Família de jovem que foi queimado vivo pelo marido em Curitiba pede justiça
Mais de três anos após o assassinato de Jungles Josemar Queiroz, sua família ainda espera por justiça. O acusado, Cristiano dos Santos Dias, era marido da vítima e foi denunciado pelo Ministério Público do Paraná (MP/PR) pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe, mas nunca foi preso. (Assista reportagem abaixo)
O rapaz morreu no dia 10 de abril de 2020, dois dias após dar entrada no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, em Curitiba, com o corpo queimado por inteiro. Conforme a denúncia do MP/PR, Cristiano usou querosene para incendiar o corpo do companheiro, provavelmente, em um momento em que ele estava deitado na cama.
Para entender a história de amor que acabou em tragédia é preciso voltar ainda mais no tempo, quando Jungles saiu de casa e tomou a decisão que mudaria sua vida, pois o colocou de frente, pela primeira vez, com seu futuro marido e algoz. Na época, ele deixou o cabelo crescer, passou a se vestir como mulher e a se prostituir em ruas do bairro Boqueirão, da capital, onde também usava drogas e acabou conhecendo Cristiano, dependente químico que vivia nas ruas da região, com quem iniciou um relacionamento amoroso.
Apesar de não entenderem a vida que o filho escolheu, os pais nunca o abandonaram e faziam questão de pagar o aluguel de uma quitinete para ele morar, assim como as despesas com alimentação. Logo, Cristiano foi viver junto com o namorado e, alguns meses depois, Jungles teve o diagnóstico positivo para HIV. Assustado com a doença, ele preferiu esconder dos familiares e só revelou seu segredo para a irmã mais nova.
“Nós tínhamos uma relação muito próxima, uma noite ele me falou: ‘Eu fiz aquele teste de novo e dessa vez deu positivo’. Mas nem conta para a mãe porque você sabe como a mãe é. Ela vai ficar preocupada’. Eu falei: ‘Como é que vai ser agora?’. Ele falou: ‘Agora eu não sei’”,
lembra Jade Mari Queiroz .
Apesar do susto, a realidade da doença motivou o rapaz a parar de usar drogas e a realizar o sonho de se tornar técnico em enfermagem. No entanto, enquanto Jungles voltou a estudar e encontrava na família forças para lutar por uma vida melhor, o relacionamento com Cristiano ia mal. O rapaz continuava a usar drogas todos os dias e não aceitava ajuda.
Foi então que Jungles recebeu o segundo diagnóstico que o abalou profundamente, ele estava com leucemia. E, mais uma vez, foi a presença constante das irmãs e dos pais que o ajudou a não desistir. Ele iniciou o tratamento, finalizou as quimioterapias e aguardava um transplante de medula óssea.
“Eu não sabia se eu chorava, se eu desmaiava. A gente lutou tanto, ele ficou careca no hospital, quando ele se preparou, fez as quimio, que estava tudo certo para o transplante, era a última quimioterapia que ele fez, ele ganhou alta e eu levei ele para casa”,
conta a mãe, Cícera Maria Queiroz.
Mesmo fragilizado pelo tratamento contra o câncer, Jungles preferiu voltar para a casa, cedida pelo pai de Jungles, que dividia com o marido. No entanto, Cristiano passou a agredir o companheiro, até que no dia 8 de abril de 2018 a história acabou da pior forma possível.
Segundo a família de Jungles, o casal fez um churrasco nos fundos da casa e tanto Cícera como Josemar Aparecido Queiroz, policial militar cabo da reserva, foram até o local para dar um abraço no filho. “Foi uma despedida. Eu cheguei, por volta das 18h, e ele já me recebeu no portão. Nós nos abraçamos, nos beijamos, eu chamei atenção dele por ele estar fumando durante a recuperação do tratamento de leucemia e ele me pediu perdão. No dia seguinte, por volta das 6h da manhã, recebi uma mensagem no meu celular de que ele estava internado no Hospital Evangélico com queimaduras”, explica o pai.
Ainda conforme o policial aposentado, antes de morrer o filho tentou alegar que as graves queimaduras foram provocadas por um acidente. Mas, segundo ele, a história contada não fazia sentido.
“Ele me falou: ‘Pai, foi um acidente’. Mas eu disse: ‘Não procede porque o assado foi por volta de meio-dia, uma hora da tarde, onde a Cícera fez o churrasco. No outro dia a gente foi lá, depois do fato ocorrido, verificamos a churrasqueira e ela falou: ‘Está do mesmo jeito que eu deixei’. Então a situação aconteceu dentro da casa”, diz Josemar. Ainda conforme o policial de reserva, quem salvou o filho foram pessoas que passavam pelo local e o viram completamente queimado e pedindo socorro do lado de dentro do quintal da residência.
Na época, Cristino deveria comparecer para prestar depoimento à polícia, mas após o velório do marido, ele sumiu. Alguns anos depois, Jade estava parada em um semáforo ao lado do Viaduto Capanema, no bairro Cristo Rei, quando viu o suspeito pela morte de seu irmão pedindo dinheiro para quem passava. Ela chegou a avisar a polícia, mas o rapaz não foi encontrado.