Sergio Moro acusa Bolsonaro de interferência na Polícia Federal

por Gabriel Azevedo
com informações de agências
Publicado em 24 abr 2020, às 00h00.

O paranaense Sergio Moro pediu demissão do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública nesta sexta-feira (24). A decisão foi tomada depois que o presidente Jair Bolsonaro exonerou o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, que havia sido indicado pelo ex-juiz da Lava Jato.

Sergio Moro contou que disse ao presidente Jair Bolsonaro que a troca do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, seria uma interferência política e que o presidente Bolsonaro concordou com a afirmação.

A exoneração de Valeixo foi publicada no Diário Oficial da União, nesta madrugada, sem o conhecimento de Sergio Moro. Nesta quinta-feira (23), o então ministro tinha avisado Bolsonaro que não ficaria no governo caso Valeixo fosse exonerado.

Paranaense de Mandaguaçu, Maurício Valeixo era um dos homens de confiança de Sergio Moro. Delegado de carreira na Polícia Federal, ele foi superintendente da Polícia Federal no Paraná durante a Operação Lava Jato. Valeixo também atuou em outro caso da carreira de Sergio Moro, a Operação Banestado.

Interferência de Bolsonaro

O ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro afirmou que, quando aceitou o convite para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública, recebeu “carta branca” do presidente Jair Bolsonaro para tocar a pasta e disse que sempre teve preocupação de interferência do Executivo na Polícia Federal. “No final de 2018 recebi o convite do então eleito presidente e me foi prometido carta branca para todos os assessores, incluindo Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal”, disse.

Lembrando dos anos da Lava Jato, que começou em 2014, Moro disse que a operação “mudou patamar de combate à corrupção. Foi um trabalho do Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal”, disse. Ele também disse, que, nesse período, foi garantida a autonomia da PF nos trabalhos de investigação. “O governo da época tinha inúmeros defeitos, mas foi fundamental manutenção da autonomia da PF. Isso permitiu que os resultados foram alcançados”, disse.

“Falei com o presidente ontem que seria uma interferência política, e ele respondeu que seria mesmo”, disse Moro. “O presidente informou que tinha preocupação com inquéritos em curso que estão com a Polícia Federal. Tinha uma grande preocupação”, completou o ex-ministro.

“O grande problema dessa troca é a violação da promessa que me foi feita, de carta branca, e uma interferência política na Polícia Federal”, disse.

Moro também relatou que o presidente Jair Bolsonaro lhe disse, em mais de uma ocasião, que queria colocar uma pessoa “do contato pessoal dele” no comando da Polícia Federal para lhe passar informações. “O presidente me disse mais de uma vez que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar e colher informações e relatórios de inteligência. Seja diretor ou superintendente. Realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informações. Elas devem ser preservadas”.

De acordo com Moro, o problema não é a troca de nomes, mas sim realizar a substituição sem uma boa justificativa. O ex-ministro disse também que as alterações não parariam na direção geral da Polícia Federal, mas que se estenderiam para as superintendências do órgão nos Estados.

“O problema é que não é só troca do diretor geral. Haveria também a intenção de trocar superintendentes do Rio de Janeiro e de Pernambuco. Outros superintendentes viriam em seguida, sem que fosse me apresentado uma razão ou uma causa que fossem aceitáveis para realizar este tipo de substituição”, afirmou Moro.