Luto e luta: O drama de mulheres que perderam suas vidas para a brutalidade de seus agressores
“É muita dor”, “é um trauma muito grande”. Desta forma se sentem familiares e vítimas que tiveram de enfrentar a violência contra mulher. As consequências do machismo na sociedade matam três mulheres por dia, de acordo com dados colhidos no 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Um número alto, mas por vezes sorrateiro e sem voz.
A partir desta terça-feira (1º), a nova série da RIC Record TV Londrina traz histórias de mulheres alvos de feminicídios, familiares que presenciaram os casos e relatos daquelas que conseguiram recuperar suas vidas. Também serão mostrados novas medidas de segurança que Londrina está tomando para a redução dos números de violência. O objetivo de “Luto e luta” é que cada vez mais esse assunto seja discutido sem tabus.
A estreia da série vem dois dias após a morte de Cidneia Aparecida Mariano, de 33 anos, conhecida como Neia. Ela foi vítima de uma parada cardíaca em sua cama, local que viveu por dois anos.
Em 2019, foi brutalmente agredida e asfixiada pelo ex-companheiro, Emerson Henrique de Souza. Ele a deixou em uma estrada rural no distrito da Warta, zona norte de Londrina. O homem acreditava que havia matado Neia, mas ela foi salva por outra mulher que passava pelo local. Com sequelas da violência, ficou sem movimentos e sem fala. As irmãs, Silvana e Shirley, passaram a cuidar diariamente dela.
“Ele já tinha acabado com a vida dela. Aquilo ali não era a vida dela. Ela era uma pessoa que tinha uma vida totalmente diferente. Imagine ser uma pessoa que trabalha, que luta, que leva a vida e depois ser condenada a ficar em cima de uma cama, tetraplégica”,
desabafa Silvana Mariano, irmã de Neia.
Emerson e Cidneia tiveram quatro filhos juntos. O homem foi condenado a 23 anos e quatro meses de prisão. Embora a Justiça tenha feito o trabalho da punição, não existe uma forma de trazer a presença de Neia de volta.
O luto sem aviso
Aos 43 anos de idade, Sandra Mara Curti foi assassinada pelo ex-marido. Alan Borges, açougueiro, usou uma de suas facas de trabalho e atingiu Sandra com 22 golpes. Tudo foi feito em frente aos dois filhos do casal, de 7 e 12 anos.
A ocorrência foi registrada em junho de 2020, na zona leste de Londrina. A vítima chegou a ser socorrida, mas não resistiu a quantidade de ferimentos. A casa ficou tomada pelo sangue de Sandra.
Os dois foram casados por 14 anos. A mulher trabalhou por mais de metade de sua vida como servidora pública na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Com sua morte, os filhos do casal moram com a tia, Sueli Curti.
“Tudo lembra. As crianças que presenciaram o crime estão sendo tratadas com psicólogas. A vivência do dia a dia é difícil”,
explica Sueli.
Preso, Alan aguarda julgamento em júri popular, marcado para agosto deste ano.
O luto de quem sobrevive
Por pouco, Kelly Denize não entrou para a lista de nomes de vítimas do feminicídio. Em janeiro deste ano, André Elias Generoso invadiu sua casa e, armado com um canivete, desferiu vários golpes contra o corpo dela. Para que a ex-companheira não fugisse, algemou seus braços.
“Você vê seu corpo se partindo ao meio. Porque eu vi meu corpo se partindo ao meio”,
Kelly lembra do momento.
A casa banhada de sangue foi apenas uma das consequências. Hoje em dia, Kelly não consegue movimentar o braço esquerdo e precisa de ajuda para realizar tarefas simples. Seu luto é pela vida antes do trauma, que não é mais possível de ser conquistada.
“Eu me sinto um nada”,
a vítima conta.
As armas usadas para cometer os crimes são variadas. No caso de Lucimara Krassouski, uma das vítimas mais recentes, foi um arma de fogo, em abril deste ano.
Lucimara já havia presenciado o comportamento violento de Alessandro Gean Antunes, pai de seus três filhos. Em uma tentativa de mantê-lo longe, a moradora de Tamarana (PR) pediu uma nova medida restritiva contra o companheiro de 10 anos de casamento. Ao chegar em sua casa, após ir até a delegacia de Londrina, foi atingida por disparos em seu rosto.
“Na hora que eu desci do carro, ele [Alessandro] já chegou metendo tiro em mim. O rosto dele estava normal, ele estava dando risada. Ele não tinha o semblante de pessoa nervosa”,
lembra Lucimara.
André, agressor de Kelly, foi preso e deve responder a tentativa de feminicídio. Já Alessandro chegou a ser preso, mas aguarda julgamento em liberdade.
O luto de Lucimara é pela segurança, sentimento que não consegue ter de volta desde que soube que seu agressor está nas ruas.
Acompanhe a série “Luto e luta”
Os episódios estão sendo transmitidos no canal da RIC Record Tv Londrina. São duas transmissões: às 11h50, no Balanço Geral Londrina e às 18h, no Cidade Alerta Londrina.
Os próximos temas serão “Luta por justiça” e “Luta por dignidade”. Os repórteres Rafael Machado, Lamartine Cortes e Ana contato continuam abordando a violência contra mulher, com casos reais e medidas que a cidade oferece para conter agressores.