Fiocruz afirma que festas de fim de ano podem agravar pandemia no Brasil
De acordo com um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o aumento do número de casos e internações por covid-19 em vários estados está encontrando um sistema de saúde menos preparado para atender à demanda por leitos de enfermarias e unidades de terapia intensiva (UTIs), e por isso existe a possibilidade de colapso do atendimento aos novos casos das próximas semanas, principalmente no que diz respeito as festas de fim de ano e férias.
“A circulação das pessoas no período de festas de fim de ano e férias deve acelerar a disseminação do vírus, que já circula com bastante velocidade e volta a ocupar os leitos hospitalares. A movimentação das pessoas tende a aumentar a necessidade de atendimento por outros agravos de saúde como os acidentes de trânsito, por exemplo”, diz a instituição.
Festas de fim de ano podem agravar pandemia no Brasil: movimentação de pessoas preocupa estudiosos
A nota técnica O fim do ciclo de interiorização, a sincronização da epidemia e as dificuldades de atendimento nos hospitais, desenvolvida pela equipe de pesquisa do Monitora Covid-19, destaca que no fim do ano a maior movimentação de pessoas “sem cuidados devidamente adequados e sem manutenção do isolamento social”, agravará um quadro composto por:
- desmobilização de leitos extras dos hospitais de campanha;
- ocupação de leitos por outros problemas de saúde que ficaram represados durante o avanço da epidemia de covid-19;
- maior circulação de pessoas;
- dificuldades de identificação de casos e seus contatos devido à baixa testagem;
- relaxamento dos cuidados de distanciamento social, uso de máscaras e higiene
De acordo com Diego Xavier, epidemiologista do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz) e um dos autores do estudo, no início da epidemia no Brasil houve uma demanda grande nas regiões metropolitanas, e só depois veio a interiorização da doença, num momento em que a incidência da covid-19 já apresentava sinais de estabilidade nas cidades maiores.
“Agora, a covid-19 está fortemente presente tanto nas regiões metropolitanas quanto nas cidades do interior. E a epidemia está sincronizada, não começa mais nas metrópoles para depois ir para o interior. Um novo aumento dos casos pressionará a capacidade do atendimento à saúde das regiões metropolitanas, reduzindo também seus recursos para atender a pacientes vindos do interior. Na maioria dos lugares, a assistência à saúde deverá ser incapaz de atender à demanda”, disse o pesquisador.
Segundo a nota técnica, as regiões metropolitanas (RMs) compreendem apenas 177 do total de 5.570 municípios do Brasil. Porém, sua população total é de cerca de 70 milhões de habitantes, representando 33% da população nacional.
Até o final de maio, cerca de 67% dos óbitos por covid-19 no país foram registrados nas regiões metropolitanas.
Com a interiorização da doença, no último dia de outubro essa proporção se inverteu. “As RMs passaram a representar somente 33% do total de óbitos registrados no país, demonstrando o que pode ser considerado como o fim do processo de interiorização”, diz o estudo.
Mortes fora das UTIs
De acordo com a Fiocruz, um importante indicador da falta de assistência de saúde está nos números de mortos fora das UTIs.
Segundo a nota técnica, a “falta de UTI foi ainda mais expressiva nos municípios do interior, sobretudo pela dificuldade de acesso e as longas distâncias que devem ser percorridas em busca de atendimento”.
Segundo dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SivepGripe), no interior, o total de mortos fora das UTIs é proporcionalmente maior do que nas regiões metropolitanas em quase todo o país, sendo a única exceção a região Sul, o que indica que a desassistência aos doentes por covid-19 é mais significativa nas cidades menores.
Em nível nacional, 36% morreram de covid-19 fora das UTIs no interior, contra 31% nas regiões metropolitanas. Há também os registros sem informação sobre o local da morte (9% no interior e 13% nas regiões metropolitanas), que podem elevar esses números.
Os estados que registraram maiores índices de mortes no interior fora da UTI são:
- Amapá (82%)
- Roraima (73%)
- Amazonas (66%)
- Pará (59%)
- Sergipe (58%)
- Tocantins (50%)
- Acre (46%)
- Ceará (45%)
Já nas regiões metropolitanas, os estados que tiveram mais óbitos fora da UTI foram:
- Roraima (63%)
- Sergipe (53%)
- Amazonas (47%)
- Rio Grande do Norte (42%)
- Minas Gerais (38%)
- São Paulo (36%)
- Distrito Federal (35%)
- Ceará (38%)