Pesquisadores da UFPR avaliam efeitos positivos do lockdown em Curitiba

por Daniela Borsuk
com UFPR
Publicado em 28 mar 2021, às 12h17.

Curitiba completa nesta sexta-feira (26) duas semanas de lockdown devido à pandemia da covid-19. Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná e do Hospital de Clínicas avaliam os efeitos das medidas restritivas: redução da mobilidade das pessoas na capital, indícios de queda nos casos positivos, expectativa de redução da fila de espera para internamento e expectativa de pico seguido de queda nas mortes em decorrência da doença.

“Já há indícios de queda na positividade dos testes. Temos um pico aparente no número de casos, mas é ainda precoce para avaliar uma tendência mais consolidada. Os próximos indicadores seriam a fila de espera para internamento e já tivemos um pico também nesta fila. Chegamos a um valor bem alto em Curitiba e no Paraná e já entramos em tendência de queda, a ser confirmada a manutenção para as próximas semanas. Outro indicador é o número de internamentos e, por fim, o número de mortos, com pico esperado para ocorrer na próxima semana. Na sequência devemos entrar numa tendência de quedas”, avalia Bernardo Montesanti Machado de Almeida, infectologista do Serviço de Epidemiologia Hospitalar do Hospital de Clínicas da UFPR.

Lockdown

Nos dias 12 e 19 de março o prefeito de Curitiba publicou os decretos 565  e 600 com medidas restritivas mais rígidas na cidade.  Mas, apesar de terem ficado conhecidas como lockdown, tecnicamente as medidas são mais brandas.

“Lockdown subentende fechamento de fronteiras e restrição obrigatória da circulação de pessoas. Isso não aconteceu. O que houve foi um forte desestímulo à mobilidade, através de fechamento e restrição de horários de setores, de comércio e de varejo em geral”.

esclarece o infectologista.

Na avaliação do professor Emanuel Maltempi de Souza, professor titular do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR, “as medidas precisam ser mantidas por mais algumas semanas, até que o sistema de saúde tenha alguma folga.  Lembrando que ainda há fila para leitos Covid-19 e certamente pacientes devem estar morrendo nessa fila”.

Mobilidade

A análise do Google Mobility, por exemplo, mostrou uma redução drástica na mobilidade na capital já a partir das medidas restritivas decretadas pelo governo estadual. Depois de 12 de março, data do decreto número 565, os níveis caíram ainda mais e ficaram parecidos com os de março de 2020, o primeiro lockdown antes da primeira onda.

Dados do Google mobility para a cidade de Curitiba/PR:

Dados do Google mobility, individualizado pelos diferentes setores, a partir de 01/11 para a cidade de Curitiba/PR:

Positividade

A taxa de positividade para coronavírus atingiu o pico no dia 10 de março. Depois os números começaram a cair, conforme mostram os gráficos.

Abaixo, taxa de positividade diária e por semana epidemiológica pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP):

Internamentos

A fila de espera para internamento em Curitiba começou a cair, depois de atingir pico no dia 15 de março. No Paraná, a queda começou depois do pico do dia 16 de março.

Fila de demanda para internamento (enfermaria e UTI) em Curitiba/PR:

Fila de demanda para internamento no estado do Paraná:

Mortes

O pico de mortes por dia deve acontecer nos próximos dias e depois deve começar a queda. A projeção foi realizada pelo professor Roberto Tadeu Raittz, do Programa de Pós-Graduação em Bioinformática do Setor de Educação Profissional e Tecnológica (SEPT): “podemos fazer suposições baseadas nas análises e nos modelos de que dispomos e a respeito de algumas variáveis. Em um dos modelos que utilizamos, por exemplo, seriam necessárias mais uma ou duas semanas para começar a diminuir a média diária de óbitos no Paraná, uma vez mantidas as condições de agora”.

Gráfico de casos, óbitos com as projeções para os próximos dias:

Futuro

De acordo com os especialistas, com as quedas nos números de infectados e de mortos, o desafio passa a ser a manutenção da queda.

“Talvez seja o maior desafio. Ao enfrentar uma situação de crise e colapso do sistema de saúde é fácil convencer as pessoas a aderirem às medidas. Agora, quando está em queda e o sistema de saúde entra em um período mais tranquilo, começa o desafio de manter a sustentabilidade desta queda para evitar novas ondas”.

analisa Bernardo, médico infectologista.

É neste ponto que entram as medidas de prevenção, que devem ser seguidas rigorosamente pela população: uso de máscaras, evitar interações pessoais desnecessárias, manter distanciamento de 1,5 metro dos indivíduos, reduzir tempo de interação e evitar ao máximo a permanência em ambientes fechados, como mercados e estabelecimentos comerciais. Já o poder público deve massificar os testes na população e “usar os testes não apenas para diagnosticar, mas como instrumento de rastreamento populacional, com função epidemiológica”, explica.

“Felizmente, e finalmente, foram tomadas essas medidas que estão salvando vidas. Acho que precisamos explorar o momento e promover a tomada de consciência das pessoas que também devem fazer a parte delas. Por outro lado, não é hora de retroceder – tudo indica que o benefício será muito maior se as medidas forem mantidas”, defende o professor Roberto.