Calheiros aponta oito contradições de Osmar Terra; deputado diz ter tido opiniões otimistas

por Caroline Maltaca
com informações da Reuters e da Agência Brasil
Publicado em 22 jun 2021, às 17h52. Atualizado às 18h05.

Após o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), parlamentar ligado ao presidente Jair Bolsonaro, admitir ter errado em suas projeções sobre número de mortes no país durante a pandemia do novo coronavírus e afirmar que tais manifestações eram “opiniões pessoais”, o relator da CPI da Covid do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), apontou oito contradições no depoimento do político. 

Em documento feito por sua equipe técnica, Renan citou que Terra defendeu que o Brasil seguisse, por exemplo, o modelo da Suécia no enfrentamento da Covid-19. O país escandinavo, que flexibilizou medidas de distanciamento social, foi alvo de críticas e teve alto índice de contaminação em comparação com seus vizinhos.

“Na Suécia, os números de casos e mortes dispararam sem distanciamento social”, destacou o relator da CPI, na síntese do depoimento.

Terra depôs como convidado à comissão e não quis se comprometer em prestar juramento para falar a verdade.

Contradições

Em diversas oportunidades, Osmar Terra defendeu medidas e medicações que, sem comprovação científica, teriam contribuído, segundo os senadores, para a piora da situação pandêmica em que o país se encontra. Em algumas oportunidades, Terra afirmou que a pandemia se dissiparia rapidamente e com um pequeno número de mortos.

Em outras situações, tanto via redes sociais como em entrevistas, Terra defendeu a chamada “imunidade de rebanho” e fez críticas ao distanciamento social. Vários desses vídeos foram apresentados pelos senadores durante a audiência de hoje.

“Se isolamento funcionasse não morria ninguém em asilo. E a maior parte das mortes foi em asilo. As pessoas estão se contaminando em casa”,

disse Terra.

Numa tentativa de minimizar as suas declarações, ele admitiu aos senadores que subestimou o impacto da pandemia. Médico e um dos conselheiros de Bolsonaro, Terra chegou a afirmar que iriam morrer apenas 2 mil pessoas por Covid no Brasil, contudo, o país já ultrapassou a marca de 500 mil óbitos.

“Aglomeração em ambiente fechado: esse sim é o grande contágio, e ele acontece em todas as casas. As pessoas andam sem máscara em casa. Não que eu defenda que se use máscara em casa, mas em situação especial tem de usar”,

complementou Terra, durante a fala.

O deputado disse ainda que as mudanças nas projeções teriam ocorrido em razão do surgimento das variantes de Covid. Mas mesmo assim, ele insistiu na tese de que o distanciamento social não ajudou a evitar o contágio e as mortes pela doença, culpando os governadores e prefeitos pela prática.

“O senhor acredite se quiser: a primeira vez que eu ouvi a palavra quarentena vertical foi do presidente. Eu nunca falei isso. Nunca vi e nunca… Ele cunhou este termo: quarentena vertical. É da cabeça dele! Ele tem uma visão em que nós coincidimos em alguns pontos – em muitos pontos, aliás – sobre que quarentena e lockdown não funcionam; que destruir a economia do país para salvar vidas não salvou. Não salvou! Não salvou nenhuma vida!”,

afirmou o bolsonarista.

Paralelo

O deputado negou que integrasse o chamado gabinete paralelo, grupo de pessoas que sugeririam a Bolsonaro a adoção de medidas no enfrentamento à pandemia apartadas das decisões do Ministério da Saúde. Chamou isso de “ficção”, embora tenha admitido ter se reunido com pessoas apontadas pela CPI como suspeitas de participar do grupo.

Terra também negou à CPI ter sido favorável a adoção da imunidade de rebanho, tese segundo a qual o contágio indiscriminado pela doença numa sociedade reduz a força da pandemia. O deputado negou defender essa tese, mesmo confrontado com vídeos e falas dele em defesa da medida.

“Normalmente as CPIs são criadas para investigar corrupção. Nesse caso, é devido à minha opinião”, disse Terra ao reiterar que a pandemia está “sendo comandada pelo medo e não pela ciência”, e que suas afirmações foram feitas em uma época em que pouco se sabia sobre a doença. “Foram conclusões pessoais. Os dados que tínhamos na época me permitiram ser mais otimista”,

argumentou.

No fim da tarde, o Deputado procurou fazer no depoimento à CPI, uma defesa enfática da compra das vacinas, embora tenha feito em um passado recente ressalvas à aquisição de imunizantes.