Doze suspeitos são presos em Londrina por envolvimento com esquema bilionário de sonegação fiscal

por Redação RIC.com.br
com Polícia Civil
Publicado em 16 mar 2021, às 15h53. Atualizado às 15h55.

Doze pessoas foram presas nesta terça-feira (16) em Londrina e região, no norte do Paraná, por suspeita de envolvimento em esquema bilionário de sonegação fiscal no ramo de comercialização de café em grão

Foram cumpridos em todo o Brasil, 220 mandados judiciais, sendo 35 de prisão temporária, 124 de busca e apreensão e 61 de sequestro de bens. Ao todo, 23 pessoas foram presas, 11 delas em outros estados da federação

De acordo com a Polícia Civil, as prisões no Paraná foram de suspeitos que estariam à frente das empresas atacadistas e corretores que compravam café do Espírito Santo e Minas Gerais. Entre estes, grandes atacadistas e corretores de café em grãos, além de transportadores, proprietários e representantes de torrefações paranaenses conhecidas no ramo cafeeiro nacional.

Operação Expresso 

A ‘Operação Expresso’, força tarefa entre as Polícias Civis, Receitas Federais e Ministérios Públicos do Paraná e de Minas Gerais, e é a continuidade da ‘Operação Grão Brocado’ que iniciou em 2019, em Uberlândia, Minas Gerais. Na ocasião, a polícia descobriu que produtores de café do MG e do ES estavam sonegando impostos com negociações falsas de venda do produto. Eles vendiam café para empresas paranaenses, mas eram empresas de fachada localizadas em São Paulo e Minas Gerais -chamada ‘noteiras’ – que emitiam as notas fiscais.

Com as notas falsas, os verdadeiros compradores sonegavam impostos interestaduais de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). 

“Eles recebiam o café com notas diversas, de empresas que sequer conhecem o café, sequer chegaram perto do produto. […] A gente conseguiu comprovar má fé desde a saída desse produto, desde o trânsito desse produto, tanto por parte de corretores, como de atacadistas e donos de torrefação. Considerando todos esses indivíduos, ninguém recolheu um centavo de ICMS sobre todo esses produtos”, disse o delegado Thiago Vicentini de Oliveira, coordenador da investigação no Paraná. 

As investigações apontam ainda que, por diversas vezes, o produto adquirido por meio de notas fiscais falsas oriundas de São Paulo era destinado a empresas de café solúvel de Londrina e de Cornélio Procópio, ocasião em que, simulando uma venda da mercadoria dentro do Paraná, os atacadistas emitiam uma terceira nota fiscal falsa, acarretando aos próprios atacadistas o não recolhimento do tributo.

“Esse grupo está organizado de uma maneira muito mais aprofundada, estamos diante de fraudes fiscais e crimes de sonegação fiscal, de falsidades ideológicas e por fim também, o aspecto da lavagem de dinheiro”, completou o delegado.

Os mandados foram cumpridos em 39 municípios brasileiros. São eles: Londrina, Carlópolis, Cornélio Procópio, Ibaiti, Jandaia do Sul, Mandaguari, Maringá, Matinhos, Pérola, Rolândia e Santo Antônio da Platina, no Paraná; São Paulo, Espírito Santo do Pinhal, Hortolândia, Itatiba, Itu, Leme, Santo Antonio do Jardim, São Bernardo do Campo e Santos, em São Paulo; Vitória, Colatina e Vila Velha, no Espírito Santo;  Belo Horizonte, Aimorés, Andradas, Borda da Mata, Divino, Itamogi, Itueta, Manhuaçu, Matozinhos, Miraí, Muriaé, Ouro Fino, Patrocínio, Poços de Caldas, São Sebastião do Paraíso e Varginha, em Minas Gerais.

Valores milionários

Somados os valores, as “noteiras” de Minas Gerais e de São Paulo emitiram mais de R$ 6 bilhões em notas fiscais, entre janeiro de 2016 e fevereiro de 2021, sendo 2 bilhões só em 2020. Os valores devidos aos cofres mineiros passam de R$ 350 milhões.

Quanto às empresas destinatárias das notas fiscais falsas no Paraná, a estimativa é que elas tenham acumulado créditos tributários fraudulentos de, aproximadamente, R$ 100 milhões, considerando que receberam cerca de R$ 1 bilhão em notas frias. Sobre o valor fraudado, ainda devem ser acrescentados 60% de multa, correção monetária e juros, fazendo com que o valor devido aos cofres paranaenses chegue a cerca de R$ 200 milhões.

Houve também sonegação de tributos federais (IRPF). O montante, neste caso, pode chegar a R$ 200 milhões. Além disso, como há o evidente intuito de fraude, a multa é qualificada e corresponde a 150% do valor lançado; ou seja, o valor dos tributos federais sonegados e a multa correspondente pode chegar a R$ 500 milhões de reais.