Professores podem ajudar no combate contra as falsas informações
Publicado em 31 mar 2020, às 00h00.
Professores podem ajudar no combate a falsas informações (Foto: Pixabay)
Curas milagrosas, teorias da conspiração sobre a origem da doença, falsas recomendações dos governos. A pandemia do coronavírus tem sido um dos alvos favoritos de um fenômeno típico dos tempos atuais: as falsas informações, mais conhecidas como “fake news” em larga escala.
Conforme o assunto assume protagonismo de praticamente todas as esferas de discussão da sociedade, também se multiplicam informações falsas que, muitas vezes, prejudicam a prevenção e o combate contra a disseminação do vírus.
Para o professor Juliano Costa, vice-presidente de Produtos LATAM da Pearson, maior empresa de aprendizagem do mundo, o momento é propício para professores debaterem o tema “fake news” com seus alunos.
“Para evitar que o distanciamento da sala de aula e a preocupação com a pandemia impactem o engajamento de crianças e adolescentes com a aprendizagem, o professor pode usar recursos digitais simples de forma a manter a proximidade com os estudantes e associar a temática atual a assuntos estudados na escola”, afirma Juliano. “Preparar os alunos para identificar notícias falsas neste momento, além de desenvolver sua capacidade de análise crítica, pode torná-los multiplicadores de conhecimento, contribuindo para que seus familiares e amigos não disseminem esse tipo de informação prejudicial”.
Veja algumas dicas de Juliano Costa para abordar o tema com seus alunos durante a pandemia do coronavírus:
Crie grupos de mensagens
Com as aulas suspensas, grupos em aplicativos de mensagens podem ser uma boa forma de manter a proximidade com seus alunos. Proponha a eles a criação de um grupo dedicado a “desmascarar” as falsas informações sobre o coronavírus.
Estimule-os a compartilhar no grupo as informações falsas que encontrarem e ajude-os a mostrar aos demais membros do grupo por que aquilo não procede. Convidar também outros professores de matérias variadas para participar do grupo é uma boa forma de proporcionar uma abordagem multidisciplinar para a análise desses conteúdos.
Compare informações verdadeiras e falsas
Compartilhe também notícias verdadeiras nos grupos, e estimule os alunos a identificar características que as diferenciam das informações falsas: citação das fontes onde as informações foram obtidas, nível de detalhe dos fatos narrados, correção gramatical, se o site que dá a notícia pertence a um veículo de imprensa conhecido, entre outros pontos.
Incentive uma atitude questionadora
É possível aproveitar uma característica típica de alunos jovens para fazer com que eles sempre olhem de forma crítica para todas as informações que recebem e as questionem antes de aceitá-las como verdadeiras.
“Em geral, os jovens, principalmente no ensino médio, estão na fase da heteronomia, ou seja, aquela fase da vida em que o sujeito tem por hábito se posicionar contra o que é comumente estabelecido”, afirma Juliano.
O docente ainda afirma que os professores devem trabalhar o ato de tomar uma atitude e questionar, para que isso possa ser aplicado também em contextos e ambientes diversos – inclusive o virtual, onde é maior a incidência de informações falsas.
Use o que foi aprendido em sala de aula
Nada melhor que estimular o aluno aplicar na vida real aquilo que ele estudou – especialmente quando é para ajudá-lo a diferenciar informações falsas de verdadeiras.
Um professor de biologia, por exemplo, pode relembrar as aulas sobre características e comportamento dos vírus para refutar uma mentira sobre métodos para curar a doença.
Em matemática, aulas de progressão geométrica ajudarão a prever o avanço da disseminação, de forma a desmentir conteúdos que questionem a necessidade de enfrentamento sério da pandemia.
Em português, erros básicos de gramática podem indicar que a fonte da notícia não é um veículo de comunicação de credibilidade.
Estimule o debate
Evite simplesmente “jogar” a notícia no grupo e explicar por que ela é falsa ou verdadeira. Quando um conteúdo for compartilhado no grupo, pergunte aos alunos se aquilo procede e conduza um processo em que eles debatam e argumentem para chegar à conclusão correta.
“É papel da educação fazer com que, desde a infância, os seres humanos adquiram informações para questionar boatos provenientes de fontes sem credibilidade e conseguir construir uma linha argumentativa para agir diretamente no combate à disseminação dessas notícias”, diz Juliano.