A presidente não disse ainda em quais pontos está disposta a recuar, mas o anúncio é visto com otimismo por integrantes de PT

A presidente Dilma Rousseff comunicou ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a todo o Partido dos Trabalhadores que está disposta a mudar as medidas que restringem a concessão de benefícios trabalhistas e fazem parte do ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Dilma não disse exatamente em quais pontos estaria disposta a ceder, mas o anúncio é visto com otimismo por integrantes de PT. As Medidas Provisórias 664 e 665 são vistas pelo partido como as grandes causadoras do desgaste da presidente neste início de segundo mandato. Para os petistas, o ajuste fiscal tem mais influência do que as denúncias de corrupção na Petrobras, reveladas pela Operação Lava Jato.

Um dirigente do partido analisou reservadamente que as denúncias sobre a Petrobras já eram públicas durante a campanha eleitoral. Já as medidas econômicas pegaram de surpresa tanto o PT quanto os movimentos sociais, em especial sindicatos, que gravitam no entorno do partido. Pesquisas internas encomendadas pelo partido mostram que parte das pessoas que votaram no PT considerou as MPs um “estelionato eleitoral”.

No ano passado, em um evento de campanha em Campinas (SP), Dilma foi questionada sobre mudanças nos direitos trabalhistas e respondeu: “nem que a vaca tussa”. Nos protestos que levaram multidões às ruas no dia 15 de março, o tema foi abordado em cartazes com a frase: “a vaca tossiu”.

Além disso, as medidas provocaram um distanciamento entre a presidente e os movimentos historicamente ligados ao PT que, dois dias antes, também protestaram nas ruas contra as medidas, mesmo defendendo a permanência da líder.

Acerto de ponteiros

Na noite desta segunda-feira (23), mais de 20 parlamentares do PT participaram de uma reunião com ministros da equipe econômica do Governo para discutir as MPs. O líder do partido na Câmara, Sibá Machado (AC), afirmou que vai defender na próxima reunião da bancada que as duas medidas provisórias sejam aprovadas exatamente como foram editadas pelo Executivo, mas ponderou que ainda não existe posição fechada. “Os parlamentares estão mais tranquilos”, disse Sibá.

A necessidade de recuo de Dilma diante das medidas foi tema de reuniões entre o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, o senador Paulo Paim (PT-RS), o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o ex presidente Lula, na noite de segunda-feira (23) em São Paulo. Lula está agindo para evitar que as medidas gerem uma debandada de aliados históricos e quadros políticos do PT.

Durante a conversa, que aconteceu na sede do Instituto Lula, a dupla falou da dificuldade de manter na base o apoio ao governo se não houver uma mudança significativa no projeto. Lula concordou com a análise e afirmou que o Planalto vai discutir esses temas.

Insatisfeito com o PT desde a campanha eleitoral, o senador Paulo Paim tem sinalizado a possibilidade de deixar a legenda, caso as MPs sejam aprovadas e deixou claro que não irá apoiá-las. Ao saber da insatisfação do parlamentar, PSB, Solidariedade, PMDB e PDT se ofereceram para abrigá-lo.

Ao deixar a sede do Instituto Lula, o senador disse que ficou “esperançoso” com a conversa. Segundo ele, o ex-presidente se comprometeu em colaborar na negociação com o governo e incluiu outra demanda histórica do movimento sindical na pauta: o fim do fator previdenciário.

A preocupação agora é que Dilma não repita no caso das MPs a “barbeiragem” cometida no anúncio do recuo da correção da tabela do Imposto de Renda, demanda histórica do movimento sindical cujo anúncio foi feito sem a presença de sindicalistas.

A disposição em recuar na questão dos benefícios e do aperto fiscal acontece no momento em que Dilma enfrenta uma rebelião da base aliada no Congresso, manifestações populares pedindo sua saída e os piores índices de aprovação desde que assumiu o governo.

De acordo com levantamento CNT/MDA, divulgado na segunda-feira (23), 65% dos eleitores consideram o governo ruim ou péssimo contra apenas 11% que avaliam como ótimo ou bom. (Colaborou Ricardo Della Colleta)

Com informações do jornal O Estado de S. Paulo.