Quem matou Celso Daniel? MP de São Paulo vai ouvir testemunha do Paraná 

Publicado em 10 jan 2020, às 00h00.

O Ministério Público de São Paulo deve ouvir o fazendeiro Valter Sâmara nos próximos dias. Amigo de Lula por mais de duas décadas, Sâmara diz que entregou uma fita para o ex-presidente com informações sobre Celso Daniel, prefeito de Santo André, na Grande São Paulo, assassinado em 2002

Os promotores correm contra o tempo porque o crime está prestes a prescrever. Eles acreditam que as revelações podem abrir novas linhas de investigação.

Valter Sâmara recebeu a equipe de reportagem da Record TV na sua fazenda, que fica em Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais do Paraná. Sâmara foi amigo do ex-presidente Lula por mais de 25 anos e decidiu quebrar o silêncio para revelar fatos que testemunhou desde a década de 1980. O principal deles é uma fita que recebeu meses depois da morte do então prefeito de Santo André, Celso Daniel. O fazendeiro teria se oferecido para colaborar com a Lava Jato. 

Para revista Crusoé, Valter disse que entrou em contato com os procuradores da força-tarefa por meio de seu advogado, Paulo Reusing, e que iria contar fatos ocorridos ao longo das últimas duas décadas. Entre eles, um crime classificado como “comum” pela polícia, mas muito mais trágico e rumoroso, e que até hoje assombra o Partido dos Trabalhadores: o assassinato de Celso Daniel.

Fita

Nas gravações, uma conversa sobre um esquema de pagamento de propina entre os Gilberto Carvalho e Miriam Belchior, que foi casada com Celso Daniel. Os dois foram secretários da administração petista em Santo André, na Grande São Paulo, e ministros dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff

“Nessa fita, o Gilberto Carvalho falava com a Mirim. Eu escutei a fita. Eu peguei a fita, fui falar com o Lula. Levei a fita pra ele. Ele estava falou: “Isso aí é montagem. Aí, eu, olha, Lula, eu não creio que seja montagem. A voz, isso aí é, discordei dele, mas não quis questionar sobre isso. Tá bom, se vc acha que é montagem. Então, tá a fita. Estou mostrando pra você, pra te prevenir de algumas coisas… prevenir contra muita gente”. 

No entanto, um mês depois do contato com o Ministério Público do Paraná, homens armados invadiram a loja de roupas da família e também a casa da irmã de Valter. Vídeos mostram a chegada do carro preto e a fuga com os objetos levados da casa. Falavam que queriam documento, a fita do PT, o documento do PT. Foram lá com esse objetivo”, conta. 

O ex-amigo de Lula revelou que o conteúdo da fita era sobre o modo como Miriam Belchior, a ex-mulher de Celso Daniel, deveria se comportar no período de luto e sobre supostos repasses de propina, chamada de ‘pacotinhos’. “A conversa era sobre, falando pra ela que, dando conselho a ela como ela devia se comportar, sobre como andar, e sobre os ‘pacotinhos’ que estavam lá pra ele buscar que estavam lá”.

Valter não fez cópia da gravação e não sabe dizer por que houve a tentativa criminosa de recuperar a fita somente em 2018. “Tem que perguntar pra ele (Lula). Eu gostaria de saber por quê? E ir lá na casa da minha irmã… Por que não vieram falar comigo? Por que não vieram me pegar? Não sei qual é a razão disso aí. E eu realmente não tenho cópia da fita. Eu dei pro Lula”.

Condenado há cinco anos de prisão na Lava Jato, Ronan Maria Pinto, dono do jornal Diário do ABC, teria recebido R$ 6 milhões do esquema de desvios da Petrobrás para manter silêncio sobre detalhes do caso. Por isso, a força-tarefa da Lava Jato de Curitiba encaminhou informações do caso para São Paulo.

*Com informações da RIC Record TV.