Mulher presa por envolvimento com desvio bilionário de criptomoedas é solta em Curitiba
Uma mulher presa na última segunda-feira (5), junto com outras quatro pessoas, durante uma operação que investiga um grupo criminoso de Curitiba e Região Metropolitana suspeito de desviar pelo menos R$ 1,5 bilhão em negociações de criptomoedas foi solta pela Justiça.
A liberdade condicional foi concedida porque, segundo o desembargador Luís Alberto Azevedo Aurvalle, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), não existem motivos para que sua prisão seja mantida, já que ela já teve os bens apreendidos e os dados do celular entregues à investigação.
De acordo com a investigação, a mulher tem um relacionamento amoroso com o homem apontado como chefe do esquema e se beneficiava com o dinheiro advindo dos crimes. A Polícia Federal (PF) apontou que ela emprestava seu nome para abertura de contas e empresas de fachada em troca de pagamento de aluguel e presentes de alto luxo, incluindo um veículo.
Em depoimento, a mulher negou que tivesse conhecimento que o dinheiro advinha de crimes financeiros, afirmou que emprestou sua conta bancária uma única vez, que desconhecia que o companheiro havia colocado imóveis em seu nome e que nunca ganhou muitos presentes e nem dinheiro em espécie.
Ainda conforme a PF, a investigada costumava ostentar itens de luxo advindo das trocas com o namorado nas redes sociais.
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Durante a operação deflagrada na segunda-feira, além das prisões, os policiais federais apreenderam carros de luxo avaliados em cerca de R$ 2,5 milhões, bolsas, joias e dinheiro. Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos em endereços ligados aos investigados, alguns deles, são mansões e chácaras na região da capital.
Investigação
Segundo a Polícia Federal, por dois anos, o grupo aparentava atuar na legalidade. Os investigados eram responsáveis pelo controle de três corretoras de criptomoedas e com pesado investimento em estratégias de marketing atraíam diversos clientes para que investissem recursos pessoais nas plataformas do grupo empresarial.
No entanto, em 2019, as investigações contra a organização foram iniciadas, pela Polícia Civil do Paraná, por conta de diversas denúncias formalizadas por possíveis vítimas dos delitos sob apuração. Ao mesmo tempo, o grupo noticiou que havia sido vítima de um ataque cibernético e, por isso, bloqueou todos os saques de valores das plataformas das corretoras.
A partir de então, foi instaurada uma apuração criminal sobre o suposto ataque dos hackers, pedida pelo próprio grupo empresarial. Porém, os administradores do grupo passaram a atrasar o andamento das investigações, recusando o fornecimento de informações e documentos para o desfecho da apuração. Eles ainda prometiam aos clientes lesados o ressarcimento, de maneira parcelada, da totalidade dos valores depositados, mas os débitos pendentes não foram quitados sob a justificativa de acordos extrajudiciais oficializados e pela alegação do andamento da investigação para a apuração do ataque cibernético.
Como o grupo não teria colaborado com a investigação, conforme a PF, os responsáveis pelo inquérito se manifestaram no sentido de que os indícios revelavam que eles não tinham sido vítimas de ataque e que, pelo contrário, eram suspeitos das práticas dos crimes de estelionato, quadrilha e contra a economia popular.
No final de 2019, o líder da empresa abriu um pedido de recuperação judicial e já no início de 2020, após ser constatado que o grupo oferecia ao público contratos de investimento coletivo sem registro junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), houve direcionamento de competência das investigações para a Justiça Federal. Foi então que a PF descobriu que o grupo empresarial teria operado um esquema de pirâmide financeira.
Ostentação
A Polícia Federal apurou ainda que os investigados apostavam na promoção da imagem de sucesso do grupo, com exibição de posses e bens de luxo e realização de grandes eventos para atrair as vítimas. Além disso, os valores ingressos nas plataformas virtuais das corretoras do grupo (tanto por transferência de criptomoedas, quanto por depósitos bancários), eram em grande parte desviados em benefício próprio do líder do conglomerado empresarial, de sua companheira e de outros investigados.
As investigações da PF apuraram ainda que o líder do grupo já havia sido condenado na Suíça pelos crimes de estelionato e falsificação de documentos.