A jovem Caroline Bilibio não se conforma com o destino dado a um homem que se masturbou na sua frente e ejaculou dentro de um ônibus, na última terça-feira (22), em Curitiba: não aconteceu nada com ele. (Veja reportagem abaixo)
Importunação sexual
Em 2018, o presidente da República em exercício e ministro do STF Dias Toffoli, sancionou um projeto de lei que criou o crime de importunação sexual. Nele, casos como esse em que agressores são flagrados se masturbando ou ejaculando em mulheres em locais públicos ou dentro de transportes coletivos podem pegar de 1 a 5 anos de cadeia.
Aqui em Curitiba só esse ano já foram registrados pelo menos 62 casos de importunação sexual a mulheres dentro de ônibus. Mas muitas vezes, mesmo com a nova lei que estabelece o ato como crime, os agressores detidos em flagrante e levados à delegacia acabam soltos na hora, assim como aconteceu no caso de Caroline.
Tarado se masturba dentro do ônibus enquanto jovem dorme
Segundo a vítima, tudo começou no início da manhã de terça-feira (22), quando ela seguia para o trabalho e acabou cochilando dentro do ônibus. Ao acordar, percebeu que um homem estava se masturbando e ejaculando próximo ao seu rosto. Assustada, ela começou a gritar e pedir ajuda. Foi quando o suspeito desceu do ônibus e acabou detido por pessoas que passavam pelo local.
“Primeiro eu fiquei em estado de choque, por alguns segundos eu fiquei sem saber o que fazer, sem acreditar mesmo que aquilo tava acontecendo comigo. Aí, quando eu percebi que ele chegou até a ejacular, foi algo bem triste, minha reação foi ir pra cima dele. A gente entrou até em conflito corporal”, contou Caroline.
Com a chegada dos guardas municipais, o homem foi detido e foi aí que começou uma verdadeira peregrinação para saber onde levar o suspeito e onde registrar o boletim de ocorrência.
Suspeito é liberado
Durante horas, Caroline, acompanhada dos guardas municipais e do agressor, percorreu diversas delegacias de Curitiba para registrar a ocorrência. Após três tentativas, finalmente, um boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia da Mulher de Curitiba. Mas, para surpresa de todos e apesar de todas as evidências, o homem foi liberado na mesma hora.

“Eu estou Revolta por todas as mulheres que venham a precisar desse atendimento porque falta preparo por parte da Delegacia da Mulher em atender esse tipo de ocorrência. Como eu disse, se você denunciar realmente a Guarda Municipal vai atender prontamente, mas chegando na Delegacia da Mulher o atendimento não acontece. Eu não falei com a delegada, não sei quem ela é, não vi a cara dela. Simplesmente, recebi uma nota no meu boletim de ocorrência dizendo que não cabia a ela esse caso porque não houve crime sexual”, declarou inconformada jovem.
De acordo com Caroline, que prestou depoimento na delegacia, a justificativa dos polícias para não prenderem o acusado foi de que não houve o flagrante no primeiro atendimento feito na Delegacia da Mulher. E mais, mesmo tendo se masturbado e ejaculado dentro do ônibus, o ato não atingiu a jovem e por isso ele não poderia ficar preso ou, como foi colocado na ocorrência, “a conduta do noticiado não configura nenhum crime sexual sequer tentado”.
“A Lei da Importunação sexual, ela diz que tem que ser contra alguém, mas eu me senti assediada, então, foi contra mim, foi pra mim que ele fez aquilo”, disse a vítima.
Agressor já tem passagem por estupro
O homem que ejaculou no ônibus já possui diversas passagens pela polícia por roubo, furto e está em liberdade condicional por estupro.
“Ele é uma pessoa que está sob condicional por estupro de vulnerável, que foi essa informação que eu tive e hoje ele tá solto, podendo estuprar uma criança ou então podendo voltar a fazer o que ele fez no ônibus”, pontuou Caroline.
Agora, Caroline – que teve coragem para enfrentar o agressor, se expor ao denunciar o ato praticado dentro do ônibus em plena luz do dia e ficar horas percorrendo delegacias para tentar fazer cumprir a lei agora – tem medo. Não sabe o que pode acontecer com ela se o homem que ela denunciou encontrá-la sozinha na rua.
“Eu tenho medo pela minha vida e pela vida outras mulher que podem sofrer até danos irreversíveis com o que ele venha a fazer”, finalizou.
Assista à reportagem completa:
Outro caso de importunação sexual dentro do ônibus
Já na Delegacia do Alto do Maracanã, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, o delegado responsável prendeu um jovem, de 21 anos, após ele passar a mão em uma adolescente dentro do ônibus.
Segundo relato da jovem de 17 anos, o abuso ocorreu quando o ônibus estava lotado, mas outros usuários do transporte público ajudaram a conter o agressor.
“Como o ônibus tava muito cheio, todo mundo obviamente ia encostar um no outro, ia se bater. Quando fez a primeira curva, que eu senti ele passar a mão na minha bunda, eu dei uma olhada pra ele, dando um sinal, pra aquilo não se repetir novamente. Eu olhei pra ele dei aquele suspirada, pra ele parar, dar uma maneirada. Quando a gente tava fazendo uma outra curva, entrando no terminal do Santa Cândida, eu senti novamente ele passando a mão na minha perna. Aí, eu olhei pra ele de novo e ele fez a mesma coisa, fingiu que nada havia acontecido. Aí, na terceira, ele passou a mão na minha parte íntima na frente e aí a moça que tava na minha frente sentiu. Aí, eu olhei pra ele e falei num tom muito alto ‘eu vou gritar’. Aí, nessa hora ele falou ‘Pelo amor de Deus, eu não fiz nada, moça’. Aí, todo mundo me puxou pra frente e falou calma moça a gente vai ficar com você. Aí, ele tentou fugir, mas seguraram ele no ônibus, ele foi falar com o motorista e o motorista não permitiu a saída dele”, disse.
Para o delegado Herculano de Abreu, o ato se encaixou na lei da importunação sexual e, por isso, ele prendeu o jovem. No entanto, ele poderá ser solto pela Justiça após a audiência de custódia que acontece na tarde desta quinta-feira (24).
“Ele foi autuado em flagrante por importunação sexual, que é uma modalidade que foi implementada agora, recente, no ano de 2018, que se ajusta perfeitamente na conduta dele. Que é essa famosa encoxada dentro de ônibus, passar a mão, se aproveitar do movimento do ônibus e por estar cheio de gente e abusar das mulheres”
O delegado também fez questão de ressaltar que o suspeito passou a mão em outras vítimas é a segunda vez, em três meses, que ele vai parar na delegacia por abusar de mulheres dentro do ônibus.
“E tem mais um outro caso que os pais de uma criança, falaram que ele estava mexendo com a filha de 11 anos”, completou ainda o delegado.
O suspeito negou que passou a mão na jovem. “Ele pediu pra mim desencostar dela, realmente, o busão tava super lotado, aí a mulher do lado começou a tumultuar. Ela só pediu pra mim desencostar dela. […] Eu tenho relacionamento há um ano e quatro meses e tô bem tranquilo”, disse o jovem.

Mesmo com o apoio da polícia, a adolescente lamenta a falta de empatia de outras mulheres.
“Como eu escutei depois, dentro do ônibus quando ele tava apanhando, as mulheres falaram que eu tava mentindo, que eu queria me aparecer. Fiquei de mentirosa, são muitas meninas que ficam. A menina vítima fica como a errada da história”, desabafou a garota.