Prefeitura exige que hospitais particulares 'prestem contas' dos seus leitos COVID
A Prefeitura de Curitiba publicou um decreto, nesta quarta-feira (10), exigindo que os hospitais particulares da capital, sem vínculo com o SUS, informem à prefeitura seus planos de contingência para a COVID-19. Dentro deste plano, 50% dos leitos clínicos e cirúrgicos devem, obrigatoriamente, serem disponibilizados a pacientes suspeitos ou confirmados da doença.
Excluem-se do decreto da prefeitura os leitos de obstetrícia, oncologia, cardiologia, nefrologia, oftalmologia e traumatologia, no caso de procedimentos cirúrgicos essenciais.
A secretária municipal de saúde, Márcia Huçulak, quer ter o controle sobre a quantidade de leitos na rede privada, que deverão ser disponibilizados caso a prefeitura os solicite. Nesta semana, os hospitais em todo o Paraná têm passado pela pior crise durante a pandemia: a maioria está lotada. No geral, o Paraná está, nesta quarta-feira, com 94% de ocupação das UTIs COVID adulto. Mas em algumas regiões, como na oeste, a situação beira o caos: 97% de ocupação das UTIs. Em todo o Paraná, hoje, 1.185 pessoas esperavam na fila por um leito (enfermaria ou UTI).
Diante do pedido da prefeitura, o Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Sindipar), informou que irá se reunir com os membros da entidade para avaliar o teor do decreto. Apesar de não possuir estes dados consolidados, o sindicato disse que acompanha os associados orientando quanto ao cumprimento de todas as determinações das autoridades sanitárias.
“Contudo, a quase totalidade dos hospitais que atendem Covid opera hoje acima de sua capacidade de atendimento e já emprega mais de 50% de toda a sua capacidade instalada para a assistência de pacientes com a doença — oferta que está prestes a ser superada pela alta demanda de casos da doença decorrente da disseminação do novo coronavírus em todo o Paraná”, informou a nota oficial da entidade.
De fato, alguns hospitais em Curitiba estão com a capacidade esgotada. É o caso do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba, que informou hoje que está com o pronto atendimento fechado desde sábado. Das 47 UTIs que o hospital possui, quase todas foras alocadas para pacientes COVID e todas estão lotadas. Como o hospital não tem mais como admitir novos pacientes, até que leitos sejam liberados, a diretoria decidiu por fechar o pronto atendimento.
O sindicato também informou, na nota, que o cenário da rede particular é semelhante ao da rede pública e que os hospitais particulares já não tem meios adicionais de abrir novos leitos exclusivos. Todos encontram-se à beira da lotação.
“Após uma série de providências emergenciais para reverter instalações e recursos destinados a outras doenças para o atendimento de pacientes com Covid-19 — como a transformação de leitos clínicos e apartamentos em UTIs —, as possibilidades de ampliação de vagas estão praticamente esgotadas devido a limitações como a falta de profissionais de saúde qualificados disponíveis no mercado e a escassez de respiradores e outros equipamentos e insumos. O atendimento a outras doenças e emergências, como infarto, AVC e câncer, já está prejudicado.“, diz a nota.
“Hospitais já operam em situação de alerta, com alguns trabalhando acima de sua capacidade operacional em alguns momentos. Temos que conter a atual projeção de subida da demanda, pois se os casos continuarem subindo como vem acontecendo, teremos dificuldades e talvez não consigamos atender a todos”, diz o presidente do Sindipar, Flaviano Ventorim.
O prolongamento do período de internação e a mudança no perfil de internados com o aumento do número de pacientes entre 30 e 59 anos com quadros de rápido agravamento e necessidade de terapia intensiva, atribuídos à variante brasileira P1, vêm exercendo ainda mais pressão sobre a rede.