A luta continua mesmo para quem venceu a covid-19
A jornalista Dayse Campos, de 44 anos de idade, é uma entre as centenas de pessoas que vem enfrentando as consequências de ter vencido a covid-19. Ela que foi infectada em novembro de 2020, teve 50% do pulmão comprometido e diz começar a se sentir bem apenas agora, em maio.
“Antes do covid sempre tive boas noites de sono, mas nesse período as queimações e a azia me prejudicaram muito. Ainda sinto um pouco de cansaço, mas o fato de trabalhar em escola e com crianças renovou minhas esperanças e meu desejo de melhorar logo”,
relata Dayse.
Segundo a curitibana, entre a medicação prescrita para aliviar os sintomas da doença estavam remédios corticoides, que ela tomou de novembro a março. Tal medicação levou Dayse a desenvolver um quadro de esofagite, além de um problema no fígado devido a um aumento na taxa de insulina que sobrecarregou o órgão.
“A covid é um passeio num parquinho de horrores. O primeiro brinquedo é a montanha russa com a série de altos e baixos que ele causa em nosso organismo. Depois a gente entra num trem fantasma e o susto só aumenta com o desequilíbrio que ele causa nos nossos hormônios. No fim, a gente se perde um pouco para achar a saída, mas a cada passo, vai vendo luz no fim do túnel e o tempo vai curando as feridas e limpando o organismo desse vírus maldito”,
conta a jornalista.
Mesmo que ainda não haja estudos que comprovem que a covid-19 deixe sequelas, sejam elas temporárias ou definitivas, diversas pessoas que venceram a doença relatam dificuldades jamais vistas antes da infecção.
Além de Dayse, a curitibana Larissa Jedyn, de 45 anos, conta que todos seus familiares pegaram a doença, e que seu pai chegou até ser internado devido a uma falta de ar. Entre os sintomas apresentados por ela que a levaram a um diagnóstico estavam uma forte dor de cabeça e fadiga.
A base de analgésicos e antinflmatórios, Jedyn relata que a doença não se agravou para quadros mais severos e até seu pai que estava internado, se recuperou rapidamente.
Porém, logo após o diagnóstico, tanto a curitibana, quanto seu pai tiveram uma piora na vista. Ambos tiveram um grau mais elevado de uma hora para a outra.
“Segundo a minha médica, nós não sabemos se voltará ao grau anterior ou não, mas minha vista ficou mais turva, e foi depois da covid”,
diz Larissa.
As sequelas de quem passa pela UTI
Os relatos de quem venceu a covid-19 após passar pela Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) já são fortes e surpreendentes o suficiente. Entretanto, o que poucos sabem é que a luta de tais pessoas não se encerra após sua saída do hospital.
De acordo com a Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (ABMFR), cerca de dois terços dos pacientes que passaram pela UTI por covid-19 precisam de alguma reabilitação. Além disso, estima-se que entre 60% e 80% dos recuperados tenham sintomas persistentes.
A terapeuta ocupacional Syomara Cristina Szmidziuk explica que terapeutas de reabilitação estão percebendo com frequência a ocorrência de doenças neurológicas entre pessoas convalescentes da infecção por coronavírus.
Trata-se de uma constatação ainda estudada pela ciência, mas que chama a atenção pelo número elevado de dias de internamento, seguido de protocolos estritos de posição do corpo levarem pacientes a apresentarem sequelas.
Entre as principais citadas pela profissional, estão: a falta de memória, o cansaço extremo, a falta de atenção e de concentração em atividades corriqueiras. Nos casos mais graves há alteração motora, falta de sensibilidade, alteração de paladar e olfato.
“São sequelas decorrentes do próprio tratamento, como perda da massa muscular e úlceras de pressão, e sequelas emocionais, como estresse pós-traumático, síndrome do pânico e medo”,
explica a terapeuta.
Como lidar com as consequências
Szmidziuk explica que na terapia ocupacional o paciente trata das perdas de habilidade funcional, ou seja, a partir das atividades propostas pelos profissionais é possível cuidar do retorno ao trabalho, a recuperação da atenção, memória e concentração, e da autonomia nas atividades práticas e diárias.
“Pacientes que não se lembram mais do ônibus que pegam ou qual o caminho para o trabalho; perda de força para segurar objetos na mão por algum tempo; perda de sensibilidade no corpo ou hipersensibilidade é indicado a terapia. Para outras sequelas, deve-se procurar o cardiologista, o neurologista e o pneumologista, que fazem esse acompanhamento. Muitos pacientes passam pela fisioterapia respiratória”,
recomenda Szmidziuk.