'Se for viado que não desmunheque': rede de farmácia demite recrutadora de RH que mandou áudio preconceituoso à equipe
O áudio que circulou pelo Whats App na semana passada deixou muita gente indignada e revoltada. Atribuído a uma funcionária do RH da rede de farmácias São João, no Rio Grande do Sul, a mulher orientava outros recrutadores no áudio sobre contratações: para não admitir gente feia, gorda, tatuda e com piercieng. E se fosse homossexual, “que não desmunhecasse“, pois “o preço era o mesmo”. Então que contratassem gente “bonita e decente”.
A rede foi procurada logo que o áudio vazou na internet e negou que se tratasse de uma funcionária da farmácia. Mas, nesta sexta-feira (22), a São João voltou atrás e emitiu uma nota oficial à imprensa. Nela, confirmou que o áudio era de uma funcionária da casa há 13 anos, que atuava em Imbé (RS) e região e que a demitiu depois que uma sindicância interna que apurou o ocorrido.
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Veja na íntegra o que dizia o áudio:
“Feio e bonito é o mesmo preço, né, gente. Então, vamos cuidar muito nas nossas contratações. Pessoas muito tatuadas, você sabem que a empresa não gosta. A questão piercing na língua, no nariz, na testa, não pode, a gente lida com saúde. Pessoas muito gordas, vocês sabem. Cuidem as aparências, cuidem as aparências. Se pegar alguém, com todo respeito, viado e tudo mais, tem que ser uma pessoa alinhada, que não vire a mão e desmunheque. Vamos cuidar as equipes que a gente vai pegar. Vamos pegar gente com a aparência boa, com disposição, com vontade. Eu tenho feito as entrevistas para as lojas de Imbé e tem muita gente boa disponível no mercado. Então, não esqueçam: feio e bonito a gente vai pagar o mesmo preço, então vamos pegar os bonitos, né. Porque não somos bobos nem nada. Então, por favor, conto com vocês.”
Farmácia muda discurso e se pronuncia
Depois de toda a confusão, a rede de farmácias abriu sindicância, apurou que se tratava mesmo de funcionária sua e emitiu nota oficial, informando a demissão da colaboradora. Veja a nota na íntegra:
“A Rede de Farmácias São João vem, por meio de nota, novamente, reafirmar seu compromisso e respeito incondicional com a diversidade e inclusão. Como já foi comunicado, a empresa repudia toda e qualquer manifestação que possa contrariar ao ideal e valores de respeito aos direitos humanos. Há consciência de que a pluralidade é direito de todos e faz parte da Democracia em qualquer Estado de Direito, sendo que ratifica e solidifica o desenvolvimento sustentável e a preservação das liberdades individuais.
Neste cenário, nossa Política Interna repudia veementemente toda e qualquer forma de preconceito. Opiniões que contrariem esse ideal, não refletem nossos valores e princípios. A partir desse pressuposto, o processo de contratação promove a diversidade, a inclusão e a cultura de vedação de quaisquer tipos de discriminação. Uma simples visita as lojas podem comprovar que esse é um compromisso real.
Em decorrência do áudio veiculado nas mídias sociais, informamos que no dia 18/10/2021, foi instaurado o procedimento de Sindicância Administrativa Interna para apuração e conhecimento da amplitude dos fatos, para a identificação de sua autoria e responsabilidades administrativas.
Foi realizada averiguação dos fatos, com respeito ao contraditório e a ampla defesa, colhido os depoimentos internos e ao final, constatou-se que o áudio foi enviado por uma colaboradora sem o conhecimento da Direção e através de um canal paralelo, não reconhecido oficialmente pela empresa. Foi um ato totalmente isolado de uma colaboradora, que não condiz com as práticas da empresa, basta adentrar em nossas lojas.
A Sindicância Interna resultou na aplicação das penalidades expressas na Consolidação da Leis do Trabalho.
Reforçamos nosso compromisso com a comunidade, colaboradores, autoridades e ao final, ficamos à disposição para maiores esclarecimentos, caso necessário.
Departamento Jurídico – Rede de Farmácias São João“
Investigações
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul iniciou inquérito por homofobia, crime equiparado ao de racismo, que pode dar té cinco anos de reclusão. Tanto a funcionária, quando representantes da empresa deverao ser interrogados semana que vem, visto que ela usou um celular funcional da empresa para emitir o áudio com a orientação.
O Ministério Público do Trabalho também abriu inquérito para apurar o fato.