Pandemia provocada pelo coronavírus afetou tratamento de câncer

por Renata Nicolli Nasrala
com informações da Agência Brasil
Publicado em 20 jun 2020, às 09h30. Atualizado às 10h13.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Oncoguia entre os dias 29 de março e 10 de maio revelou que a pandemia provocada pelo coronavírus afetou pacientes que fazem tratamento contra o câncer.

Pandemia provocada pelo coronavírus afetou pacientes que fazem tratamento contra o câncer: veja os números

De acordo com eles, 43% dos 429 pacientes oncológicos que responderam ao questionário foram impactados pela pandemia, contra 55% dos entrevistados que disseram não ter sido prejudicados.

Entre os que declararam ter sido afetados pela crise sanitária, 15% afirmaram que seus tratamentos tinham sido adiados.

10% por cento relataram que não conseguiam agendar consultas e 6% que seus tratamentos haviam sido cancelados, sem previsão de retorno.

Os 12% restantes relataram diferentes efeitos da pandemia sobre suas rotinas.

Além disso, 43% dos pacientes afetados responderam que o adiamento ou a interrupção dos tratamentos ou procedimentos foi decidido por clínicas e hospitais, unilateralmente, por necessidade de priorizar o atendimento a pacientes infectados pelo novo coronavírus; incertezas quanto ao risco de propagação da covid-19; falta de profissionais de saúde ou outros fatores associados à pandemia.

Apenas 12% dos que responderam ao questionário disseram ter decidido por vontade própria interromper a rotina de cuidados médicos. Em geral, por medo do contágio da covid-19.

Em 3% dos casos a decisão foi compartilhada entre médico e paciente. 2% dos pesquisados não tinham uma justificativa e 10% apresentaram outras razões.

Seis em cada dez dos pacientes oncológicos que responderam ao questionário e que utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS) declararam que seu tratamento sofreu impacto, contra 33% dos usuários de hospitais particulares.

Analisadas por regiões, as respostas indicam que os entrevistados da região norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) foram mais impactados que a média (43%) nacional: 63% deles responderam que seus tratamentos foram sim afetados em razão do contexto.

Diagnósticos

A partir de um levantamento realizado junto a serviços especializados de todo o país, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e a Sociedade Brasileira de Patologia estimam que ao menos 70 mil pessoas com câncer deixaram de receber o diagnóstico da doença entre março e o fim de maio.

As duas entidades calculam que cerca de 70% das cirurgias oncológicas deixaram de ser realizadas nos primeiros três meses após a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretar a situação de pandemia.

Além disso, o número de biopsias realizadas chegou a cair 80% em comparação ao mesmo período de um ano antes.

Questionado, o Ministério da Saúde informou que o controle da Rede de Atenção às Pessoas com Câncer são de responsabilidade dos estados e municípios.

“Quanto ao impacto nos tratamentos desse grupo [pacientes oncológicos], o gestor tem quatro meses de prazo para lançar os dados de atendimentos nos Sistemas de Informação Hospitalar (SIH) e no Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), do Ministério”, acrescentou a pasta.

De acordo com a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), o número de exames gerais caiu cerca de 80% entre fevereiro e março.

No mesmo período, as clínicas de diagnóstico por imagem registraram uma redução de 70% na realização de exames.

Em meados de abril, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgou uma nota reafirmando que tratamentos contínuos não deveriam ser interrompidos sem orientação médica.

A recomendação da ANS se aplica não só a pessoas com doenças crônicas, mas também àquelas que necessitam de atendimentos associados ao pré-natal e pós-parto; revisões pós-operatórias; tratamentos psiquiátricos e outros “cuja não realização ou interrupção coloque em risco o paciente”.