Paraná vai receber 154 mil doses de hidroxicloroquina para tratamento de coronavírus

por Gabriel Azevedo
com informações de agências
Publicado em 13 abr 2020, às 00h00.

O Governo do Paraná vai receber uma doação de 154 mil doses de hidroxicloroquina genérica do grupo farmacêutico Novartis/Sandoz, que tem uma planta em Cambé, no Norte do Estado. O medicamento será entregue nos próximos dias.

O acordo foi firmado nesta segunda-feira (13) entre representantes da empresa e o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD).

De acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, o medicamento pode ser usado em pacientes com infecções graves do novo coronavírus (covid-19) e que precisam de internamento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Por ser uma doença nova, ainda não há evidências científicas suficientes que comprovem a eficácia para casos de coronavírus. No entanto, já há estudos que demonstram o benefício do uso.

Na videoconferência com diretores da empresa, o governador destacou a importância da disponibilidade do medicamento. Ele disse que o Estado tem acompanhado as pesquisas desenvolvidas em nível local e global sobre o tema. “Segundo os relatos dos médicos, é um medicamento que apresenta resultados positivos, em especial nos casos mais graves. Obviamente seguindo os cuidados necessários e a dosagem protocolar”, afirmou Ratinho Junior.

O secretário estadual da Saúde, Beto Preto, disse que o uso do medicamento no Paraná tem respeitado as orientações do Ministério da Saúde. A nota técnica do órgão, publicada no final de março, indica uso controlado nos casos urgentes. “Estamos entendendo nos protocolos das UTIs que todos estão utilizando a associação de hidroxicloroquina com azitromicina (antibiótico usado no tratamento de várias infeções bacterianas) no Estado”, acrescentou. “É uma doação importante”.

As 154 mil doses são parte da primeira doação da empresa. Ela prevê impactar 100% dos pacientes internados em estado grave no Paraná nos próximos dois meses em um cenário de 13 mil internações. A costura foi viabilizada pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), que é parceiro do grupo Novartis/Sandoz no Estado.

Hidroxicloroquina

Até a pandemia do coronavírus, a cloroquina e hidroxicloroquina eram conhecidas como medicamentos usados nos tratamentos de doenças como malária, lúpus e artrite reumatoide. Com o avanço da covid-19 e sem uma terapia comprovada cientificamente para combatê-la, médicos ao redor do mundo passaram a testar diversas drogas e associações entre elas, especialmente para os casos mais graves – e a cloroquina é uma delas.

Ao menos 65 estudos clínicos estão sendo realizados no mundo para investigar a eficácia da cloroquina e hidroxicloroquina contra a covid-19. Por enquanto, três foram finalizados, dois chineses e um francês, e os resultados são controversos. Mas, diante da falta de uma opção certeira e apesar de efeitos colaterais graves, como arritmia cardíaca e problema de visão, há médicos que vêm utilizando a droga, especialmente em pacientes em estado grave ou crítico.

Entidades médicas e de saúde tratam o tema com cautela. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que os possíveis benefícios de cloroquina apresentados nas pesquisas chinesas e francesa “precisam de confirmação por meio de estudos randomizados (quando os pacientes de cada grupo são escolhidos aleatoriamente)” e afirma estar “preocupada com relatos de indivíduos se automedicando com cloroquina e causando sérios danos a si próprios”.

A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) também ressaltam a falta de evidências e desaconselham o uso mais amplo. “Enquanto aguardamos a emergência de novos ensaios clínicos randomizados multicêntricos para avaliar os benefícios da contribuição de cloroquina / hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, esses medicamentos não devem ser prescritos de modo generalizado e indiscriminado nos casos leves e ambulatoriais da doença”, disse a ASBAI.

Já a SBI afirmou em comunicado considerar o tratamento como “terapia de salvamento experimental”, cujo uso deve ser “individualizado e avaliado pelo médico prescritor, avaliando seus possíveis efeitos colaterais e eventuais benefícios”.

O Ministério da Saúde vem embasando suas diretrizes na revisão da literatura científica realizada por um grupo de pesquisadores de instituições como os hospitais Sírio-Libanês e Oswaldo Cruz. É esse trabalho que afirma que 65 estudos estão em andamento e que 3 foram concluídos, com resultados controversos.

De acordo com os pesquisadores, são várias as limitações e falhas das pesquisas, como amostras pequenas de pacientes, falta de um grupo controle (pacientes que tomaram placebo) e ausência de metodologia duplo-cego, ou seja, quando nem pesquisadores nem pacientes sabem quais doentes estão recebendo o medicamento.

A principal polêmica, agora, é justamente a ampliação da autorização do uso do remédio para qualquer paciente com a infecção.

De acordo com os pesquisadores brasileiros que têm acompanhado os estudos sobre o tema, a falta de evidências científicas não significa que o remédio não possa ser usado em casos graves da doença, em que não há opção terapêutica, ou então dentro de protocolos de pesquisa experimentais, mas é preciso ter cautela.