Mais transmissíveis e perigosas para jovens: entenda as variantes do coronavírus

Publicado em 3 mar 2021, às 12h07. Atualizado às 12h28.

No pior cenário da pandemia desde o aparecimento dos primeiros casos do novo coronavírus no Brasil, com recorde no número de óbitos, hospitais lotados e sistemas de saúde entrando em colapso, a nova preocupação da comunidade médica tem sido com as mutações das cepas da covid-19 que começaram a surgir. Até o momento, três variantes já foram registradas no país: a brasileira, que começou no Amazonas, a do Reino Unido e a da África do Sul. 

De acordo com a infectologista Dra. Viviane de Macedo, doutora em Ciências e professora de Medicina na Universidade Positivo, as mutações já existiam desde que a ciência teve conhecimento do vírus, mas eram “mutações inocentes e não preocupavam”. Nos últimos meses, no entanto, a situação mudou, acendendo um alerta para uma nova onda de casos, muito pior do que as anteriores. 

“Os vírus começaram a ter mutações muito importantes na proteína S, que é a proteína Spike. É ela que faz a ligação do vírus com o organismo humano, por isso pode ser mais infectante e causar um surto ainda maior do que este que a gente está vivendo. No Reino Unido, por exemplo, eles observam que a nova variante é cerca de 5% mais transmissível do que a cepa anterior. Já a do Brasil pode ser 2,2% mais infectante do que a primeira, por isso existe essa preocupação”.

Explicou a médica. 

Um dos principais argumentos para que o sistema de saúde tenha ficado sobrecarregado em tão pouco diz respeito à rapidez da transmissão do vírus de uma pessoa para outra. Conforme a infectologista, isso acontece pois, nas mutações que o vírus faz quando se multiplica ele “aperfeiçoa o seu sistema de invasão, que faz com que ele sobreviva no corpo humano”.

Como o vírus só circula entre as pessoas, a melhor forma de combater as variantes é com a restrição de circulação e as medidas de higienização e distanciamento, além da vacinação. 

Novas variantes e pacientes jovens 

Diferentemente do início da pandemia, quando o risco maior da doença era para pacientes idosos, as novas variantes também têm sido mais agressivas com os jovens. A Dra. Viviane de Macedo conta o que a comunidade médica tem observado: 

“A média de idade caiu. Antes a gente internava pacientes com média de idade de 65 a 90 anos, mas essa média realmente ficou mais baixa. Pacientes jovens com comorbidades têm sido internados e intubados, têm ido para as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e, alguns deles, têm até mesmo ido a óbito. Isso está mesmo acontecendo e pode ser por conta desse aperfeiçoamento do vírus para entrar na célula humana. Quando a gente afrouxa as medidas, ele [o vírus] começa a circular de novo e, para sobreviver, começa a fazer mutações”. 

Afirma a infectologista.

Reinfecção e vacinação 

Quem já pegou e tratou o novo coronavírus, pode ser infectado novamente. Segundo a infectologista, isso já foi observado em diversos pacientes e, por isso, as medidas de proteção e cuidado permanecem sendo essenciais.

“Isso também em relação às pessoas vacinadas, elas também podem pegar a doença. É preciso ter em mente que as vacinas foram desenvolvidas para que reduzissem os impactos da doença no organismo, para reduzir as internações e intubações, os casos mais graves. Não é porque vacinou que está imune e não vai pegar coronavírus, isso não é verdade”.

Frisou a Dra. Viviane. 

A infectologista ressalta que, com relação às novas variantes, ainda não existem estudos suficientes para atestar como as vacinas serão eficazes.

“A gente ainda não tem certeza de como vão se comportar as vacinas nesse contexto, principalmente contra a P1, a cepa brasileira. Agora que estamos vacinando será possível identificar o quanto teremos de proteção para as variantes, mas de qualquer forma são necessários mais estudos”, disse. A expectativa é que a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, a Coronavac, seja mais eficaz contra as novas cepas, já que trabalha com o vírus inteiro para a imunização. 

Neste momento em que muita coisa ainda é incerta, o recado para a população continua sendo o mesmo: manter o uso de máscara, distanciamento social, uso de álcool em gel e restrição de circulação. E claro, quando chegar a hora, confie na vacina.

Especialista: Dra. Viviane de Macedo é médica infectologista, doutora em Ciências e professora do curso de Medicina da Universidade Positivo.