Fiocruz afirma que festas de fim de ano podem agravar pandemia no Brasil

por Renata Nicolli Nasrala
com informações da Agência Brasil
Publicado em 10 dez 2020, às 13h10.

De acordo com um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o aumento do número de casos e internações por covid-19 em vários estados está encontrando um sistema de saúde menos preparado para atender à demanda por leitos de enfermarias e unidades de terapia intensiva (UTIs), e por isso existe a possibilidade de colapso do atendimento aos novos casos das próximas semanas, principalmente no que diz respeito as festas de fim de ano e férias.

“A circulação das pessoas no período de festas de fim de ano e férias deve acelerar a disseminação do vírus, que já circula com bastante velocidade e volta a ocupar os leitos hospitalares. A movimentação das pessoas tende a aumentar a necessidade de atendimento por outros agravos de saúde como os acidentes de trânsito, por exemplo”, diz a instituição.

Festas de fim de ano podem agravar pandemia no Brasil: movimentação de pessoas preocupa estudiosos

A nota técnica O fim do ciclo de interiorização, a sincronização da epidemia e as dificuldades de atendimento nos hospitais, desenvolvida pela equipe de pesquisa do Monitora Covid-19, destaca que no fim do ano a maior movimentação de pessoas “sem cuidados devidamente adequados e sem manutenção do isolamento social”, agravará um quadro composto por:

  • desmobilização de leitos extras dos hospitais de campanha;
  • ocupação de leitos por outros problemas de saúde que ficaram represados durante o avanço da epidemia de covid-19;
  • maior circulação de pessoas;
  • dificuldades de identificação de casos e seus contatos devido à baixa testagem;
  • relaxamento dos cuidados de distanciamento social, uso de máscaras e higiene

De acordo com Diego Xavier, epidemiologista do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz) e um dos autores do estudo, no início da epidemia no Brasil houve uma demanda grande nas regiões metropolitanas, e só depois veio a interiorização da doença, num momento em que a incidência da covid-19 já apresentava sinais de estabilidade nas cidades maiores.

“Agora, a covid-19 está fortemente presente tanto nas regiões metropolitanas quanto nas cidades do interior. E a epidemia está sincronizada, não começa mais nas metrópoles para depois ir para o interior. Um novo aumento dos casos pressionará a capacidade do atendimento à saúde das regiões metropolitanas, reduzindo também seus recursos para atender a pacientes vindos do interior. Na maioria dos lugares, a assistência à saúde deverá ser incapaz de atender à demanda”, disse o pesquisador.

Segundo a nota técnica, as regiões metropolitanas (RMs) compreendem apenas 177 do total de 5.570 municípios do Brasil. Porém, sua população total é de cerca de 70 milhões de habitantes, representando 33% da população nacional.

Até o final de maio, cerca de 67% dos óbitos por covid-19 no país foram registrados nas regiões metropolitanas.

Com a interiorização da doença, no último dia de outubro essa proporção se inverteu. “As RMs passaram a representar somente 33% do total de óbitos registrados no país, demonstrando o que pode ser considerado como o fim do processo de interiorização”, diz o estudo.

Mortes fora das UTIs

De acordo com a Fiocruz, um importante indicador da falta de assistência de saúde está nos números de mortos fora das UTIs.

Segundo a nota técnica, a “falta de UTI foi ainda mais expressiva nos municípios do interior, sobretudo pela dificuldade de acesso e as longas distâncias que devem ser percorridas em busca de atendimento”.

Segundo dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SivepGripe), no interior, o total de mortos fora das UTIs é proporcionalmente maior do que nas regiões metropolitanas em quase todo o país, sendo a única exceção a região Sul, o que indica que a desassistência aos doentes por covid-19 é mais significativa nas cidades menores.

Em nível nacional, 36% morreram de covid-19 fora das UTIs no interior, contra 31% nas regiões metropolitanas. Há também os registros sem informação sobre o local da morte (9% no interior e 13% nas regiões metropolitanas), que podem elevar esses números. 

Os estados que registraram maiores índices de mortes no interior fora da UTI são:

  • Amapá (82%)
  • Roraima (73%)
  • Amazonas (66%)
  • Pará (59%)
  • Sergipe (58%)
  • Tocantins (50%)
  • Acre (46%)
  • Ceará (45%)

Já nas regiões metropolitanas, os estados que tiveram mais óbitos fora da UTI foram:

  • Roraima (63%)
  • Sergipe (53%)
  • Amazonas (47%)
  • Rio Grande do Norte  (42%)
  • Minas Gerais (38%)
  • São Paulo (36%)
  • Distrito Federal (35%)
  • Ceará (38%)