PM dá versão sobre suposto confronto na Portelinha e irmã de adolescente contesta: "Mataram um inocente"

por Daniela Borsuk
com informações de Thais Travençoli, da RIC Record TV Curitiba
Publicado em 8 nov 2021, às 14h34.

Amigos e familiares de Eduardo Felipe Santos de Oliveira, o adolescente de 17 anos que foi assassinado em um suposto confronto com a Polícia Militar na noite de sábado (6), fizeram um protesto no domingo (7), na comunidade da Portelinha, que fica na divisa dos bairros Portão e Santa Quitéria, em Curitiba, afirmando que o jovem foi morto injustamente. Nesta segunda-feira (8), ao ser procurada pela equipe da RIC Record TV, a Polícia Militar enviou uma nota dando a sua versão sobre o caso.

Conforme a Polícia Militar, o jovem correu de uma tentativa de abordagem da equipe, que foi acionada para atender a um chamado sobre disparo de arma de fogo na região. Ainda, a PM diz que o adolescente estava armado, atirou contra os policiais e que, com o suposto suspeito, foram encontrados 123 pinos de cocaína, que foram apreendidos e levados para a Central de Flagrantes.

Veja a nota na íntegra:

“De acordo com as informações do Boletim de Ocorrência, a situação aconteceu, por volta das 23 horas de sábado (06/11) em uma região conhecida como Comunidade da Portelinha, no bairro Portão, em Curitiba. Segundo o documento, a Polícia Militar, por meio do 12⁰ Batalhão, recebeu duas denúncias de disparos de arma de fogo, uma às 22 horas e a segunda por volta das 23 horas.

Logo após o primeiro acionamento, segundo o boletim, uma equipe da ROTAM fez patrulhamento na região, mas ninguém foi localizado. Já após a segunda ligação, as equipes retornaram a fazer buscas e, na Rua Irati, avistaram um homem com um objeto nas mãos. Os policiais então tentaram fazer a abordagem, mas ele fugiu da equipe correndo pelas ruas da região.

Durante o acompanhamento, de acordo com o documento, os militares estaduais constataram que ele estava com uma arma de fogo e tentaram novamente fazer a abordagem, momento que o rapaz teria apontado a arma para a equipe e efetuado os disparos. Para revidar a injusta agressão, os policiais também efetuaram disparos, porém o homem fugiu.

Ao tentar novamente uma abordagem, diz o boletim, o rapaz voltou a apontar a arma aos policiais, que revidaram e o homem acabou atingido. Imediatamente foi acionado o SIATE, que ao chegar no local constatou o óbito.

A Criminalística recolheu a arma de fogo usada pelo homem sendo, conforme boletim, um revólver, de calibre .38, com três munições intactas e duas deflagradas. Com ele está relatado que também havia 123 pinos de cocaína, que foram apreendidos e encaminhados à Central de Flagrantes.

Como é de praxe em situações de emprego de arma de fogo por policiais, um procedimento será instaurado para apuração das circunstâncias que envolvem o fato.

Versão da família

A irmã de Eduardo, Jaqueline Santos de Oliveira, no entanto, contesta a informação dada pela PM. Para ela, o irmão era um rapaz trabalhador, atuava com servente de pedreiro e também ajudava a madrinha na coleta de materiais recicláveis. Jaqueline acredita que a arma e as drogas coletadas foram implantadas no local e que Eduardo foi assassinado injustamente.

“Eu não sei se eles fizeram o exame de pólvora na mão dele, eu quero o resultado desse exame, porque se ele atirou contra eles vai ter, vai constar. Ele estava bêbado no dia, os exames de sangue acho que constam que ele estava com bastante álcool no sangue. E eu sabia que ele estava bêbado, a madrinha dele sabia que ele estava bêbado, porque ele estava dentro da casa dela hora antes. Agora você me diga, uma pessoa bêbada, ela ia ter uma arma na mão? Não sabia nem ler, ia saber atirar? Ele não era assim, então eu falo, não foi um confronto. Isso é eles que tão implantando, tanto a droga quanto a arma, eles tão implantando em cima do meu irmão para eles saíram como inocentes, sendo que eles mataram um inocente“,

desabafou a jovem.

Ela ainda relatou o medo dos moradores de andarem pela região e serem confundidos com suspeitos. “O piá trabalhava com 17 anos, eles falaram que o piá era bandido, que o piá era vagabundo. Agora você não pode andar na comunidade que você é vagabundo, que você é bandido? Ele era um menino muito prestativo pra tudo, eu não consigo entender”, pontuou.

A insegurança também foi relatada por uma amiga, dona da casa em que Eduardo teria tentado se esconder e onde foi baleado pelos PMs. “Na verdade ele estava alcoolizado, né? Ele estava assustado como todo mundo, porque recém já teve outro caso com um menino que morreu, então eles veem polícia e eles saem, porque eles têm medo de morrer. Se fosse confronto provavelmente ia ter bala por todo o muro, provavelmente foi descarregado umas duas armas. Ia ter bala na minha parede inteira. Tem uma bala na minha geladeira, que atravessou a geladeira e passou pro lado do quarto”, frisou ela. A moradora ainda comentou que teve sorte por não estar em casa com os filhos pequenos, pois algo de ruim poderia também ter acontecido com ela: “Se nós estivéssemos em casa, ia ter sido uma tragédia”.