Museu do Holocausto clama por ação penal contra ex-secretário de Bolsonaro

Publicado em 17 jan 2020, às 00h00.

O Museu do Holocausto de Curitiba repudiou, em uma nota pública, o vídeo divulgado pelo ex-secretário da Cultura do governo Jair Bolsonaro, Roberto Alvim, na noite desta quinta-feira (16).

No vídeo, Alvim faz um discurso com as mesmas palavras de uma fala de Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda na Alemanha nazista. Ele foi demitido nesta sexta-feira (17).

Roberto Alvim e Joseph Goebbels (FOTO: Reprodução)

O museu, um dos mais importantes da América Latina, e o primeiro do gênero no Brasil, não apenas repudia a fala do ex-secretário, como também clama “pelo afastamento de todos os responsáveis e pela instauração de um processo penal”.

“este inadmissível plágio textual e estético, além de repulsivo, cruza a linha do que é moralmente aceitável e configura apologia ao Nazismo”.

Confira a nota na íntegra 

Na noite do dia 16 para 17 de janeiro de 2020, o secretário da Cultura do
Governo Federal, Roberto Alvim, publicou um vídeo de divulgação do Prêmio
Nacional das Artes, o qual causou justa indignação nos mais diversos setores
da sociedade. A razão principal é que parte do pronunciamento se configura
como cópia parcial de um discurso do ministro da propaganda alemão durante
o regime nazista, Joseph Goebbels, conforme atestam diversas fontes
historiográficas.

Em primeiro lugar, uma autoridade, qualquer que seja sua hierarquia ou
país, que insere num pronunciamento oficial citações ipsis litteris de um
notório criminoso nazista, e se vale de sua estética, é uma afronta.

Em segundo lugar, causa perplexidade a similaridade não só de
palavras, mas de conteúdo. O regime nazista visava aparelhar a produção
cultural alemã aos seus objetivos políticos. A arte deveria, aos olhos nazistas,
servir para unir a nação, enaltecer o espírito patriótico e a lealdade de seus
cidadãos. A produção artística que fosse crítica aos ideais nazistas, adotasse
uma estética considerada contrária ao enaltecimento da nação ou que
questionasse a ordem vigente foi gradualmente marginalizada, censurada e
finalmente perseguida. A produção cultural, que tem um de seus papéis
fundamentais a expressão dos sentimentos, a crítica ao status quo e a
possibilidade de imaginar cenários diferentes era, dessa forma, atacada em
seu cerne.

Nesses termos, o secretário deixa claro que somente serão valorizadas
pelo governo federal as manifestações culturais alinhadas à valores
ideológicos pré-definidos.

Junto a isto, a seleção ideológica e o ataque verbal e financeiro à arte
crítica e aos seus valores são um enorme acinte, um desrespeito às vítimas do
Holocausto e uma ofensa a todos aqueles que, independentemente dos
posicionamentos políticos, acreditam na democracia, nos direitos humanos e
na liberdade e pluralidade de pensamento e expressão.

Em terceiro lugar, o uso como trilha sonora da ópera Lohengrin, de
Richard Wagner, exaustivamente utilizada no período nazista como
exacerbação da purificação e do nacionalismo alemães, também desonra e
gera repulsa àqueles que buscam aprender e transmitir as lições da Shoá.

Resumindo: este inadmissível plágio textual e estético, além de
repulsivo, cruza a linha do que é moralmente aceitável e configura apologia ao
Nazismo. O Museu do Holocausto de Curitiba não apenas repudia, como
também clama pelo afastamento de todos os responsáveis e pela instauração
de um processo penal.

Confira o vídeo do ex-secretário