O cartel foi delatado por oito executivos da construtora Odebrecht, que dele participava, por meio de dois acordos de leniência firmados com o Cade (Foto: Rodoanel/Reprodução/Governo de São Paulo)

O cartel teria operado entre 2004 e 2015, governos Geraldo Alckmin e José Serra, do PSDB, segundo a Lava Jato em São Paulo

A força-tarefa da Operação Lava Jato em São Paulo denunciou na sexta-feira (3) o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza e outros 32 investigados por cartel e fraude à licitação no Rodoanel Sul e sistema viário metropolitano da capital paulista. O cartel teria operado entre 2004 e 2015 (governos Geraldo Alckmin e José Serra, do PSDB), segundo a Lava Jato em São Paulo

Os ex-governadores não são citados na denúncia. Por meio de sua assessoria, Serra informou que não vai comentar o caso. Alckmin disse que “nem a licitação nem a execução” dessas obras ocorreu” na sua gestão.  Além de Souza, a denúncia do Ministério Público Federal aponta a participação de mais três agentes públicos: o atual Secretário de Aviação Civil do Ministério dos Transportes, Dario Rais Lopes, que, na época dos fatos denunciados foi presidente da Dersa e secretário estadual de transportes; o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Mario Rodrigues Júnior, que foi diretor de engenharia na Dersa entre 2003 e 2007; e Marcelo Cardinale Branco, que ocupou a presidência da Empresa Municipal de Urbanização de São Paulo (Emurb) e foi secretário municipal de Infraestrutura e Obras entre 2006 e 2010.

 
Ex-diretor preso duas vezes em 2018

Souza foi preso duas vezes este ano. O ex-diretor ganhou liberdade após dois habeas corpus do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. A Lava Jato requereu que a denúncia seja distribuída por dependência à 5.ª Vara Federal Criminal de São Paulo, pois o caso envolve o trecho sul do Rodoanel e a atuação de Souza, réu em ação penal por desvio de R$ 7,7 milhões em recursos e imóveis destinados ao reassentamento de desalojados por obras viárias da Dersa na região metropolitana de São Paulo – trecho sul do Rodoanel, prolongamento da Avenida Jacu Pêssego e a Nova Marginal Tietê.

O cartel foi delatado por oito executivos da construtora Odebrecht, que dele participava, por meio de dois acordos de leniência firmados com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em 2017 – um sobre o Rodoanel Sul e outro sobre o Sistema Viário Metropolitano. Os acordos foram firmados na sede do Ministério Público Federal em São Paulo, que, desde então, conduziu as investigações criminais relativas aos fatos narrados.

Dersa mostra interesse nas investigações

A Dersa e o Governo de São Paulo afirmaram que “são os grandes interessados acerca do andamento das investigações” e que todas as obras “foram licitadas obedecendo-se à legislação em vigor”. A Prefeitura de São Paulo disse que está colaborando com as investigações. A Odebrecht afirmou que “continua cooperando com as autoridades”.  Dario Rais Lopes afirmou que vai aguardar a notificação sobre a denúncia e que prestará esclarecimentos diretamente ao Ministério Público Federal. O advogado Daniel Bialski, que defende Mário Rodrigues, disse que “a denúncia traz uma história amparada em ilações, mas, efetivamente sem qualquer comprovação”

A defesa de Paulo Vieira de Souza não respondeu ao contato da reportagem até a conclusão desta edição. A defesa de Marcelo Cardinale Branco não foi localizada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.