Marc Souza diz que a cobertura da Lava Jato tem surpresas diárias, com novos detalhes a todo momento
O repórter Marc Souza, de 30 anos, é correspondente da Record TV no Paraná e está acompanhando diariamente a Operação Lava Jato em Curitiba desde a sua deflagração, em março de 2014.
O jornalista acredita que a operação é um divisor de águas na história sobre investigação de corrupção no País. Confira a entrevista
Você vê diferença entre a Lava Jato e as outras operações sobre crimes de corrupção já realizadas?
A Lava Jato foi à operação que mais se aprofundou nos casos, percorreu os caminhos do dinheiro e envolveu mais atores, como empresários, políticos e até familiares de políticos. A trama que eles conseguiram puxar é maior do que qualquer outra operação já realizada.
Como você avalia o trabalho da imprensa na cobertura da Lava Jato? Acha que existe parcialidade, como acusam alguns setores da sociedade?
Geralmente as críticas têm muito viés ideológico. Quando a operação pega alguém que faz parte do grupo político que a pessoa apoia, a tendência é criticar o trabalho. E quando a operação vai contra os antagonistas do grupo apoiado, seja de que lado for, à tendência é elogiar. Posso falar do meu trabalho. Eu fiz tanto matérias envolvendo o José Serra e Aécio Neves (ambos do PSDB), por exemplo, quanto matérias envolvendo o ex-presidente Lula (PT). Cobri todos os lados.
A Lava Jato pode ser vista como um marco nas investigações sobre crimes de corrupção?
Certamente é um divisor de águas na história de crimes políticos no país. Independente de qualquer coisa, os investigadores conseguiram desenvolver tecnologias mais eficazes para rastrear dinheiro de corrupção, que a partir de agora serão usadas em outras investigações. Além disso, essas experiências estão sendo compartilhadas com outros países, o que certamente vai aprimorar ainda mais as técnicas de investigação. Antes, as investigações ficavam muito restritas aos operadores do dinheiro, e a partir da Lava Jato, a polícia conseguiu chegar aos líderes dos esquemas, gente poderosa, com mandato em altos cargos, como o ex-deputado Eduardo Cunha, por exemplo, que era presidente da Câmara.
Como você avalia a evolução da operação nesses três anos?
É uma surpresa diária. O que começou com uma investigação sobre tráfico de drogas, se transformou numa mega operação de combate a corrupção, chegando aos principais líderes do país. A todo o momento aparece um novo detalhe, um novo envolvido. A operação conseguiu captar um padrão de corrupção, muito bem estruturado, que funcionava não só no âmbito do Governo Federal, mas que é praticado nos estados e municípios. A própria delação da Odebrecht agora começa a mostrar isso.
Leia mais:
Lava Jato: Procurador vê muito trabalho pela frente após 3 anos de operação
Operação mexe com vida de curitibanos e cria oportunidades de negócio