse com investigações em andamento no STF (Supremo Tribunal Federal). Membros do PP são atualmente investigados no Supremo por associação criminosa e desvio de recursos públicos, no caso conhecido como “quadrilhão do PP”.
Os alvos no Congresso são o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que também é presidente nacional da legenda. Agentes da PF chegaram nas primeiras horas da manhã ao gabinete dos parlamentares e também a seus apartamentos funcionais.
Os mandados de hoje foram autorizados pelo ministro Edson Fachin, do STF, relator da Operação Lava Jato no Supremo, atendendo a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República).
A Polícia Federal comunicou os presidentes da Câmara e do Senado para entrar nas Casas. Também é cumprido um mandado de prisão contra um ex-deputado, Márcio Junqueira, do PP do Piauí.
“Quadrilhão do PP”
Eduardo da Fonte e Ciro Nogueira são investigados pela Lava Jato por suposta prática de associação criminosa, juntamente com outros parlamentares do PP: Aguinaldo Ribeiro, Arthur Lira, Benedito de Lira, José Otávio Germano, Luiz Fernando Faria e Nelson Meurer.
De acordo com denúncia do Ministério Público Federal feita em setembro de 2017, os parlamentares seriam integrantes do núcleo político de uma organização criminosa voltada ao cometimento de delitos contra órgãos e empresas da administração pública que, “desde 2004, utilizando-se dos mandatos parlamentares e na qualidade de membros do Partido Progressista, integraram pessoalmente o núcleo político de uma grande organização criminosa estruturada para arrecadar em proveito próprio e alheio vantagens indevidas no âmbito da Administração Pública Federal direta e indireta”, de acordo com denúncia da PGR.
Provas reunidas no inquérito apontam que o esquema criminoso se estendeu entre 2006 e 2015 e teria causado prejuízo de cerca de R$ 29 bilhões à Petrobras, “embora a atuação do grupo não tenha se limitado a ela”, diz a PGR.
Segundo a denúncia sob investigação, “os grupos econômicos beneficiados pagaram a título de propina pelo menos R$ 377.267.122,83 (R$ 377 milhões) ao núcleo político da organização criminosa”.
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Defesa
Eduardo da Fonte ainda está no Recife, informou sua assessoria de imprensa. Assessores do parlamentar disseram desconhecer detalhes da operação da PF. A previsão era de que Da Fonte chegasse a Brasília na tarde desta terça-feira.
Em nota, a defesa do presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), disse que está acompanhando os mandados de busca e apreensão que estão sendo realizadas na residência e no gabinete do parlamentar. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro (Kakay) confirmou que Nogueira está no exterior, mas afirmou que não sabe sua localização exata e ainda não conseguiu contato com ele. O senador passou o último final de semana em Portugal.
“Desconhece a defesa, até o presente momento, as razões da determinação judicial do Ministro (Edson) Fachin (do Supremo Tribunal Federal). É certo que o senador sempre se colocou à disposição do Poder Judiciário, prestando depoimentos sempre que necessário e, inclusive, já foi alvo de busca e apreensão. Continuará a agir o senador como o principal interessado no esclarecimento dos fatos”, diz a nota divulgada por Kakay.
O advogado disse ainda que a defesa aguarda contato com o senador “para poder ter o necessário instrumento de poderes que dará direito ao acesso aos fundamentos da medida de busca e apreensão”.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do senador não se manifestou e não respondeu sobre a sua localização.