Conheça a cloroquina, um dos motivos da saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde

por Gabriel Azevedo
com informações de agências
Publicado em 15 maio 2020, às 00h00.

Um dos principais pontos de discórdia entre o presidente Jair Bolsonaro e o agora ex-ministro da Saúde Nelson Teich foi a visão sobre a aplicação da cloroquina a pacientes infectados pelo novo coronavírus.

Bolsonaro defende o uso da cloroquina para coronavírus, que ainda não possui comprovação de eficácia contra a Covid-19.

“O protocolo deve ser mudado hoje porque o Conselho Federal de Medicina diz que pode usar desde o começo. Então, é direito do paciente”, disse o presidente nesta sexta-feira (15).

A orientação do Conselho Federal de Medicina (CFM), no entanto, condiciona o uso da substância cloroquina ao consentimento do paciente, e a critério médico.

Na quarta-feira (13), o oncologista Nelson Teich, ainda ministro da pasta, afirmou que a cloroquina ainda é uma incerteza.

“Você teve aqueles estudos iniciais que sugeriram benefícios, mas existem estudos hoje que falam o contrário”, disse.

Nos bastidores, antes de pedir demissão, Teich teria dito que não mancharia a trajetória como médico por causa do medicamento.

A polêmica não é nova. A substância também causou desgaste entre o presidente Bolsonaro e o então ministro Luiz Henrique Mandetta, que era contrário à liberação de cloroquina para coronavírus sem estudos mais sólidos.

O que é a cloroquina?

A substância cloroquina sintética foi desenvolvida em 1934 para o tratamento da malária. O medicamento tem efeito imunomodulador, que aumenta a resposta do sistema imunológico, ou de defesa do corpo, contra determinados micro-organismos.

Ao longo do tempo, a medicação teve seu uso ampliado, e passou a tratar também doenças reumáticas, como artrite reumatoide e lúpus. A droga faz parte da Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Cloroquina e o novo coronavírus

O presidente Jair Bolsonaro é um entusiasta do uso da cloroquina desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou a droga como uma possibilidade de tratamento da doença. Ainda em março, Bolsonaro determinou que os laboratórios do Exército ampliassem a produção da substância no país, mesmo sem comprovação clara de eficácia contra Covid-19.

A cloroquina ganhou destaque no início da pandemia da Covid-19 após alguns pequenos estudos iniciais indicarem que a droga teria um potencial para reduzir a infecção pelo novo coronavírus em células humanas cultivadas em laboratório.

No entanto, nas últimas semanas, pesquisas divulgadas nas principais publicações científicas do mundo mostraram que a cloroquina não é eficaz no combate ao coronavírus.

Estudos publicados no Journal of the American Medical Association (JAMA) e New England Journal of Medicine (NEJM) mostram que o uso da hidroxicloroquina associada, ou não, ao antibiótico azitromicina não apresentou diferenças significativas na taxa de mortalidade dos pacientes diagnosticados com Covid-19. Ou seja, pacientes com e sem o tratamento com a cloroquina apresentavam o mesmo risco de uma piora do quadro e de morte.

Cloroquina no Brasil

Ainda em março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes com quadros graves da Covid-19. Um mês depois, o Conselho Federal de Medicina (CFM) ampliou o uso para, inclusive, o período de início dos sintomas. No entanto, fez uma observação:

“NÃO É UMA RECOMENDAÇÃO. O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA NÃO RECOMENDA O USO DA HIDROXICLOROQUINA. O QUE NÓS ESTAMOS FAZENDO É DANDO AO MÉDICO BRASILEIRO O DIREITO DE, JUNTO COM O PACIENTE, EM DECISÃO COMPARTILHADA COM O PACIENTE, UTILIZAR ESSA DROGA. É UMA AUTORIZAÇÃO. MAS NÃO É RECOMENDAÇÃO, ISSO É MUITO IMPORTANTE FICAR BEM CLARO”.

De acordo com a OMS, não existe até o momento nenhum tratamento eficaz para a Covid-19 no mundo.