Retomar projetos, debater características da futura estação, refletir sobre as necessidades da pesquisa brasileira. O incêndio na Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz, em 25 de fevereiro, teve perdas irreparáveis, mas abre espaço para discussões sobre a importância e investimentos em pesquisa científica.
Desde 1984, a UFPR desenvolve pesquisas em áreas como ecologia, mudanças climáticas e monitoramento ambiental no território antártico. Pesquisadoras do setor de Ciências Biológicas e de Ciências da Terra faziam parte da 30ª expedição da UFPR na Antártida e estavam na Estação Comandante Ferraz. A professora sênior do Centro de Estudos do Mar, Therezinha Absher; a doutoranda em Biologia Celular e Molecular Cintia Machado; a mestranda em Ecologia e Conservação Nádia Sabchuk e as alunas do Mestrado em Biologia Celular e Molecular Maria Rosa Pedreiro e Priscila Krebsbash chegaram ao Brasil na segunda-feira (27).
Na terça (28), as quatro estudantes relataram a experiência em entrevista à imprensa. Também estavam presentes o reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Sérgio Scheer, o diretor do setor de Ciências da Terra Donizeti Giusti, a diretora do Centro de Estudos do Mar Eunice Machado e a coordenadora do programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da UFPR, professora Lucélia Donatti.
As pesquisadoras falaram sobre a rotina na estação e sobre o treinamento em caso de acidentes recebido na chegada na estação antártica. “É como uma família, além do trabalho, cada um participa de um rodízio na manutenção da estação”, contaram Cintia e Priscila. Por essa razão, todas sentiram muito as perdas ─ principalmente da vida dos militares que combatiam o fogo ─ e das amostras dos trabalhos em andamento.
Mesmo com todas as perdas, a intenção das alunas é poder voltar à Antártica. “Quem trabalha lá, tem paixão pela pesquisa, pelo local, pela importância que representa para o planeta”, disse Maria Rosa. Elas não pensam em desistir e querem dar continuidade aos experimentos que restaram.
Veterana nas expedições antárticas, a professora Lucélia, que pertence ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais, explicou que os maiores problemas após o acidente são com a descontinuidade dos projetos e a perda de material biológico dos experimentos em andamento. Sobre o retorno ao trabalho, ela diz que tudo depende de aporte financeiro e vontade política, mas que os pesquisadores precisam “debater o que será da futura estação”, que deve ter características de competitividade e qualidade no nível de americanos e europeus.
A professora Eunice ressaltou a importância científica e política internacional para a manutenção das pesquisas. A relevância dos 30 anos de participação da UFPR nas pesquisas também foi lembrada pelo pró-reitor Scheer, que vê como próximo passo a reflexão sobre novos investimentos na área científica. Lamentando a grande perda ─ de vidas e para a ciência brasileira ─ o reitor Zaki Akel Sobrinho disse que a UFPR dará todo o apoio interno e estímulo aos grupos para que os trabalhos de pesquisa não se percam. “Vamos refletir a necessidade de novos investimentos na pesquisa, levar ao Ministério de Ciência e Tecnologia a preocupação para que o programa se amplie.”