Taxa de doações de órgãos cai devido às consequências geradas pela Covid

por Caroline Maltaca
com informações da Agência Brasil e supervisão de Giselle Ulbrich
Publicado em 13 ago 2021, às 22h35. Atualizado às 22h36.

No primeiro semestre, o Brasil apresentou uma queda de 13% na taxa de doadores efetivos. Os dados são da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). Para o editor-chefe do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) e membro do Conselho Consultivo da associação, Valter Duro Garcia, o que explica a queda é o aumento de 44% na taxa de contraindicação, em parte pelo risco de transmissão da Covid-19, em outra pela dificuldade de fazerem o teste PCR para a detecção da doença ou para obter o resultado rapidamente.

“O que acontece no Brasil ocorre em praticamente todos os países que tiveram a pandemia mais violenta, assim como foi para nós. A Covid-19 impactou o número de transplantes, doadores e transplantados que tiveram risco maior de morrer pela doença”,

De acordo com Garcia, em 2020, de cada três potenciais doadores, um se tornava doador, já este ano, de cada quatro potenciais, só um é efetivo.

Ou porque o doador testava positivo para Covid-19, ou porque não se tinha rapidez no resultado do teste para levar à cirurgia. A Covid-19 atrapalhou a efetivação da doação”,

Problemas apresentado em números

Segundo a versão semestral do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), o transplante renal, por exemplo, diminuiu 16,3%. Nenhum estado atingiu 40 transplantes renais por milhão de população e só três unidades da federação ultrapassaram 30 transplantesParaná, São Paulo e Distrito Federal.

Os transplantes renais com doador vivo tiveram queda menor que os com doador falecido – 9,5% contra 17,3%. Entretanto, representam apenas 10% dos transplantes renais, a menor taxa desde o início dos transplantes no Brasil. De acordo com o relatório, as maiores quedas ocorreram nos estados de Santa Catarina (63%) e Rio Grande do Sul (59%).

Em relação aos transplantes hepáticos, eles caíram 9%, sendo maiores em Minas Gerais (27%) e Paraná (20%). O transplante com doador vivo aumentou 10% e com doador falecido caiu 12%. O transplante cardíaco diminuiu 15%, sendo essa queda mais acentuada no Ceará (86%), Paraná (66%) e Rio Grande do Sul. O transplante pulmonar, realizado em apenas dois estados, neste semestre, caiu 5,7%, tendo aumentado 31% em São Paulo e diminuído 50% no Rio Grande do Sul.

O balanço também mostra que o transplante de pâncreas, realizado em sete estados, aumentou 21,7%, com aumento em Santa Catarina (67%) e São Paulo (55%) e queda no Paraná (67%), Minas Gerais (17%) e Rio de Janeiro (12%). O transplante de córneas, embora com taxa baixa (52,9 pmp) já apresentou recuperação de 40% em relação ao mesmo período do ano passado.

Leitos

Segundo Garcia, a queda do número de transplantes também pode ser atribuída à queda no número de leitos disponíveis para esses pacientes, já que em decorrência do aumento dos casos de Covid e a necessidade de mais leitos para internações tanto nas enfermarias quanto nas unidades de terapia intensiva (UTI).

“Os leitos que seriam de transplantados foram transformados em leitos covid. Com a queda nas internações, tenho a segurança de que o segundo semestre será melhor do que o primeiro”.

Expectativas

De acordo com o médico, a expectativa para o segundo semestre, com a vacinação avançando, é que se recupere o tempo perdido.

“Espero que atinjamos os níveis do ano passado e no ano que vem, o nível de 2019, antes da pandemia e o melhor ano em termos de doação que já tivemos. Em 2020, perdemos um pouco, neste primeiro semestre, perdemos outro pouco, no segundo semestre começa a recuperar e normaliza em 2022”,

estimou Garcia.

O médico alertou ainda para que todos os pacientes que estão na lista de espera para receber um órgão se imunizem contra a Covid para se protegerem antes do momento da cirurgia.

“É fundamental que todos da lista sejam vacinados. Todos os transplantados também devem se vacinar e, caso tenham a possibilidade de tomar a terceira dose, que é o que estamos discutindo, tomem, porque com os remédios imunossupressores que usam podem ter Covid muito mais forte do que o restante da população”.