Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) – A variante de Manaus do coronavírus, que provavelmente emergiu na capital do Amazonas no fim do ano passado, pode ser capaz de driblar o sistema imune de indivíduos já infectados pela covid-19 e causar uma nova infecção, de acordo com uma pesquisa sobre a nova variante, que tem causado temores ao redor do mundo.
“Essa nova variante pode infectar mesmo quem já tem anticorpos contra o novo coronavírus depois de uma primeira infecção natural”, disse à Reuters a imunologista Ester Sabino, professora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP) e uma das coordenadoras do trabalho.
O estudo, coordenado por Sabino e o pesquisador da Universidade de Oxford Nuno Faria, foi feito com base na análise genômica de 184 amostras de pacientes diagnosticados com covid-19 em um laboratório de Manaus entre novembro de 2020 e janeiro de 2021.
Por meio de modelagem matemática, cruzando dados genômicos e de mortalidade, a equipe de pesquisadores calcula que a variante de Manaus, conhecida como P.1., seja entre 1,4 e 2,2 vezes mais transmissível que as linhagens que a precederam, segundo nota da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que apoiou o estudo.
“Os cientistas estimam ainda que em parte dos indivíduos já infectados pelo SARS-CoV-2 –algo entre 25% e 61%– a nova variante seja capaz de driblar o sistema imune e causar uma nova infecção“, disse a Fapesp. O trabalho de modelagem foi feito em colaboração com pesquisadores do Imperial College de Londres.
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Diante de uma variante mais transmissível, há uma grande preocupação sobre como as vacinas aprovadas contra a covid-19 irão reagir a ela. Apesar de também tratar de imunidade, o estudo não tem relação com eventual eficácia das vacinas, uma vez que o trabalho se baseou apenas na imunidade de pessoas que já tiveram a doença, segundo a imunologista.
“O trabalho sugere que esse vírus consegue evadir a imunidade adquirida por infecção, não dá pra falar de vacina nesse momento. Depois vai depender da vacina, podem ser vacinas diferentes”, afirmou Sabino. O estudo foi enviado para processo de revisão por pares.
O trabalho também apontou que em apenas sete semanas a P.1. tornou-se a linhagem do SARS-CoV-2 mais prevalente na região de Manaus. Segundo Sabino, “parece bastante provável” que a nova variante consegue se replicar mais no organismo humano do que a linhagem anterior.
A nova variante é apontada como uma das causas do colapso do sistema de saúde de Manaus no início deste ano, quando a capital do Amazonas sofreu uma falta de oxigênio nos hospitais devido à explosão de casos novos, com pacientes morrendo sufocados nos leitos.
A cepa já se espalhou para ao menos seis Estados e chegou a outros países, como o Reino Unido, onde uma outra variante também mais transmissível causou uma explosão de casos no fim do ano passado.
Variantes no Paraná
Na última sexta-feira (26), a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) confirmou a mais 17 casos de variantes da covid-19 no Paraná. Desses, 15 foram identificados como da P1 de Manaus, já circulante no Paraná, e dois da variante B.1.1.7, identificada no Reino Unido.
Dos 15 casos, 14 foram registrados em Curitiba, sendo oito mulheres e seis homens com idades que variam de 21 a 76 anos. Destes, 10 internaram em hospitais e quatro não precisaram de atendimento hospitalar. Cinco evoluíram para cura e nove não foram informados.
Ainda conforme a Sesa, sobre a procedência desses pacientes, verificou-se que cinco vieram do Amazonas, três residem em Curitiba e viajaram para Manaus e dois são contatos de pessoas provenientes também de Manaus. Quatro pacientes foram transferidos de Manaus para Curitiba para tratamento da covid-19.
Com os 15 novos casos, o estado chegou ao número de 20 casos da P1 de Manaus já descobertos no Paraná.

