Garganta do Diabo: o que se sabe sobre o local onde mulheres desapareceram

De acordo com o Corpo de Bombeiros, a praia tem partes rasas, o que favorece o surgimento de ondas de até 4 metros

por Eduardo Teixeira
com informações do Estadão Conteúdo
Publicado em 1 out 2024, às 09h24. Atualizado às 09h28.
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Um barco com sete pessoas a bordo naufragou em São Vicente, no litoral paulista, enquanto atravessava a região conhecida como Garganta do Diabo, no último domingo (29). Cinco pessoas foram resgatadas pelo Grupamento de Bombeiros Marítimos (GBMar) e pela Marinha, mas duas mulheres ainda não foram encontradas. As buscas por Beatriz Tavares da Silva Faria, de 27 anos, e Aline Tamara Moreira de Amorim, de 37 anos, foram retomadas nesta terça-feira (1º).

Garganta do Diabo: o que se sabe sobre o local onde mulheres desapareceram
A navegação é difícil e o acesso à Baía de São Vicente exige algumas peculiaridades (Foto: Google Maps/Facebook)

A Garganta do Diabo se caracteriza por ser uma espécie de fenda, um estreitamento na entrada da Baía de São Vicente que acaba contribuindo para uma maior agitação das marés neste espaço. Com isso, o local sofre com a influência de correntezas que vêm do sul e que avançam sobre a baía com força, além de ondas elevadas que acabam sendo formadas pelo excesso de deposição de sedimentos nesta área.

Garganta do Diabo: ondas gigantes e corrente forte

Pedro Felipe Costa Pedroza Martins, 1º Tenente da Polícia Militar e porta-voz do GBMar, explicou ao Estadão que a Garganta do Diabo está posicionada entre a Ilha Porchart e o Parque Estadual Xixová-Japuí, funcionando como entrada para a Baía de São Vicente, e sendo o acesso aos locais como praia do Gonzaguinha e à Ponte Pênsil. “Pelo fato de ter ali um gargalo, as correntes são muito fortes, tanto de enchentes como de vazantes.”, diz Martins.

O tenente afirma que o local tem partes rasas, o que favorece também o surgimento de ondas de alturas elevadas, que podem atingir uma altura de até 4 metros. No momento que os bombeiros receberam o chamado para atender a ocorrência, a altura das ondas era de 1,5 metro, afirma Martins. “É uma altura considerável e facilmente capaz de virar uma embarcação”.

“Por ser uma região costeira e o fundo ter pedras e partes rasas, as ondas, conforme vêm do mar, ao se aproximarem, ganham uma altitude muito grande. Isso é até atrativo para a prática do tow-in, que são surfistas rebocados por jet ski”, diz o tenente. “Então, dependendo de como está o mar, as ondas podem atingir a altura de 2 metros, 3 metros, até 4 metros, na Garganta do Diabo”.

O biólogo e pesquisador Fábio Sanches, pós-doutorando no Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha (LABECMar) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que a região possui uma geomorfologia e uma hidrodinâmica – caracterizada pela entrada do estuário, local de transição entre o rio de água doce e o mar de água salgada – que favorecem a uma mudança nas bancadas de areia.

“Algumas áreas geralmente são mais rasas, onde tem mais deposição, e outras mais profundas”, diz sobre a Garganta do Diabo.

“No local onde é a Garganta (do Diabo), existe uma bancada de areia mais rasa, muito provavelmente por conta da presença da Ilha Porchat, que é importante neste sentido. Então, com a maré mais baixa, a bancada fica ainda mais rasa, e quando acontece uma ondulação de sul, as ondas costumam ficar maiores e quebrar com mais frequência”, explica Sanches.

“Já mais para dentro da Baía, está localizada a Porta do Sol, que é outro pico de onda. A ideia é semelhante, com a presença de uma bancada mais rasa. Mas, neste caso, só muda um pouco a direção da ondulação, por ser mais abrigado”, acrescenta o pesquisador.

Os perigos e os riscos que esta região pode causar contribuíram para a alcunha da região, diz o Tenente Pedro Felipe Costa Pedroza Martins, do GBMar. “O nome Garganta do Diabo se dá por conta dessas condições. A navegação é difícil e o acesso à Baía de São Vicente exige algumas peculiaridades. Não é uma navegação simples de ser feita.”

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