Professores podem ajudar no combate contra as falsas informações

por Carol Machado
da equipe de estágio RIC Mais, sob supervisão de Larissa Ilaídes
Publicado em 31 mar 2020, às 00h00.
Curas milagrosas, teorias da conspiração sobre a origem da doença, falsas recomendações dos governos. A pandemia do coronavírus tem sido um dos alvos favoritos de um fenômeno típico dos tempos atuais: as falsas informações, mais conhecidas como “fake news” em larga escala.

Conforme o assunto assume protagonismo de praticamente todas as esferas de discussão da sociedade, também se multiplicam informações falsas que, muitas vezes, prejudicam a prevenção e o combate contra a disseminação do vírus.

Para o professor Juliano Costa, vice-presidente de Produtos LATAM da Pearson, maior empresa de aprendizagem do mundo, o momento é propício para professores debaterem o tema “fake news” com seus alunos.
“Para evitar que o distanciamento da sala de aula e a preocupação com a pandemia impactem o engajamento de crianças e adolescentes com a aprendizagem, o professor pode usar recursos digitais simples de forma a manter a proximidade com os estudantes e associar a temática atual a assuntos estudados na escola”, afirma Juliano. “Preparar os alunos para identificar notícias falsas neste momento, além de desenvolver sua capacidade de análise crítica, pode torná-los multiplicadores de conhecimento, contribuindo para que seus familiares e amigos não disseminem esse tipo de informação prejudicial”.
Veja algumas dicas de Juliano Costa para abordar o tema com seus alunos durante a pandemia do coronavírus:

Crie grupos de mensagens

Com as aulas suspensas, grupos em aplicativos de mensagens podem ser uma boa forma de manter a proximidade com seus alunos. Proponha a eles a criação de um grupo dedicado a “desmascarar” as falsas informações sobre o coronavírus.
Estimule-os a compartilhar no grupo as informações falsas que encontrarem e ajude-os a mostrar aos demais membros do grupo por que aquilo não procede. Convidar também outros professores de matérias variadas para participar do grupo é uma boa forma de proporcionar uma abordagem multidisciplinar para a análise desses conteúdos.

Compare informações verdadeiras e falsas

Compartilhe também notícias verdadeiras nos grupos, e estimule os alunos a identificar características que as diferenciam das informações falsas: citação das fontes onde as informações foram obtidas, nível de detalhe dos fatos narrados, correção gramatical, se o site que dá a notícia pertence a um veículo de imprensa conhecido, entre outros pontos.

Incentive uma atitude questionadora

É possível aproveitar uma característica típica de alunos jovens para fazer com que eles sempre olhem de forma crítica para todas as informações que recebem e as questionem antes de aceitá-las como verdadeiras.
“Em geral, os jovens, principalmente no ensino médio, estão na fase da heteronomia, ou seja, aquela fase da vida em que o sujeito tem por hábito se posicionar contra o que é comumente estabelecido”, afirma Juliano.
O docente ainda afirma que os professores devem trabalhar o ato de tomar uma atitude e questionar, para que isso possa ser aplicado também em contextos e ambientes diversos – inclusive o virtual, onde é maior a incidência de informações falsas.

Use o que foi aprendido em sala de aula

Nada melhor que estimular o aluno aplicar na vida real aquilo que ele estudou – especialmente quando é para ajudá-lo a diferenciar informações falsas de verdadeiras.
Um professor de biologia, por exemplo, pode relembrar as aulas sobre características e comportamento dos vírus para refutar uma mentira sobre métodos para curar a doença.
Em matemática, aulas de progressão geométrica ajudarão a prever o avanço da disseminação, de forma a desmentir conteúdos que questionem a necessidade de enfrentamento sério da pandemia.
Em português, erros básicos de gramática podem indicar que a fonte da notícia não é um veículo de comunicação de credibilidade.

Estimule o debate

Evite simplesmente “jogar” a notícia no grupo e explicar por que ela é falsa ou verdadeira. Quando um conteúdo for compartilhado no grupo, pergunte aos alunos se aquilo procede e conduza um processo em que eles debatam e argumentem para chegar à conclusão correta.
“É papel da educação fazer com que, desde a infância, os seres humanos adquiram informações para questionar boatos provenientes de fontes sem credibilidade e conseguir construir uma linha argumentativa para agir diretamente no combate à disseminação dessas notícias”, diz Juliano.