Nutricionista analisa dietas mais populares de 2020

Publicado em 21 set 2020, às 16h43. Atualizado em: 23 set 2020 às 18h09.

As preocupações com saúde e qualidade de vida nunca estiveram tão em alta. Devido à pandemia do novo coronavírus, as pessoas foram impulsionadas a repensar hábitos de higiene e limpeza, convívio social e trabalho. Além disso, foram estimuladas a terem mais cuidado com o que consomem, de nutrientes a notícias, e a necessidade de cuidado com a saúde física e mental ficou evidente. 

Entre as doenças crônicas que colocam as pessoas no grupo de risco da COVID-19, a obesidade e o sobrepeso estão no topo da lista. Hoje, cerca de 56% da população brasileira está acima do peso, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem). Por isso, a necessidade da mudança de hábitos fez com que a procura por dietas se intensificar durante o isolamento social. 

Para se ter uma ideia, de janeiro a setembro de 2020, de acordo com o Google Trends – ferramenta que permite acompanhar a evolução do número de buscas por uma determinada palavra – registrou um aumento de 4.400% nas buscas pelo termo “dieta SirtFood”. Criada em 2016 por nutricionistas ingleses, ganhou notoriedade quando a cantora e compositora Adele, seguidora da dieta, postou uma foto no Instagram em que aparece 45 kg mais magra. 

Por que a dieta dos famosos fazem tanto sucesso? 

De acordo com a nutricionista Angela Federau, as dietas dos famosos ou da moda seduzem por apresentar a possibilidade de obter resultados rápidos. “Na maioria das vezes, isso realmente acontece, devido a uma espécie de choque no metabolismo por oferecer ao organismo outras formas de nutrição e fontes de energia. Essa mudança abrupta na alimentação resulta em um aumento da resposta metabólica e consequente perda de peso. Mas, por outro lado, dependendo da dieta, a perda de peso está mais relacionada a redução da quantidade de água e a perda da massa magra”, ressalta a nutricionista.  

As dietas mais buscadas no Google em 2020

Mas as dietas que caem no gosto popular não são totalmente ruins. O problema, segundo a nutricionista, é seguir uma dieta sem orientação de um profissional da nutrição. “Em alguns casos, as dietas da moda pode sim ser indicadas como uma estratégia de emagrecimento e controle do peso a longo prazo, desde que sejam alternadas. A dieta cetogênica, por exemplo, é uma indicação para redução de crises convulsivas e ataques epiléticos. Dietas com restrição de carboidratos, ou contagem de carboidratos, são indicados para pacientes diabéticos, e assim por diante. A grande maioria das dietas que hoje estão na moda, saíram do ambiente hospitalar onde eram utilizada para tratar alguma patologia específica”, explica Angela.

Dieta Sirtfood: a dieta da Adele

Criada em 2016 na Inglaterra, ganhou fama por incluir vinho tinto e chocolate amargo no cardápio e ser responsável pelo emagrecimento notável da cantora e compositora Adele. Em linhas gerais, a Sirtfood promete um emagrecimento por meio de restrição calórica e inclusão de alimentos ricos em polifenóis, substâncias que ativam as enzimas sirtuínas no organismo. Essas enzimas têm ação antioxidante e anti-inflamatória. 

Alimentos que fazem parte da dieta:

  • Chá verde;
  • Chocolate amargo com 70% de cacau ou mais;
  • Frutas vermelhas e frutas cítricas; 
  • Oleaginosas como avelã, castanhas e nozes; 
  • Rúcula, alcaparras, chicória roxa, aipo, couve galega, salsa, repolho roxo e cebola roxa;
  • Azeite extra virgem;
  • Café;
  • Tâmara;
  • Cúrcuma;
  • Proteínas (salmão e frango); 
  • Sucos detox.

A Promessa: 

Segundo os autores, a perda de 7 kg em 7 dias é comprovada. Eles afirmam que as Sirtfoods são um grupo de nutrientes que ativam a queima de gordura, ao mesmo tempo que programam nossas células para saúde e longevidade. Esses alimentos ativadores de sirtuínas acionam as chamadas vias do ‘gene magro’. Porém, Angela alerta que não existe comprovação científica, por isso é interessante pensar na Sirtfood como mais uma opção para estimular o metabolismo de forma contínua.

Dieta Low Carb 

O termo “low carb” significa baixo carboidrato, não nenhum carboidrato como muitas pessoas confundem. De acordo com as recomendações nutricionais a quantidade de carboidratos diária deve variar entre 45 a 65% das necessidades diárias individuais. Se o indivíduo consumir menos que isso ele estará fazendo “low carb”. 

A dieta “low carb” é muito utilizada para o tratamento de obesidade, síndrome metabólica, hipertensão e diabetes. “A redução dos carboidratos diminui a secreção de insulina, hormônio que está relacionado ao armazenamento de gordura. Outro ponto interessante é que com a insulina baixa, associada ao aumento das gorduras boas, aumenta o período de saciedade no organismo, reduzindo a fome”, salienta Angela Federau.

Segundo a nutricionista, para ser assertivo ao seguir um cardápio low carb é importante priorizar os “bons” carboidratos como: tubérculos (batata doce, inhame, cará, batatas, aipim), leguminosas (feijão, lentilha, ervilha, grão de bico), arroz negro, arroz vermelho, arroz 7 grãos, legumes e verduras, farelo de aveia, frutas, iogurtes com probióticos, quinoa, chocolate no mínimo 70% de cacau, oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas, macadâmia), queijos (com moderação). 

Ao passo que é preciso evitar os carboidratos “ruins” como: arroz branco, pães integrais industrializados, fubá, farinha de mandioca, pães sem glúten com farinha de arroz, polvilho e fécula de batata, barra de cereal, biscoitos, doces, todas as farinhas refinadas (incluindo as sem glúten), flocos de milho, granola, massas e pães brancos, aveia em flocos ou farinha de aveia, mingau, purê de batatas, maionese de batatas, massas brancas, sucos de frutas, leite, todos os tipos de açúcar e mel.

“A base da alimentação low carb para quem quer ter saúde e disposição é a inclusão de verduras e legumes e não carnes, ovos e bacon, como muita gente apregoa. Busque sempre acompanhamento nutricional individualizado e personalizado para obter os melhores resultados”, recomenda a nutricionista.  

Dieta cetogênica ou Keto 

A dieta cetogênica tem sua origem para tratamento de crises de epilepsia e episódios convulsivos. Caiu no gosto popular após sair do ambiente hospitalar e ser amplamente divulgado nas redes sociais. “Em linhas gerais, essa é uma dieta muito pobre em carboidrato e rica em gorduras. Na prática, elimina-se quase por completo o pão, a massa, o arroz, o feijão, os doces e o leite, para dar lugar aos legumes (alguns), os ovos, as sementes, carnes e os frutos secos. Nela, os carboidratos não ultrapassam 50g diárias e, em alguns casos, são totalmente excluídos. A compensação dos carboidratos pela gordura faz com que o corpo seja obrigado a recorrer a outras formas de energia como queimar as reservas adiposas”, explica Angela.

Os resultados da dieta cetogênica costumam ser rápidos com perda de peso e de volume de intensa. “Mas é importante ressaltar que isto acontece porque o corpo entra numa espécie de modo de sobrevivência. Por isso, esta dieta, sempre deve ter o acompanhamento de um nutricionista”, aconselha. Esse alerta dos nutricionistas decorre do fato da dieta cetogênica ou keto não ser para todos mundo. “Dores de cabeça, tonturas e outros sintomas são comuns para quem começa a dieta, pois são formas do corpo reagir à mudança que acontece no organismo. Por isso, tendo em vista que o processo da cetose se dá no fígado – órgão responsável pelo processamento da proteína – que no caso de uma dieta cetôgenica é ingerida acima dos valores habituais, não é aconselhada a doentes hepáticos, por exemplo”, alerta.

Dieta da Nasa 

A dieta dos astronautas foi desenvolvida supostamente por nutricionistas da NASA, na década de 1960, para otimizar a ingestão de nutrientes dos alimentos e para eliminar os problemas do estômago. No entanto, ao longo do caminho, a dieta tornou-se popular por outro motivo: perda de peso. 

Os nutricionistas experimentaram formas de reduzir a quantidade de gases produzido no estômago dos astronautas, pois o excesso de gases no espaço pode prejudicar o equilíbrio atmosférico dentro de uma estação espacial. 

A dieta tem duração de 13 dias e pode ser repetida após duas semanas da conclusão da primeira dieta. As regras básicas incluem evitar gordura e açúcar, limitar carboidratos, beber dois litros de água por dia e ingerir aproximadamente 500 calorias por dia. 

Evitar gordura significa que todos os alimentos devem ser livres de gordura. Dessa forma, óleo de cozinha, manteiga ou azeite não estão permitidos. Eliminar o açúcar não significa apenas evitar o açúcar branco, mas também inclui alimentos açucarados, como bolos, biscoitos, doces e todos os carboidratos e amidos como pães e produtos de trigo ou grãos como milho, arroz, e etc.

Entre as principais desvantagens apontadas por Angela Federau para seguir a dieta da NASA estão: 

  • Desnutrição: Dietas tão restritas são prejudiciais à saúde, problemas de estômago, queda de cabelo, pele seca e fina e outros problemas podem aparecer. 
  • Alto custo: o valor dos sachês de PronoKal no Brasil variam entre R$ 250,00 a R$ 450,00. Um custo altíssimo se comparado a alimentos de verdade como legumes e proteínas. 
  • Efeito Sanfona: dietas restritivas emagrecem no começo, mas os efeitos a longo prazo podem ser devastadores. O efeito sanfona não só devolve os quilos perdidos como provoca o acúmulo de mais gordura. 
  • Não possui acompanhamento profissional: Apesar de ter sido supostamente desenvolvida por nutricionistas, a dieta foi concebida para astronautas devido às condições do espaço. “Como não somos astronautas, vivemos no espaço e muito menos precisamos de alimentos em pó, a dieta da NASA não é uma opção viável para os terráqueos”, recomenda Angela.

Dieta Flexível 

A dieta flexível é  similar à dieta dos pontos, com a diferença de que, ao invés de calcular calorias, calcula-se os macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras) e as fibras. Para fazer esse cálculo, são utilizadas calculadoras online, com dados como peso, altura e quantidade de exercícios praticados para resultar nas quantidades recomendadas.

O emagrecimento acontece porque os macros são fontes de calorias e o método se propõe a limitá-los. Por exemplo, 1g de carboidrato tem 4 cal, 1g de proteína tem 4 cal e 1g de gordura tem 9 calorias Quando se diminui a ingestão de macronutrientes, o consumo de calorias é reduzido o que acarreta a perda de peso.

A principal vantagem dessa dieta é ajuda a planejar a alimentação, ficando mais fácil na hora de pensar em reeducação alimentar. A desvantagem é que não é nada prática, por apenas dizer a quantidade de cada macronutriente que deve ser ingerida. Por fim, o adepto terá que olhar constantemente o quanto de cada macro está presente em cada alimento que ingere e então fazer o cálculo se está de acordo com sua dieta.

Entre os principais riscos desse tipo de estratégia alimentar, apontados por Angela Federau estão:

  • Deficiência de micronutrientes: não levando em conta a qualidade nutricional dos macros, os micronutrientes não são considerados. Podendo acarretar em deficiência de vitaminas e minerais. 
  • Falta ou excesso de macros: como os cálculos não são feitos por um nutricionista, mas por uma calculadora virtual, aumentam os riscos de ingerir alguns macros em excesso ou menos de outros. 
  • Fibras, se estiver em menor quantidade do que o adequado, existe o risco de problemas no trânsito intestinal. O excesso, leva a diminuição da absorção de minerais. Além disso, pode prejudicar a ação de enzimas digestivas, causar a distensão abdominal, gases e agravamento da constipação.
  • Não considera os dias com ou sem exercícios: não recomenda uma ingestão diferente de macronutrientes para dias com e sem treino. 

O caminho para o emagrecimento saudável é mais simples que se imagina

De acordo com Angela Federau, o primeiro ponto para quem precisa ou quer emagrecer é entender que cada organismo é único e o que funciona para um, não necessariamente funcionará para os outros. “A busca por acompanhamento nutricional profissional é fundamental, para que o processo seja feito adequadamente sem prejuízos da saúde e com sustentabilidade. Essa atitude permite que novos hábitos sejam formados e que o peso perdido não seja novamente encontrado” salienta a nutricionista.

Por fim, Angela pontua que a pressa não é uma boa aliada. “Curtir a transformação e aproveitar cada momento para estabelecer um relacionamento mais saudável com o corpo e organismo, faz com que o autocuidado seja prazeroso e não permite que hábitos antigos voltem”, finaliza. 

Sobre Angela Federau 

angela federau
Angela Federau, nutricionista

Angela Federau é nutricionista clínica (CRN-8: 5047), pós-graduada em fitoterapia aplicada à nutrição, especializada em nutrição funcional, pediátrica e escolar. Atua como professora de nutripediatria na pós-graduação de medicina da Faculdade Inspirar. Além disso, participa como convidada de pesquisas científicas e genéticas da UFPR como o mapeamento e estudo genético da comunidade Menonita e é revisora de artigos científicos e textos para sites médicos. É palestrante, escritora de livros, artigos e colunas em jornais e revistas. Nutricionista responsável pela  APSAM – Associação Paranaense Superando a Mielomeningocele. Além disso, a nutricionista é empresária do segmento alimentício e atua como parceira da Polícia Militar do Paraná e de clínicas de fertilidade.  

www.instagram.com/angelafederau.nutri  
https://www.facebook.com/AngelaFederau.Nutricionista/
Contatos para atendimento: https://bit.ly/33boYmF