Curitibana retira 30 kg de tumor durante cirurgia não convencional
A curitibana Karina Rodini está no seu melhor momento. A jovem passou por uma cirurgia considerada delicada e não convencional para a retirada de um tumor de 35kg das pernas. Ela vive desde os dois anos de idade com um diagnóstico raro, doloroso e vitalício: a neurofibromatose tipo 1 (NFT 1), doença genética que afeta a pele e o sistema neurológico, causando manchas, nódulos e tumores de tamanhos variados.
A cirurgia foi realizada no Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba, pelo cirurgião americano McKay McKinnon. O processo durou 11 horas e o especialista retirou 30kg do tumor que deixava a Karina com pouca mobilidade e a obrigava comprar roupas sob medida.
Apesar da delicadeza, a cirurgia correu super bem. O processo é considerado raro porque é necessário chegar o mais próximo possível da “raiz” do tumor, o que é difícil por ser uma área muito vascularizada.
A cirurgia demandou um centro cirúrgico com uma boa tecnologia e uma equipe formada pelos mais diversos profissionais, grande parte do corpo clínico do Hospital Marcelino Champagnat.
“Além dos equipamentos de ponta, cirurgias como essa são sempre um desafio em relação à anestesia, principalmente pelo longo tempo de duração, que aumenta os riscos de complicações pelo comprometimento das funções de alguns órgãos considerados essenciais. Acredito que o controle do sangramento e a reposição dos componentes sanguíneos foram essenciais para o resultado positivo obtido. Isso junto ao bom funcionamento do rim e à manutenção da temperatura corpórea”,
explica o anestesista Clóvis Corso
O procedimento contou com cirurgião plástico, geneticista, dermatologista, cardiologista, ortopedista e oftalmologista.
McKay atua desde 1985 como cirurgião plástico em Chicago, mas já viajou o mundo, em países como Vietnã, atuando com equipes diferentes em novos procedimentos de tratamento de doenças raras.
“Eu tento gerar uma determinação sobre o potencial da equipe antes de iniciar a cirurgia. Em geral, esse tipo de cirurgia é muito difícil e precisamos ter uma comunicação precisa. E, quando não falamos a mesma língua, é fundamental esse esforço porque o retorno do investimento em ajudar essas pessoas é bem grande, por isso não importa se é difícil. No caso da Karina, ela é jovem, relativamente saudável e, mesmo que tenha o tumor, tem uma grande chance de ter uma vida normal”,
ressalta McKay.
Diagnóstico
Quando criança, Karina apresentava umas manchinhas pelo corpo que costumava chamar de “café com leite” e a família se preocupava com elas.
“Quando eu era criança, as manchas começaram a ficar elevadas, mas o médico dizia que não podia fazer nada. Na adolescência, a situação se agravou. Com 12 anos fiz uma cirurgia para retirada de um cisto de oito quilos no ovário. Aos 15, as manchas voltaram a ficar maiores”,
relatou a jovem.
Ela chegou a fazer dez cirurgias de grande porte e várias pequenas entre os anos de 2012 e 2018. Em 2019, Karina começou uma “vaquinha virtual” para conseguir financiar viagens em busca de tratamento. Com pesquisas pela internet, descobriu o médico norte-americano Mckay McKinnon, especialista na retirada de grandes tumores.
“A minha esperança pela cirurgia sempre foi maior do que qualquer medo. A necessidade de voltar a ter qualidade de vida me fez fazer vaquinhas, expor meu problema nas redes sociais e, graças a muitas pessoas, eu consegui”,
conta a Curitiba.
No último ano, Karina passou por tratamentos com remédios via oral, mas quando conheceu o cirurgião plástico Alfredo Duarte que passou a ter mais esperança de melhora. Ele é responsável pelo caso de Karina atualmente e quem passou a fazer todos os contatos com o médico norte-americano para acertar os detalhes técnicos da cirurgia.
“Dr. McKay tem experiência na retirada desse tipo de tumor que envolve muitos tecidos, em uma área muito vascularizada. É a primeira vez que se realiza uma cirurgia desse porte no Brasil; na literatura, encontramos muitas linhas contrárias pelo risco ao paciente. Mas conseguimos retirar 80% do tumor em volta da raiz, na medula espinhal, e a experiência americana indica que nessa área não irá nascer outro tumor. Foi um grande aprendizado”,
conta Alfredo Duarte.