Jogador do LEC fala sobre episódios de racismo: “Isso é revoltante”

por Ana Clara Marçal
com supervisão de Caroline Berticelli, da RIC Record TV
Publicado em 8 set 2021, às 17h33.

Em entrevista ao Balanço Geral Londrina, o meio campo do Londrina Esporte Clube (LEC), do norte do Paraná, Celso Júnior Honortato, comentou os episódios de racismo que tem sofrido durante as partidas de futebol. Em menos de um mês, foram três comentários racistas relacionados ao seu cabelo em três jogos diferentes. “Bandeira de feijão”, “negócio imundo”, “ninho de cupim” e “cachopa de abelha” foram algumas das expressões usadas pelos comentaristas e narradores dos jogos.

“Eles se sentem confortáveis fazendo isso, como se fosse natural, como se tivesse uma naturalidade bem tranquila e não é. Isso mexe, isso é revoltante, isso acaba denegrindo a imagem e nós não podemos levar isso como brincadeira. Inclusive, eu recebo algumas mensagens de pessoas falando ‘ah, mas antigamente meu amigo me chamava disso, meu amigo me chamava daquilo’. Está errado, nós não podemos compactuar com isso. Nós não podemos deixar que pelo fato de ser um amigo, de ser uma pessoa próxima fazer esse tipo de brincadeira, esse tipo de apelido porque isso ai só vai gerando e só vai crescendo mais pessoas com essas outras”,

comenta Celsinho.

Relembre os episódios:

No dia 17 de julho, durante uma partida entre o LEC e o Goiás Esporte Clube, o narrador Romes Xavier e o comentarista Vinicius Silva, da Rádio Bandeirantes Goiânia usaram termos como “bandeira de feijão” e “negócio imundo” para se referirem ao cabelo do jogador. Ambos profissionais foram demitidos do cargo.

Menos de uma semana depois, durante o jogo do LEC com o Clube do Remo, no dia 23 de julho, o radialista Cláudio Guimarães chamou o cabelo do meio campista de “ninho de cupim”. Através das redes sociais, a rádio do Clube do Pará informou que o profissional foi afastado.

Após três dias, o jogador Celsinho foi vítima de outro comentário racista, dessa vez em uma partida contra o Brusque Futebol Clube no dia 28 de julho. Júlio Antônio Petermann, integrante do staff da equipe do clube, falou “vai cortar esse cabelo, essa cachopa de abelha”. O clube se manifestou nas redes sociais mas essa primeira nota não foi bem aceita pelo público. Ao dizer que o meio campista “é conhecido por se envolver neste tipo de episódio” o Brusque foi acusado de ser “conivente” com a fala racista.

“É revoltante todos os termos. Desde o início da ofensa, depois a segunda ofensa e depois a nota da instituição. Isso aí foi uma situação muito desconfortante. Me tirando de vítima e me colocando como se eu fosse um oportunista. Como se eu fosse a um estádio de futebol, olhasse para a arquibancada e pedisse que as pessoas me xingassem, me insultassem. Aquilo acabou sendo de uma revolta absurda”,

lamenta Celsinho sobre o episódio.

O clube publicou um vídeo, assinado pelo presidente do Brusque, Danilo Rezini, se desculpando pela nota e reconhecendo que havia sido um “erro”. Em todos os episódios, o Londrina Esporte Clube emitiu notas contrárias aos ocorrido pedindo por justiça.

Justiça

Larissa Ferraz é advogada criminalista e membro da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da Ordem dos Advogados Brasileiros (OAB) de Londrina e reitera que esse tipo de comentário, além de revoltante, é crime.

“Está caracterizado crime, e a gente tem que fazer uma análise com relação às provas que foram coletadas […] primeiro a gente tem que comentar a questão da legislação. A gente sempre faz essa confusão do que é racismo e do que é injúria racial. O artigo 140, parágrafo 3º do código penal fala sobre injúria racial, que é a questão da ofensa contra a honra, contra a dignidade da pessoa, do indivíduo que sofreu com relação a sua cor, contra sua raça, contra sua etnia, através de uma piada, através de uma brincadeira que foi uma ofensa direta ao indivíduo […] depois, temos que fazer uma análise com relação a lei específica de racismo, que é a lei 7716/89 e, também, a constituição trás, no art. 5º inciso 40, a questão do racismo que é contra a coletividade, contra a questão da raça, da religião, da cor, da sua origem. Temos que fazer essa diferença e trazer para o caso concreto”,

explica a advogada.