Beto Richa diz que provas de delação de Tony Garcia foram adulteradas

por Guilherme Becker
com informações de Marc Sousa
Publicado em 27 out 2021, às 16h12. Atualizado às 16h33.

Durante entrevista ao Grupo RIC, na manhã desta quarta-feira (27), Beto Richa acusou o ex-amigo Tony Garcia de adulteração de provas apresentadas em delação premiada. O ex-deputado estadual foi peça-chave na investigação que resultou na prisão do ex-governador em setembro de 2018. Um áudio, gravado em um encontro com a cúpula do governo e empresários, embasam a denúncia de fraude em licitações cometidas por Richa.

Os áudios ficaram conhecidos pela expressão “pagar o tico tico”, que teria sido dito por Beto Richa e, supostamente, seria de uma negociação de esquema para direcionar licitações. O caso foi investigado pela Operação Radiopatrulha, que resultou na prisão do ex-governador e de outras 14 pessoas.

Entretanto, nesta manhã, Beto Richa esclareceu que ‘tico tico’ seria o modo como um dos empresários chamou um pagamento lícito, por isso o termo foi repetido. 

“Um dia, em um evento, eu encontrei um desses empresários e me falou ‘já recebemos um tico tico, dos meses atrasados recebi uma pequena parcela’, foi isso, não tem nada a ver com propina. Aliás, este é outro abuso de autoridade, outro crime cometido contra mim”,

destacou o ex-governador.

Richa ainda acusa Tony Garcia de fraudar provas apresentadas durante a delação premiada. O ex-governador ainda aponta outros crimes cometidos pelo ex-deputado estadual e diz não acreditar que a ‘palavra’ dele valha mais que a de sua tradicional família.

“O acordo de delação com esse sujeito desqualificado, que toda sociedade paranaense o conhece, a vida dele foi completa de aplicar golpes. Só me admira que a palavra de uma pessoa dessas vale mais que a minha palavra, a minha mulher e a da minha família. Mas o acordo de delação com ele diz o seguinte, ‘apresentar mídias originais sem edição’, esse acordo é assinado pelo GAECO junto com esse procurador que acaba de ser demitido, o Diogo Castor de Mattos. Eles aceitaram pendrive, já foi feita perícia solicitada pela justiça e se constatou, ‘em relação ao áudio de Carlos Alberto Richa está adulterado com interrupções abruptas’, pinçaram uma frase minha fora de contexto para mudar o sentido da conversa”,

esclareceu o ex-governador.

Procurado pela reportagem do RIC Mais, Tony Garcia declarou que Beto Richa mentiu durante a entrevista. Segundo o ex-deputado, a perícia contratada pelo ex-governador tentou comprovar fraude, mas o resultado não foi acatado. “Diz que provas entregues por mim foram manipuladas e periciadas, e comprovado que haviam sido manipuladas. O que ele sabe que é mentira. […] A perícia da Polícia Federal e do Gaeco comprovam a higidez das provas apresentadas contra o Beto”, pontua.

O procurador Diego Castor, que também foi citado por Beto Richa não atendeu ao contato do RIC Mais. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

Assista a entrevista completa de Beto Richa:

Tony Garcia, que já foi candidato a Prefeitura de Curitiba e tentou uma vaga no Senado em três oportunidades, foi preso em 2004 pela Polícia Federal. O político foi acusado de gestão fraudulenta do Consórcio Garibaldi. Julgado pelo então juiz Sérgio Moro, Tony ficou preso 81 dias e pagou fiança de R$ 5 milhões.

Prisões de Beto Richa

O ex-governador Beto Richa foi preso em três oportunidades, entre setembro de 2018 e abril de 2019. O político foi investigado em quatro operações: Operação Rádio Patrulha, Integração, Piloto e Quadro Negro.

No dia 11 de setembro de 2018 Beto Richa foi detido pela primeira vez. A pedido do Ministério Público do Paraná (MP-PR), o ex-governador foi preso pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) na operação Rádio Patrulha. Os policiais investigavam possível pagamento de propina a agentes públicos e direcionamento de licitações de empresas. 

No mesmo dia, Beto Richa foi alvo da operação Lava Jato. No dia 14 de setembro, o ministro do Superior Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, pediu a soltura de Beto Richa. 

Já no dia 29 de janeiro de 2019, Beto foi denunciado pelo MP-PR acusado de corrupção passiva e pertencimento a organização criminosa em um esquema de propina em contratos de concessão de pedágio. O ex-governador foi solto no dia 1 de fevereiro, a pedido do presidente do STF, João Otávio de Noronha.

Por fim, em 19 de março de 2019, Beto Richa foi preso em desdobramento da operação Quadro Negro, que apura o desvio de 20 milhões em obras de escolas públicas. O ex-governador foi solto no dia 4 de abril após pedido da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR).