Antinatalismo e niilismo: o que leva alguém a falar que não queria nascer?

Além da recusa à própria existência, profissionais explicam o motivo da grande recusa ao trabalho por parte de jovens

por Lucas Novak
com supervisão de Scheila Pessoa
Publicado em 5 ago 2024, às 20h01.

Recentemente, viralizou no TikTok um vídeo em que um jovem de 21 anos afirma que não deveria trabalhar, pois “nasceu sem seu consentimento”. O tiktoker argentino Hassan Azteca, argumenta que os pais o geraram sem o consultar, sugerindo que não deve arcar com responsabilidades como o trabalho. O vídeo reacendeu em alguns fóruns da internet a perspectiva filosófica do antinatalismo. Mas afinal, o que é isso? Essa filosofia estaria correta para este caso?

Antinatalismo e niilismo: o que leva alguém a falar que não queria nascer?
O caso do tiktoker estaria mais relacionado a “solidão existencial” (Foto: Pexels)

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Sustentada por pensadores como David Benatar, o antinatalismo é a crença de que trazer filhos ao mundo seria moralmente errado. Os antinatalistas argumentam que a vida é cheia de sofrimento, e questões como superpopulação e impacto ambiental tornariam injusto trazer uma nova vida ao mundo sem o seu consentimento.

A professora de Psicologia da Universidade Positivo, Janete Knapik, explica que as razões para alguém afirmar que não queria ter nascido são múltiplas e complexas. Ela acredita que o caso de Azteca não esteja ligado ao antinatalismo, mesmo que semelhante.

“O desejo de não ter filhos está muito relacionado às preocupações, com o sofrimento humano. Enquanto o que leva uma pessoa a não querer viver ou ter nascido está migado mais ao sentido da vida, esperanças e propósitos”, diz Knapik. A profissional acredita que a fala do tiktoker poderia estar mais relacionada ao niilismo, doutrina filosófica pessimista em relação ao valor e propósito da vida e da existência. 

Ela afirma que a sensação de “solidão existencial”, questões de saúde mental, como depressão e ansiedade, e desesperança, são fatores que podem levar a tais declarações. Além disso, cita não existir um termo específico na psicologia para abranger todas essas causas, pois são variadas e requerem avaliação detalhada.

Knapik destaca que a inatividade e a falta de propósito são prejudiciais para a saúde mental dos jovens. Sem um objetivo claro, uma pessoa pode perder a motivação e resiliência necessárias para enfrentar os desafios da vida. Encontrar um sentido para a vida e ter objetivos é fundamental para desenvolver recursos psicológicos e conquistar o que se deseja.

A recusa ao mercado de trabalho entre jovens é um fenômeno com vários ângulos. Jovens “nem-nem” (que não estudam nem trabalham) podem sofrer de baixa autoestima, depressão e ansiedade, que são causas e consequências de sua inatividade. 

O psicólogo e psicanalista, Ederson Frazon, destaca que em determinadas formas de criação, a criança chega em um estágio de culpabilização do outro pelo estar vivo ao enfrentar situações mais difíceis, como o trabalho. Ele afirma que por mais que seja um sofrimento estar nesse lugar, existe um ganho, pois fazer nada seria um prazer para a pessoa.

Frazon menciona a logoterapia, desenvolvida por Viktor Frankl, que enfatiza a importância de encontrar um sentido para a vida. Ele argumenta que a falta de necessidade de trabalhar pode estar ligada a um “ganho secundário”, onde o indivíduo é sustentado por outros desde a infância e não desenvolveu a capacidade de se responsabilizar por suas próprias ações e existência.

A professora observa que a inatividade tem consequências graves não apenas para os indivíduos, mas para a sociedade como um todo. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) destaca que jovens inativos enfrentam maiores dificuldades em adquirir habilidades e experiências necessárias para o mercado de trabalho, resultando em menores ganhos ao longo da vida e menor contribuição ao PIB. A falta de atividades estruturadas e objetivos também pode levar ao isolamento social e piora da saúde mental.

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