De acordo com epidemiologistas, Copa América pode agravar terceira onda
Após o presidente Jair Bolsonaro confirmar o interesse do Governo Federal em realizar a Copa América em território brasileiro, epidemiologistas entrevistados pela BBC News Brasil definiram como “crime”, “insanidade” e “paranoia” o país levar adiante a possibilidade de promover o campeonato.
Para Antonio Augusto Moura da Silva, professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o Brasil não tem condições de receber nenhum evento no atual cenário. Segundo ele, a chegada de turistas ao país pode causar um colapso no sistema de saúde já saturado por conta da quantidade de pacientes internados com Covid-19.
“Estamos enfrentando uma segunda onda que não arrefeceu ainda. A taxa de transmissão também está muito elevada e estamos numa situação de descontrole. Além disso, a taxa de imunização está muito baixa, com apenas 10,4% da população vacinada com a segunda dose da vacina contra a covid”,
explica Silva.
O anúncio de que o Brasil havia sido escolhido como sede da competição foi feito na manhã de segunda-feira (31) pela Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol). No mesmo dia em que o Brasil registrou 860 mortes por covid-19, e o total de óbitos no país chegou a 462.791, como informa o boletim do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
A soma oficial de casos da doença já chega a 16.545.554, sendo 30.434 deles nas últimas 24h, sendo que a média diária de mortes nos últimos sete dias ficou em 1.848.
Mesmo com tantos casos, o país se mostrou disposto a aceitar a proposta da Conmebol para sediar o evento esportivo.
Bolsonaro ainda afirmou que as críticas têm a ver com os direitos de transmissão dos jogos, que pertencem ao SBT, e há “um movimento contrário da Globo”.
“No que depender de mim e de todos os ministros, inclusive o da Saúde, haverá [a Copa América no Brasil]. O protocolo é o mesmo da [Copa] Libertadores e da Sulamericana”, justificou. “TV Globo, [vocês] perderam. E abram o olho para 2022”, completou o presidente Bolsonaro, fazendo alusão à renovação da concessão pública de transmissão da emissora carioca, que vence no ano que vem.
Vetado em outros países
A Argentina já anunciou sua desistência, após registrar uma alta de casos de covid nas últimas semanas. A Colômbia também rejeitou a proposta por enfrentar uma onda de protestos contra o governo. A competição seria realizada em conjunto pelos dois países.
Moura da Silva, da UFMA, diz que o governo brasileiro será irresponsável caso aceite sediar a competição, pois há um grande risco de aumentar a circulação do vírus no território nacional.
“Quando aumenta a circulação de pessoas, a tendência é aumentar a taxa de contaminação. Um evento desse ainda pode representar uma ameaça de entrada da variante indiana. O que precisamos ter é um controle de fronteira mais rígido. Sem isso, corremos o risco de aumentar a circulação do vírus e, consequentemente, o número de óbitos”,
alerta o epidemiologista.
Além de Moura da Silva, outros epidemiologistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem que a maior preocupação de um evento como esse é aumentar a transmissão do coronavírus. Isso ocorre porque quanto mais pessoas se encontram e se aglomeram, mais rápido o vírus se espalha.