Comandante da PRE de Maringá é um dos presos na Operação Força e Honra; policiais cobravam 'pedágio' para mercadorias
O capitão Rodrigo dos Santos Pereira, comandante da 4ª Companhia da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) de Maringá, está entre os presos da Operação Força e Honra, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná (MP-PR), em conjunto com a Polícia Militar nesta quarta-feira (14). Ao todo, 27 policiais foram afastados e 14 foram presos na operação. Um vereador de Campo Mourão também foi preso.
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O capitão assumiu o comando da 4ª Companhia da PRE em novembro de 2019, após ter passado por Maringá, Astorga e Londrina. Na cidade londrinense, ele era subcomandante do 2° Colégio da Polícia Militar. Além da prisão, foi cumprido mandado de busca e apreensão na residência do comandante. Entre os presos, além do capitão, estão soldados, um cabo, um sargento e um subtenente. Na casa de um dos presos, foi encontrado ainda dois tabletes de cocaína, certa quantidade de raxixe, dinheiro em espécie e aparelhos eletrônicos com procedência incerta.
De acordo com o Gaeco, as investigações partiram do posto da PRE em Cruzeiro do Oeste, região de Umuarama. Foi constatado que os policiais estariam realizando no local a cobrança de uma espécie de ‘pedágio’ para quem transportava mercadorias estrangeiras. A PR-323, onde se encontra o posto da PRE, é via utilizada por compradores de itens do Paraguai.
O valor do ‘pedágio’ dependia do volume transportado. Havia inclusive, segundo a investigação, uma tabela com os preços fixados. Boa parte das informações foram obtidas através de quebras de sigilo telefônico e bancário.
O comandante-geral da Polícia Militar do Paraná, coronel Hudson Leôncio Teixeira, acompanhou a operação em Maringá e participou da coletiva de imprensa realizada na manhã desta quarta-feira (14).
O vereador de Campo Mourão Sidnei Ronaldo Ribeiro, o Tucano (PSD), teria participação no esquema e também foi preso. Ele é empresário do ramo de produtos eletrônicos e participaria auxiliando na destinação dos produtos desviados. Em nota, o vereador nega as acusações. “O Vereador Sidney Ronaldo Ribeiro (Tucano) esclarece que está surpreso com seu nome estar envolvido na investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), e está disponível para elucidar os fatos. E informa que as investigações não tem relação com a sua atuação como Parlamentar do Poder Legislativo de Campo Mourão”, destaca a nota.
Entenda a operação:
Os mandados de busca e apreensão envolvem residências de 36 militares, quatro estabelecimentos de policiamento rodoviário estadual (uma Companhia em Maringá e os Postos Rodoviários de Iporã, Cruzeiro do Oeste e Cianorte), seis residências de empresários e oito empresas. São cumpridos nos municípios de Maringá, Cruzeiro do Oeste, Umuarama, Goioerê, Campo Mourão, Paranavaí, Maria Helena, Doutor Camargo, Mandaguari, Tamboara, Nova Esperança, Uniflor, Jussara, Mandaguaçu, Marialva, Guaíra, Cianorte e Iporã.
Esquema de propina
As investigações, feitas pela Corregedoria da Polícia Militar em conjunto com o núcleo de Umuarama do Grupo Especializado na Proteção do Patrimônio Público e no Combate à Improbidade Administrativa (Gepatria) e o núcleo do Gaeco em Cascavel, foram iniciadas em agosto de 2020 e apuram os crimes de concussão, corrupção passiva, peculato, prevaricação, falsidade ideológica, lavagem de ativos e eventual receptação realizados por organização criminosa. Levantamento preliminar demonstrou incompatibilidade do patrimônio dos policiais – que chega a R$ 6 milhões – com seus rendimentos lícitos.
É investigado principalmente o possível recebimento sistemático de “propinas” por parte de policiais rodoviários estaduais para permitir a passagem de veículos transportando mercadorias de origem estrangeira sem o devido pagamento de tributos (descaminho) e, em outros casos, para facilitação do tráfico de drogas. Eventualmente, os policiais investigados liberariam infratores que não acertavam o pagamento de propina depois de ficar com parte dos produtos, revendidos depois para empresas especializadas em comércios de equipamentos eletrônicos e outras. Em muitas situações, os boletins de ocorrência eram registrados de modo genérico para facilitar a apropriação das mercadorias apreendidas. Está sendo investigado também o possível favorecimento na indicação de policiais para trabalhar nos postos de fiscalização, em troca de repasse de propinas.
O cumprimento dos mandados de busca e apreensão objetiva o recolhimento de distintivos, armas, coletes balísticos, cédulas funcionais, documentos diversos, equipamentos eletrônicos, aparelhos celulares, valores em espécie e veículos. Todos os mandados foram expedidos pelo Juízo da Vara da Auditoria da Justiça Militar e pelo Juízo da 2ª Vara Judicial de Cruzeiro do Oeste.