Sheik dos Bitcoins ameaçou vítimas e utilizou igrejas para golpes

Vítima teria recebido foto de familiares com ameaças, além de ter carros suspeitos estacionados na frente de casa

Publicado em 11 out 2024, às 18h57. Atualizado às 19h03.

Condenado a 56 anos e quatro meses de prisão pela Justiça Federal na última quinta-feira (10), o Sheik dos Bitcoins utilizou ligações com igrejas evangélicas para atrair vítimas ao golpe. Além disso, testemunhas ouvidas durante as investigações apontaram que o grupo criminoso apontaram terem recebido ameaças.

Sheik dos Bitcoins ameaçou vítimas e utilizou igrejas para golpes
Empresário foi condenado a mais de 56 anos de prisão (Foto: Reprodução/RICtv)

As investigações apontaram que a organização criminosa movimentou mais de R$ 4 bilhões entre 2018 e 2022 e provocou prejuízos financeiros a mais de 15 mil pessoas.

O esquema criminoso consistia no recebimento de valores das vítimas sob falso pretexto de retorno financeiro.

O Sheik do Bitcoin utilizava esses montantes para investir em imóveis de luxo, carros importadores, aviões, jóias e outros itens de alto valor financeiro.

Mas com a falta de retorno financeiro, algumas vítimas do esquema ameaçaram ingressar na Justiça e até mesmo buscar a polícia para relatar esses prejuízos. Só que muitas vezes, as respostas do grupo criminoso era amedrontar essas pessoas.

Uma das testemunhas relatou que, após ter iniciado investimentos com as empresas do Sheik dos Bitcoins, foi coagida a trazer novas pessoas para o esquema, como forma de conseguir o retorno financeiro do investimento inicial.

Após ela questionar a impossibilidade de realizar um saque no valor de US$ 200 mil, um dos membros da organização começou a ameaçar a testemunha e familiares.

A vítima recebeu fotos da filha (que tinha 13 anos na época) e começou a observar carros estacionarem na frente da casa em que residia. Esses veículos ficavam estacionados por um tempo e depois saíam.

A organização criminosa ainda comunicou a outras vítimas que a testemunha havia “levado todo o dinheiro deles”, o que resultou em mais ameaças recebidas.

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Igrejas eram utilizadas pelo Sheik dos Bitcoins para cooptar novas vítimas

Diversas testemunhas apontaram nas investigações que o Sheik dos Bitcoins se relacionava com pastores evangélicos e, por meio deles, teve mais acesso a fiéis.

Com promessas de altos rendimentos, essas pessoas eram atraídas não apenas a investir nas empresas do Sheik dos Bitcoins, mas também a trabalhar nessas companhias.

As testemunhas apontaram que a maioria dessas pessoas não tinham conhecimento técnico para exercer as funções contratadas, mas devido às promessas financeiras eram mais facilmente cooptados para obedecerem a organização criminosa.

Uma das testemunhas relatou que o Sheik dos Bitcoins ofertava a lideranças religiosas contas de R$ 200 mil em bitcoins, além de automóveis de luxo. Isso aproximava o homem dos fiéis dessas igrejas para ampliar o esquema criminoso.

Um dos pastores cooptados pelo Sheik dos Bitcoins foi testemunha do processo e apontou que “acreditava na legalidade do negócio” e que por isso “levou muitos investidores para a empresa”. Mas após investigar, descobriu que os rendimentos obtidos pelas empresas do esquema criminoso só eram conseguidos com a entrada de novos investidores.

Justiça aponta que esquema criminoso era dividido em sete partes

As investigações da Justiça Federal apontaram que o esquema criminoso do Sheik dos Bitcoins era dividido em sete partes:

  • 1 – A primeira etapa consistia na captação de clientes. Para demonstrar a suposta legalidade do negócio, a organização apresentava o luxuoso escritório da companhia em Curitiba às vítimas;
  • 2 – Após conseguirem trazer esses clientes à organização, o grupo pagava os dividendos e lucros nos primeiros depósitos – especialmente para as vítimas que depositavam valores menores. Isso dava confiança para que essas pessoas fizessem novos investimentos – e em valores maiores;
  • 3 – Para conseguir manter os clientes na plataforma, o grupo criminoso criava novas moedas virtuais. Assim, as vítimas só conseguiriam o retorno financeiro se permanecessem na plataforma. Além disso, o Sheik dos Bitcoins apontava que esses shitcoins permitiriam maior lucro aos investidores;
  • 4 – Com o aumento dos investimentos e a utilização desse recurso para benefícios próprios, o grupo criminoso começou então a limitar os saques nas plataformas. Sob justificativas de problemas técnicos e até mesmo roubos, a empresa mantinha as vítimas sem conseguir recuperar o investimento.
  • 5 – Para garantir total controle dos investidores, a organização criminosa começou então a obrigar as vítimas a migrar para as moedas virtuais exclusivas das plataformas. Caso eles ainda se recusassem, eram ameaçados de não conseguirem sacar o valor até então investido. E como o Sheik dos Bitcoins controlava a cotação dos shitcoins, ele podia jogar os valores para baixo e remunerar pior as pessoas;
  • 6 – Nesse momento, diversas vítimas começaram a ameaçar a organização criminosa. O Sheik dos Bitcoins então classificava o grau de ameaça de cada denunciante. Para aqueles que apresentavam maior perigo era oferecido um acordo financeiro, que após os primeiros pagamentos era rompido. Nessa etapa também foram registradas as ameaças feitas a algumas das vítimas;
  • 7 – Quando o Sheik dos Bitcoins avaliava que não havia mais como manter uma empresa, ele criava uma nova para manter a organização criminosa em funcionamento.

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