"Tive a língua cortada e sangrei por horas", revela vítima de cárcere e mutilações no Oeste do PR

por Aline Cristina
com RIC Record TV
Publicado em 9 ago 2021, às 11h11. Atualizado às 12h29.

Em entrevista exclusiva ao Jornalista Roberto Cabrini, no Programa Domingo Espetacular da Record TV, a mulher que ficou durante um ano em cárcere privado na cidade de Toledo no Oeste Paraná deu detalhes de como era torturada e de como conseguiu fugir do cativeiro para pedir ajuda.

Cabrini esteve na casa em que a mulher foi torturada e mutilada durante um ano pelo marido, que é um instrutor de autoescola na cidade do Oeste. Alexandro Paes, suspeito dos crimes está detido.

“Eu fui casada por uma pessoa que eu era apaixonada, mas que se transformou em um monstro. De tanto bater ele quebrou meu nariz com vários socos. Hoje eu não respiro mais pelo nariz, mas pela boca.”

Na casa onde a mulher era torturada, havia poucos móveis, mas muitas lembranças dos piores dias vividos por Vera Lúcia da Silva Rosa de 38 anos. 

“ Se eu falasse alguma palavra errada era motivo de penalização. Ele me torturava, porque eu tinha que aprender a falar corretamente. Ele falava que ele ia me mudar pelo amor ou pela dor. Quando eu vivia naquela casa, eu não tinha amor próprio, autoestima nenhuma. Ele às vezes não deixava tomar banho e nem fazer refeições”

Vera Lúcia da Silva Rosa
(Foto: reprodução)

“A minha  boca foi uma tortura. Ele me manipulava, mandava eu fazer. Ele me falava, você faz, se não eu vou fazer pior, então eu fazia. Uma vez ele queria arrancar a minha língua, com uma alicate de ferramenta. Ele tentou arrancar também minha orelha.”

Vera Lúcia da Silva Rosa

As sessões de violência foram todas acompanhadas pelo filho do casal de 12 anos, que também tinha medo do pai e era manipulado pelo homem.

“Diante de todas as agressões e torturas que eu tive a pior foi, que ele falou para meu filho, bate naquela mulher, se referindo a mim mãe. Meu filho veio todo desajeitado, esticou o braço e bateu a mão dele no meu rosto. Esse gesto foi o pior que eu passei. Ele fez porque teve medo do pai.”

Vera Lúcia da Silva Rosa

No local onde as agressões aconteciam, vários objetos utilizados para tortura foram localizados, dentre eles tacos de beisebol, agulhas e linhas para costurar a boca, pedaços de madeira, e um facão também foram apreendidos pela polícia.

“ Ele queria me controlar por ciúmes, e estava estudando na internet como fazer uma regressão em mim. Ele chegou a me fazer um cartaz, dizendo que eu, meu filho e minha família não precisavam de apoio psicológico”

Vera Lúcia da Silva Rosa

“Ele tentava me enforcar, me jogava no chão, e raspava meu cabelo. As pessoas acreditavam que eu tinha câncer. Uma vez me fez colocar até cinco pregos na minha língua, tentou me matar, me asfixiando com toalhas e as próprias mãos. Era uma dor insuportável, diante do meu sofrimento ele se sentia feliz com a tortura, parecia uma festa. Eu não podia chorar, tinha que chorar escondida, porque ele não permitia.”

Vera Lúcia da Silva Rosa

Atualmente, a mulher não tem sensibilidade na língua, ela conta que teve parte do órgão muscular mutilado, e sangrou por horas.“ Eu fiquei sangrando da uma da manhã até às 11h da manhã. Quem me socorreu foi meu filho porque ele foi dormir.”

“Eu não consigo entender como eu aguentei tanta dor. Eu não tinha alternativa do que fazer, para não ficar longe do meu filho. Ele chegou a me dizer, eu vou te matar, e te enterrar no fundo do terreno, ninguém vai sentir a sua falta.”

Vera Lúcia da Silva Rosa

Segundo a polícia, um dos principais castigos que a mulher passava era utilizar uma faca e uma chave de fenda quente, para que queimasse o rosto. Uma semana antes de conseguir fugir do cativeiro e procurar ajuda, Alexandre deu duas opções para mulher. 

“Na última semana ele pediu para que eu escolhesse, entre sair da casa e nunca mais voltar, mas eu não queria deixar meu filho. Então ele me deu a opção de furar os olhos e cortar sua língua. Eu falei que não queria ir embora por conta do filho e que não iria furar meus olhos.”

Vera Lúcia da Silva Rosa

A mulher fugiu durante a madrugada do dia 24 de junho. Elar tentou pular o muro, mas não conseguiu, então voltou para casa pegou a chave, se despediu do filho e saiu pelo portão em busca de ajuda na delegacia da cidade.

(Foto: reprodução)

Alexandre está preso por lesão corporal, tortura e cárcere privado.O advogado de Alexandro Paes informou que o caso pode ter uma reviravolta.

“ É um processo que corre em segredo de justiça. Se comprovada a versão que ele apresentou, terá uma grande reviravolta. Todos os fatos estão levantando que a versão dele é verdadeira. Eu não digo em questão de consentimento, eu digo uma participação das duas partes, no ponto do que eu vou fazer e você aceita, a sua autolesão.”

Fabrício dos Santos – Advogado de Alexandre

Diante de todo o tempo que ficou em cárcere, o que Vera quer agora é uma nova vida, longe de Alexandre.

“ Meu sonho é reconstruir minha vida, sair ,se divertir com meu filho e voltar a trabalhar e estudar.”

Vera Lúcia da Silva Rosa