Homem com deficiência visual denuncia motorista de aplicativo por não aceitar corrida, em Londrina

por Ana Clara Marçal
com informações de Rafael Machado e supervisão de Caroline Berticelli, da RIC Record TV
Publicado em 16 ago 2021, às 16h32. Atualizado às 16h35.

Leonardo Massarotto, de 29 anos, denunciou um motorista de aplicativo ao alegar que o homem teria se recusado a transportá-lo em seu carro em Londrina, no norte do Paraná. O jovem é cantor sertanejo e havia acabado de fazer um show, no sábado (14) à noite, quando acionou o transporte por aplicativo.

“Terminamos o show, estava preparando o violão, estava eu e uma amiga minha, a gente estava em um grupo de amigos. Ela foi comigo para mim chamar o [aplicativo de viagem], chegando lá, o carro encostou e comentou que não carregava deficientes visuais porque já teve acidentes. Na hora, beleza, eu desci do carro e falei ‘vou descer do carro’ mas logo logo eu ia tomar as minhas previdências. Minha amiga questionou ele, falou que não podia fazer isso, que era preconceito, aí ele viu que a gente estava em um grupo legal, o pessoal viu o acontecimento, ele pegou e foi embora, ele não ficou […] ele falou que já tinha passado por um momento de acidente com pessoas com deficiência mas eu acho que acidentes podem acontecer com todo mundo até com nós que estamos aqui dando entrevista, todos nós estamos sujeitos a sofrermos algum acidente.”

relembra Leonardo.

Em entrevista ao Balanço Geral Londrina, o motorista, que preferiu não se identificar, contou que não negou a viagem, mas apenas pediu que o jovem estivesse acompanhado de mais alguém durante o trajeto. Segundo o homem, tudo não passou de um mal entendido e sua intenção não era de discriminar ninguém.

“Cheguei no lugar de embarque, estava ele e as pessoas ali do lado […] e ai colocaram ele dentro do carro, colocaram o instrumento dele, que ele é cantor, até disseram no local, e ai eu comentei ‘mas vai só ele?’, ai ele falou que só, ai eu falei ‘ah, teria como alguém acompanhar ele para caso vir um acidente, alguma coisa?’. Porque em hipótese alguma eu aleguei de não levar ele, eu falei se alguém puder ir junto com ele para a proteção dele, para a proteção minha para, caso aconteça alguma coisa, ter uma prova. Isso ai foi um mal entendido porque em hipótese alguma eu falei de uma maneira de discriminação, até então porque eu não sou a favor disso também, tenho pessoas da família que também tem problemas, então em hipótese alguma eu discriminei ele. Se por um acaso ele entendeu dessa maneira, eu peço desculpas mas eu apenas comentei ‘eu preciso de alguém para acompanhar’ […] é uma orientação que eu adoto, tanto faz com deficiente visual, um cadeirante, crianças, eu sempre aconselho ter um acompanhante junto. Por mais que ele se locomova sozinho é sempre para a minha proteção e a proteção dele.”

explica o homem.

O advogado Flavio Caetano de Paulo explica que motoristas de aplicativo não tem a autonomia para imporem normas próprias para a realização de suas corridas. As regras a serem respeitadas são aquelas estipuladas pela própria plataforma, tanto para passageiros quanto para condutores.

“Ainda que a intenção dele não seja discriminatória, a atitude foi discriminatória. Quando nós procuramos por um aplicativo, nós não estamos procurando pelo [nome], nós estamos procurando pela empresa que vai prestar um serviço e a quem vai prestar o serviço é em nome da plataforma, em nome do aplicativo. Você imagina se cada motorista tiver as suas próprias regras, como isso seria impraticável. Não pode existir esse tipo de postura. E a própria plataforma/o aplicativo é responsável pelos atos, ainda que sejam em desobediência às suas próprias regras. Quando seu motorista age dessa forma, tem responsabilidade o próprio aplicativo. O consumidor que se sente lesado deve procurar quem o contratou que é o aplicativo […]”

destaca o advogado.

Leonardo e o motorista devem ser chamados para depor na Polícia Civil (PC), que investiga o caso, até o final de agosto.