"Ele amava isso aqui de coração": filho larga tudo para viver sonho do pai, que faleceu por covid-19

Publicado em 19 mar 2021, às 11h54.

“Um cara com um coração gigante”. Foi assim que Helton Luiz Siqueira de Oliveira, de 38 anos, descreveu o pai, José Gilson de Oliveira, de 62 anos, que faleceu em decorrência de complicações da covid-19 no início deste mês. Para tentar amenizar a dor do luto, Helton e os dois irmãos decidiram abrir mão de suas carreiras para viver o sonho do pai: manter a fazenda que comprou após 40 anos trabalhando como mecânico e eletricista. 

“O sonho dele sempre foi ter uma fazendinha, cuidar de bicho, ele produzia o próprio alimento aqui”, contou Helton, emocionado. “Ele amava isso aqui de coração, a paixão dele era esses bichos”. 

Disse Helton.
José na formatura da faculdade (Foto: Arquivo pessoal)

Para manter o sonho do pai, Helton, que morava em Curitiba, no Paraná, e trabalhava como design gráfico do Grupo RIC há cerca de três anos, decidiu deixar a profissão de lado para tocar o sítio. Mesmo sem saber nada sobre criação de animais ou como cuidar de uma fazenda, o jovem tomou coragem e escolheu mudar de Estado e de carreira para manter viva a memória do seu José. Agora, Helton vive na cidade de Extrema, no Sul de Minas Gerais, aprendendo todos os dias as melhores formas de “viver na roça”.

Helton e os irmãos ainda pretendem profissionalizar a criação de frangos caipiras na fazenda nos próximos 10 anos e transformar o nome do pai em uma marca que, com certeza, vai contar com o carinho daqueles que conheciam José. “Todo mundo que conheceu meu pai falava bem dele, ele era um cara muito direito. Depois que ele faleceu várias pessoas disseram que são muito gratas por tudo o que ele ensinou, a gente até se emociona”, contou o filho.  

Helton com a família (Foto: Arquivo pessoal)

Covid-19 

José era um homem muito forte e não se deixava abalar. Foi por isso que continuou trabalhando no sítio, fazendo o que amava, mesmo com o aparecimento dos primeiros sintomas da covid-19. Foi somente quando sentiu falta de ar que decidiu procurar atendimento em um hospital e teve o diagnóstico positivo para o novo coronavírus. “Foi muito rápido, ele não aceitava qualquer doença. Mesmo sentindo febre e dor, ele continuou trabalhando. Meu pai faleceu uma semana depois de ser internado”, descreveu o filho. 

“Ele foi uma das melhores pessoas que eu conheci, além de ser um excelente pai, ele era um homem bom. A sensação que a gente tem é que além de perder o nosso pai a gente perdeu um grande amigo”.

Desabafou Helton. 

Vaquinha online 

Mesmo tendo que lidar com a falta do pai, Helton ainda procura saídas para pagar cerca de R$ 50 mil do inventário dos bens de José. O filho tenta agora vender um carro do pai para arrecadar o dinheiro, já que um empréstimo traria juros muito altos, que ele não poderia quitar. Com a demora para conseguir comercializar o automóvel, a ideia surgiu: abrir uma vaquinha online. 

Com a vaquinha “Herdei um sítio e vou perder tudo por causa do inventário”, Helton tenta sensibilizar as pessoas com muito bom humor e arrecadar o dinheiro para manter o sonho do pai. “Este sítio foi o sonho do meu pai, que trabalhou a vida inteira para conseguir e desfrutou apenas 1 ano. Não quero deixar o sonho dele morrer. Estou me batendo um monte para aprender e mexer com roça e me esforçando bastante, mas sem esse dinheiro tudo pode ir por água abaixo”, diz o texto do link da vaquinha. 

Para ajudar, é só clicar aqui e fazer uma contribuição de qualquer valor.