Foto: Cicero Rodrigues/ World Economic Forum

Em março deste ano, o empresário foi condenado a 19 anos e 4 meses de prisão por associação criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro

A procuradora Laura Gonçalves Tessler, da força-tarefa do
Ministério Público Federal, afirmou durante entrevista coletiva nesta
terça-feira (22), que o ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht,
“comandava a sistemática de pagamento de propinas”. A empreiteira é o
principal alvo da Operação Xepa, 26ª fase da Lava Jato, deflagrada nesta manhã.

“Outro elemento importante que nós verificamos foi a
realização do sr. Marcelo Odebrecht diretamente no pagamento da propina. O
envolvimento dele: há referências às iniciais do sr. Marcelo Odebrecht em
planilhas apreendidas. Tanto as iniciais ‘MBO’, Marcelo Bahia Odebrecht, quanto
‘DP’, diretor-presidente. Essas duas referências são feitas na mesma tabela, o
que deixa bastante evidente que de fato o coordenador, o responsável por aquela
solicitação de pagamento indevido é Marcelo Odebrecht.”, afirmou a
procuradora. O empreiteiro foi preso na Operação Erga Omnes, no dia 19 de junho
de 2015.

“Além das referências existentes nessas tabelas, as
anotações constantes dos celulares do sr. Marcelo Odebrecht também se
compatibilizam absolutamente com o que consta dessas tabelas. Para a gente
reforça ainda mais a convicção de que o sr. Marcelo Odebrecht não só tinha
conhecimento como comandava toda essa sistemática de pagamento de propina,
inclusive teve participação de funcionários que foram, quando de sua prisão,
levados para o exterior. Não apenas para fugir das investigações como para dar
continuação a esse pagamento ilícito”, disse.

Em março deste ano, o empresário foi condenado a 19 anos e 4
meses de prisão por associação criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro. Na
sentença, o juiz Sérgio Moro considera que houve fraudes nas licitações
seguidas de pagamentos de propinas nas obras das refinarias Presidente Getúlio
Vargas (Repar), no Paraná, Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, no Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e no contrato de fornecimento de Nafta
da Petrobrás para a Braskem, empresa controlada pela Odebrecht.

A Operação Xepa é um desdobramento da Operação Acarajé, que
atingiu o publicitário João Santana e a mulher e sócia Monica Moura. O casal
trabalhou em campanhas eleitorais da presidente Dilma Rousseff e do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A força-tarefa da Operação Lava Jato também investiga uma
“estrutura secreta” do Grupo Odebrecht usada para “pagamentos
ilícitos”.

“Foram verificados indícios de pagamentos no exterior,
de obras vinculadas a diretorias ligadas a Angola, Argentina, o que nos faz
crer que existia de fato uma estrutura profissional de pagamento de propina
dentro da Odebrecht. Não significava casos esporádicos, mas, sim, pagamento
sistemático de propina”, afirmou Laura Tessler.

Defesa

A Odebrecht confirma, em nota, “que a Polícia Federal
cumpriu hoje mandados de prisão, condução coercitiva e busca e apreensão em
escritórios e residências de integrantes em algumas cidades no Brasil. A
empresa tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com
os esclarecimentos necessários.”

Fernando Baiano

Algumas das planilhas apreendidas pela Polícia Federal
identificam registros de pagamentos de valores, que para a Operação Lava Jato,
seria propina do operador Fernando “Baiano” Soares, ligado ao PMDB.

O delegado Márcio Anselmo, da equipe da Lava Jato, afirmou
que nos registros constam a entrega de valores em endereço vinculado ao nome
“Gustavo”. O endereço seria da empresa Hawk Eyes, que pertence a
Fernando Baiano.

Delator da Lava Jato, ele confessou usar suas empresas para
movimentar propinas para agentes públicos e políticos como o presidente da
Câmara Eduardo Cunha. “Gustavo, coincide, com o nome do irmão de Fernando
Soares”, afirmou o delegado.

Há registros de entrega de R$ 1 milhão, numa planilha em que
os valores chegam a mais de R$ 60 milhões.