Pandemia do coronavírus cancela maior feira de ciências do Brasil

Publicado em 20 mar 2020, às 00h00.

Promovida pela Universidade de São Paulo (USP), a 18ª edição da Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia 2020) foi cancelada pela primeira vez em 18 anos e os trabalhos serão julgados a distância. Entre os finalistas da maior feira científica pré-universitária do Brasil estão dois projetos paranaenses.

A democratização do acesso ao absorvente por mulheres de baixa renda e a substituição de agrotóxicos por composto orgânico são os trabalhos que serão apresentados e julgados de forma on-line entre os dias 23 de março e 3 de abril.

O evento é considerado um “vestibular das feiras científicas pré-universitárias”, segundo explica a coordenadora de Pesquisa Científica e Empreendedorismo do Colégio Positivo, Irinéia Inês Scota. Para a 18ª edição da feira, 66 mil estudantes desenvolveram trabalhos de pesquisa científica e tecnológica, que foram submetidos diretamente ou se destacaram em uma das 123 feiras regionais promovidas pelas instituições afiliadas.

Toda a crescente agenda de eventos valorizando a produção científica pré-universitária demonstra o impacto positivo de oportunizar o contato com a pesquisa aos estudantes desde os primeiros anos do ensino, a fim de criar um ambiente favorável à inovação.

“Quem participa e toma gosto pela pesquisa no Ensino Básico se empodera, rompe os limites da sala de aula para interferir no mundo. Aprende muito cedo a lidar com dados, a trabalhar com metodologia, a analisar resultados e a persistir com o estudo quando algo dá errado até chegar a uma conclusão. Isso muda a mentalidade e faz toda diferença na vida”, defende a coordenadora.

Distribuição de itens para saúde íntima via unidades de saúde e presídios

Os três anos de Ensino Médio no Colégio Positivo Internacional serviram para que o estudante João Henrique Hofmeister, hoje calouro do curso de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, aprimorasse seu projeto. Ele foca na distribuição de itens para a saúde íntima feminina nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e de presídios femininos no município de Curitiba.

A pesquisa na área de Ciências Sociais, segundo ele, veio do interesse por olhar para todos os lados da sociedade.

“Lembro bem de ver a propaganda do governo durante o carnaval sobre distribuição gratuita de preservativos e foi aí que surgiu a ideia de desenvolver o projeto, inspirado nessa distribuição já existente”, afirma.

Ele conta que, ao pesquisar sobre o tema, se deparou com o fato de as pessoas nunca terem cogitado esse tipo de distribuição. “Diversas pessoas nem sequer imaginam como é a situação vivida pela mulher que não tem condições de bancar itens básicos de higiene. Meninas em idade escolar perdem dias de aula por conta disso. E as improvisações geram diversas infecções e doenças que custam mais caro aos governos do que distribuir o absorvente”, explica. Tais dados ele comprovou na pesquisa, com a orientação do professor Eduardo Berkenbrock Lopes.

Também foi na insistência de melhorar o projeto que João chegou ao modelo de absorvente reutilizável para a viabilidade financeira da sua solução.

“Hoje em dia, no mercado, está na faixa dos R$ 30 reais, porém, como pode ser usado por até 5 anos, torna o produto bem mais barato do que os descartáveis”, explica.

A implementação da produção desses absorventes nos presídios também passa pelos caminhos apontados na pesquisa de João. Para ele, chegar à Febrace pode servir como meio de “abrir portas para uma mudança de pensamento da população sobre esse tema e também uma mudança na atual política social adotada pelo governo brasileiro”.

AgroAtóxico

As estudantes Sarah Bernard Guttman e Luiza Fontes Bonardi começaram em 2018, quando estavam no 9º ano do Ensino Fundamental, a pesquisa de um produto orgânico que fosse capaz de substituir os agrotóxicos.

“Nossa motivação veio de um cartaz alertando para o fato do Brasil ser o país que mais consome agrotóxicos no mundo. Na hora, veio a ideia de fazer algo para mudar isso”, recorda Sarah, hoje estudante do 2º ano do Ensino Médio.

Dentre as preocupações das estudantes envolvendo o meio ambiente e a saúde, elas também levaram em conta o prejuízo para os agricultores que têm contato direto com todos os pesticidas.

Até chegar ao AgroAtóxico, a orientadora Suellyn Homan conta que houve uma série de pesquisas com plantas medicinais que desempenhassem o mesmo papel de um agrotóxico. “Para nossa surpresa, nos testes iniciais, o produto foi tão bom que estimulou o crescimento das plantas. Mas decidimos mudar a formulação, pois utilizamos própolis, um ingrediente que acabava encarecendo o produto”, revela.

Segundo Sarah, o AgroAtóxico consegue suprir o uso de agrotóxicos em pequenas e médias propriedades, mas ainda falta testar em larga escala. “Com os resultados que temos hoje, indicamos para pequenas plantações e hortas caseiras”, detalha. O objetivo da equipe é patentear a fórmula para entregar a solução para cooperativas e agricultores familiares. “Queremos distribuir esse conhecimento. Apresentar o projeto na Febrace vai ajudar a conseguir uma bolsa para darmos continuidade à pesquisa”, revela Sarah.

Mais informações no site febrace.org.br.