Família de jovem que foi queimado vivo pelo marido em Curitiba pede justiça

por Redação RIC.com.br
com informações de Daniel Santos, da RIC Record TV Curitiba
Publicado em 15 nov 2021, às 19h23. Atualizado às 19h27.

Mais de três anos após o assassinato de Jungles Josemar Queiroz, sua família ainda espera por justiça. O acusado, Cristiano dos Santos Dias, era marido da vítima e foi denunciado pelo Ministério Público do Paraná (MP/PR) pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe, mas nunca foi preso. (Assista reportagem abaixo)

O rapaz morreu no dia 10 de abril de 2020, dois dias após dar entrada no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, em Curitiba, com o corpo queimado por inteiro. Conforme a denúncia do MP/PR, Cristiano usou querosene para incendiar o corpo do companheiro, provavelmente, em um momento em que ele estava deitado na cama

Para entender a história de amor que acabou em tragédia é preciso voltar ainda mais no tempo, quando Jungles saiu de casa e tomou a decisão que mudaria sua vida, pois o colocou de frente, pela primeira vez, com seu futuro marido e algoz. Na época, ele deixou o cabelo crescer, passou a se vestir como mulher e a se prostituir em ruas do bairro Boqueirão, da capital, onde também usava drogas e acabou conhecendo Cristiano, dependente químico que vivia nas ruas da região, com quem iniciou um relacionamento amoroso.

Apesar de não entenderem a vida que o filho escolheu, os pais nunca o abandonaram e faziam questão de pagar o aluguel de uma quitinete para ele morar, assim como as despesas com alimentação. Logo, Cristiano foi viver junto com o namorado e, alguns meses depois, Jungles teve o diagnóstico positivo para HIV. Assustado com a doença, ele preferiu esconder dos familiares e só revelou seu segredo para a irmã mais nova. 

“Nós tínhamos uma relação muito próxima, uma noite ele me falou: ‘Eu fiz aquele teste de novo e dessa vez deu positivo’. Mas nem conta para a mãe porque você sabe como a mãe é. Ela vai ficar preocupada’. Eu falei: ‘Como é que vai ser agora?’. Ele falou: ‘Agora eu não sei’”,

lembra Jade Mari Queiroz .  

Apesar do susto, a realidade da doença motivou o rapaz a parar de usar drogas e a realizar o sonho de se tornar técnico em enfermagem. No entanto, enquanto Jungles voltou a estudar e encontrava na família forças para lutar por uma vida melhor, o relacionamento com Cristiano ia mal. O rapaz continuava a usar drogas todos os dias e não aceitava ajuda. 

Foi então que Jungles recebeu o segundo diagnóstico que o abalou profundamente, ele estava com leucemia. E, mais uma vez, foi a presença constante das irmãs e dos pais que o ajudou a não desistir. Ele iniciou o tratamento, finalizou as quimioterapias e aguardava um transplante de medula óssea

“Eu não sabia se eu chorava, se eu desmaiava. A gente lutou tanto, ele ficou careca no hospital, quando ele se preparou, fez as quimio, que estava tudo certo para o transplante, era a última quimioterapia que ele fez, ele ganhou alta e eu levei ele para casa”,

conta a mãe, Cícera Maria Queiroz. 

Mesmo fragilizado pelo tratamento contra o câncer, Jungles preferiu voltar para a casa,  cedida pelo pai de Jungles, que dividia com o marido. No entanto, Cristiano passou a agredir o companheiro, até que no dia 8 de abril de 2018 a história acabou da pior forma possível. 

Segundo a família de Jungles, o casal fez um churrasco nos fundos da casa e tanto Cícera como Josemar Aparecido Queiroz, policial militar cabo da reserva, foram até o local para dar um abraço no filho. “Foi uma despedida. Eu cheguei, por volta das 18h, e ele já me recebeu no portão. Nós nos abraçamos, nos beijamos, eu chamei atenção dele por ele estar fumando durante a recuperação do tratamento de leucemia e ele me pediu perdão. No dia seguinte, por volta das 6h da manhã, recebi uma mensagem no meu celular de que ele estava internado no Hospital Evangélico com queimaduras”, explica o pai.

Jungles chegou a ficar internado, mas não resistiu às queimaduras. (Foto: Reprodução/Grupo RIC)

Ainda conforme o policial aposentado, antes de morrer o filho tentou alegar que as graves queimaduras foram provocadas por um acidente. Mas, segundo ele, a história contada não fazia sentido.  

“Ele me falou: ‘Pai, foi um acidente’. Mas eu disse: ‘Não procede porque o assado foi por volta de meio-dia, uma hora da tarde, onde a Cícera fez o churrasco. No outro dia a gente foi lá, depois do fato ocorrido, verificamos a churrasqueira e ela falou: ‘Está do mesmo jeito que eu deixei’. Então a situação aconteceu dentro da casa”, diz Josemar.  Ainda conforme o policial de reserva, quem salvou o filho foram pessoas que passavam pelo local e o viram completamente queimado e pedindo socorro do lado de dentro do quintal da residência. 

Na época, Cristino deveria comparecer para prestar depoimento à polícia, mas após o velório do marido, ele sumiu. Alguns anos depois, Jade estava parada em um semáforo ao lado do Viaduto Capanema, no bairro Cristo Rei, quando viu o suspeito pela morte de seu irmão pedindo dinheiro para quem passava. Ela chegou a avisar a polícia, mas o rapaz não foi encontrado. 

Assista à reportagem: 

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