Cidade Alerta Londrina estreia série sobre suicídio
Nesta segunda-feira (25), o Cidade Alerta Londrina, do norte do Paraná, estreia uma série sobre suicídio. Ao todo, serão três episódios que contarão a história de três pessoas que já pensaram em tirar a própria vida, canais de ajuda existentes, assim como possíveis sinais depressivos e a importância de olhar para o tema sem tratá-lo como “tabu” ou “frescura”.
“O estigma com relação a saúde mental, com relação à depressão, ao consumo de substâncias e aquela pessoa que tenta suicídio ou pensa em suicídio é extremamente grande no nosso país, ainda. Essa é uma barreira que a gente já pensou ter vencido mas, infelizmente, ela segue muito presente. Acho que um olhar sem julgamento, de empatia, é capaz de salvar vidas.”
destaca a psiquiatra Alessandra Diehl.
Depressão e suicídio
Não enxergar mais sentido na vida e perder a vontade de vivê-la, tristeza profunda e até algumas dores físicas podem ser sintomas de depressão. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença atinge cerca de 12 milhões de pessoas em todo o mundo.
A depressão vem se alastrando como uma epidemia, em especial, durante os últimos anos, com a pandemia da Covid-19. Em um cenário de perdas, luto, desemprego, isolamento e solidão, quatro em cada 10 pessoas afirmaram terem sofrido com quadros depressivos ou de ansiedade desde 2020.
“A saúde mental, segundo a OMS, não é, necessariamente, a ausência de doença, mas é um completo bem-estar, físico, mental, psicológico, porque isso vai influenciar diretamente na vida da pessoa, nos sentimentos delas, na sua autoestima e na forma que ela vai lidar com as situações na vida dela […] O isolamento, a falta de interação, o abuso de substâncias, alcoolismo, drogas, relacionamentos falidos: tudo isso são sinais que podem demonstrar a ausência de saúde mental.”
comenta a psicóloga Marciana Brizola.
A junção de diversos fatores relacionados à depressão pode desencadear pensamentos suicidas. Conforme a OMS, a cada 40 segundos, uma pessoa ao redor do mundo comete suicídio. E, a cada 20, uma pessoa tenta mas não consegue.
“É importante a gente entender que suicídio é uma questão de saúde pública, tem uma relevância imensa e um impacto na saúde de muitas pessoas no mundo, então os números são avasaladores, e existem várias causas para que a pessoa possa chegar a pensar em se matar e, de fato, concretizar esse ato que é de retirar a sua vida.”
explica a psiquiatra.
Londrina
Em Londrina, o aumento dos casos de suicídio dos anos de 2020 para 2021 é de 25%, de acordo com o dados da Polícia Civil (PC). Na maior parte deles, as vítimas são jovens do sexo masculino.
“Eu tenho profundo respeito pelas famílias enlutadas. É um tema delicado mas nós temos que abordar. Dessas dezenas de suicídios que nós tivemos, nós observamos que 82% são homens e 18% são mulheres. Se você observar pela questão cultural e social, os homens têm mais dificuldade de procurar ajuda, de se abrir e de falar da sua depressão. A faixa mais delicada que nós temos de idade são 50 anos porque 58% dos suicídios estão nessa faixa.”
explica o delegado João Reis.
Dados do Corpo de Bombeiros reforçam a realidade preocupante que é o suicídio. De 2019 para 2021, os atendimentos de tentativas de suicídio na cidade mais que dobraram. Só no ano passado (2021), foram mais de 100 atendimentos.
“Depressão não é frescura, como alguns acham, depressão é sério. A pessoa precisa procurar ajuda. Se os familiares tiverem alguém com depressão precisam procurar um apoio do CAPS, um psicólogo e um psiquiatra. Eu entendo que a família é essencial mas só ela não vai conseguir lidar. É preciso não só o apoio da família mas um apoio especializado para essa família que está com depressão.”
complementa o delegado.
“Minha vida era chorar”
Em entrevista a equipe da RICtv, uma mulher, que preferiu não se identificar, contou que teve depressão após ser traída e largada pelo marido: “Há três anos, eu fui abandonada pelo pai dos meus filhos e, para mim, o mundo tinha acabado naquele momento […] cheguei a pesar 42 quilos, não comia e não dormia. Minha vida era chorar, chorar e chorar”.
“Hoje, parece que falar de tristeza, nas redes sociais, principalmente, é totalmente off, é proibido você estar triste. Nós precisamos pensar que sociedade é essa onde é criado um buraco que uma pessoa de 20 anos acha que não tem mais nada para viver, e ela tenta tirar – ou tirar – sua própria vida. Acredito que nós precisamos rever os nossos conceitos e a nossa forma de comunicar às pessoas o que é ter uma vida normal, o que é ser uma vida normal.”
conclui a psicóloga.
Próximos episódios
Nos próximos dois episódios, a série irá contar a história de um jovem, de 27 anos, que começou a usar drogas e beber ainda na adolescência. Ele procurou ajuda no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Álcool e Drogas, há três anos. Foi quando sua vida mudou. Já no terceiro e último episódio, a série vai falar sobre Evandro Santos, um humorista que conviveu com a depressão, o vício em drogas e já tentou tirar a própria vida, em 2018, pouco antes de entrar para o reality “A Fazenda”.