DNA negativo elimina envolvidos no caso Tayna
Oito pessoas foram ouvidas nas últimas semanas pela equipe do delegado Marcos Fontes, da Polícia Civil do Paraná (PCPR). Os homens foram citados no inquérito que investiga a morte de Tayna Adriane da Silva, em junho de 2013, em Colombo. Todos tinham algum envolvimento com a vítima. Para cinco deles foi solicitada a coleta de material genético. As amostras foram confrontadas com o sêmen encontrado no corpo da vítima. Três exames já apresentaram resultado negativo.
Outros dois ainda não foram finalizados. Um deles é de uma testemunha que se mudou para São Paulo logo depois do crime. Mesmo com o pedido dos exames, de acordo com o delegado, os homens ouvidos recentemente não são considerados suspeitos, mas precisavam ser ouvidos e examinados para descartar qualquer possibilidade não investigada.
“Os meus antecessores concluíram que os quatro suspeitos presos inicialmente são os autores do crime. Eu não quero fazer mais do mesmo. Meu objetivo é entregar um material completo para o Ministério Público se sentir confortável em finalmente arquivar o caso ou apresentar denúncia. Não dá mais para o caso continuar indo e voltando do MP para a Polícia Civil”,
afirma Pontes.
Para que as diligências do delegado e as outras solicitadas pelo Ministério Público sejam finalizadas, além do resultado destes exames, a equipe de investigação ainda precisa localizar uma testemunha ligada ao caso, que se mudou para o interior do Paraná.
Neste sábado (24), faz nove anos que Tayná desapareceu. O RIC Mais lembra em detalhes tudo o que aconteceu.
O Crime
Às 20h30 de 25 de junho de 2013, depois de sair do salão onde trabalhava como manicure, Tayna mandou uma mensagem no celular da mãe avisando que logo chegaria em casa. Ela foi vista pela última vez nas imagens do circuito de câmeras de um supermercado no bairro São Dimas, em Colombo, caminhando na direção do ponto de ônibus. O local fica em frente a um parque de diversões, que havia sido montado em um terreno baldio.
Horas depois, Dona Cleusa começou a buscar pela filha, que não chegou em casa. Procurou a imprensa e inclusive foi até o parque conversar com os funcionários, que disseram não ter visto a garota. A Polícia Civil foi acionada, iniciou as investigações e, no dia 27, a equipe da Delegacia do Alto Maracanã prendeu Adriano e Ezequiel Batista, Sérgio Amorim da Silva Filho e Paulo Henrique Camargo Cunha. Todos eram funcionários do parque. Um colega de trabalho deles, conhecido como “Baixinho”, também foi ouvido, mas liberado.
Segundo o delegado Silvan Rodney Pereira, à frente do caso na época, Adriano, Sérgio e Paulo confessaram ter estuprado e matado Tayna. Já Ezequiel sabia do crime e nada fez para impedir. Assim, seria indiciado por coautoria no crime. A notícia correu pela vizinhança e moradores revoltados com a situação atearam fogo nos brinquedos do parque, ainda na noite do dia 27. Até aquele momento, o corpo da garota ainda não tinha sido encontrado.
Os suspeitos foram levados sob escolta para apontar o local em que o corpo teria sido “enterrado”, como eles descreveram em depoimento. Confusos, por mais de 15 horas levaram os policiais a caminhar pelo terreno ao lado do parque, sem saber indicar onde, precisamente, o corpo estava. A população estava reunida na rua, inflamada, com a intenção de linchar os suspeitos. Familiares de Tayna, de mãos dadas, oravam aos prantos e tentavam segurar a vizinhança para evitar que atrapalhassem o trabalho da polícia.
Na tarde do dia 28, um garoto de bicicleta resolveu entrar em um terreno que ficava do outro lado da rua, e lá encontrou a bolsa de Tayna. Ele gritou para avisar a polícia, e muita gente invadiu o terreno. O corpo da garota estava dentro de um poço. De acordo com a perita Jussara Joeckel, as vestes da vítima estavam “ordenadamente alinhadas” e não existia nenhum sinal de estupro.
O laudo de necropsia apontou que Tayna foi atingida por uma pancada na cabeça e enforcada com o cadarço de sua bota, antes de ser jogada no poço, já sem vida. A morte teria ocorrido no máximo 24 horas antes do achado do corpo, ou seja: Tayna estava viva, em algum lugar, entre as noites do dia 25 e o dia 27. Ela supostamente teria morrido no mesmo dia em que os quatro suspeitos foram presos. Uma amostra de sêmen encontrada no corpo da vítima foi confrontada com o DNA dos quatro suspeitos, mas o resultado do confronto foi negativo.
Tortura
O caso, que parecia estar solucionado, sofreu uma reviravolta quando os suspeitos apareceram feridos e alegaram que foram torturados para confessar o crime. Na nova versão dos fatos, eles afirmaram que nunca viram a garota e só souberam dela quando Dona Cleusa foi até o parque perguntar sobre a filha desaparecida.
Um novo processo foi aberto: 14 policiais envolvidos na prisão dos suspeitos foram acusados de tortura. Onze foram absolvidos. O delegado Silvan Rodney Pereira, que conduziu as investigações, foi condenado a 9 anos e 4 meses de prisão. Também foram condenados o investigador de polícia Jair Paulino da Silva (15 anos) e o chefe de investigação, Rudis Eloi Pratto ( 9 anos e quatro meses).
Outros delegados assumiram a investigação e até a necropsia foi questionada: tinha mais gente do que deveria dentro da sala na hora em que o corpo foi examinado. E o laudo talvez não fosse preciso. O corpo de Tayna chegou a ser exumado, mas nada de novo foi encontrado. O médico legista responsável pelo exame inicial, Alexandre Gebran Neto, morreu anos depois em um acidente de trânsito.
Foi decretado sigilo no inquérito, que passou pelo menos seis anos indo e voltando do Ministério Público para a Polícia Civil, com pedidos de novas diligências infrutíferas. Os quatro suspeitos foram inseridos no programa de proteção às testemunhas do Ministério Público. Saíram da prisão e foram mantidos em locais seguros, sob vigilância.
Nova etapa
A defesa dos três policiais condenados por tortura entrou com recurso e, em 2020, a decisão foi revertida: os três foram absolvidos. A partir deste momento, o inquérito sobre o caso Tayna teria uma visão diferente dos fatos: a confissão dos quatro suspeitos pode ser considerada válida, novamente, já que a tortura foi considerada inexistente pela Justiça.
Os quatro acusados já foram removidos da proteção do Estado e seguem suas vidas, evitando o assunto do caso Tayna e tentando passar despercebidos. A família da vítima segue buscando justiça e acompanha de perto as investigações. Até hoje a família acredita na culpa dos quatro suspeitos e critica o Ministério Público por não ter apresentado denúncia contra eles.
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“Ainda acreditamos na resolução do caso. Teve movimentação recente no inquérito policial e ficou prometido pela autoridade policial que ainda este ano seria entregue o relatório conclusivo da investigação”,
afirma o advogado que acompanha a família, Luis Gustavo Janiszewski.