“Braços abertos, ombro erguido, pé reto na fita e joelhos flexionados, equilibrando um passo de cada vez”, são as orientações de quem pratica slackline há um ano e diz não conseguir mais viver sem o esporte. A corda que também equilibra as emoções antes vacilantes. “Liberdade, paz, adrenalina, satisfação, concentração, autoconfiança e serenidade”, exclama o fundador do grupo de slackline de Cascavel, Diogo Paganini sobre a mudança que o esporte causou na vida dele.

O acadêmico de tecnologia em análise de sistemas e informação, aos 26 anos é funcionário público e declara “sou viciado em slackline”. Para quem pratica não importa se a corda é propriamente do esporte ou improvisada, o que interessa é a emoção de (des)equilibrar o corpo no esporte que envolve técnica e tem várias modalidades que transmitem uma energia que contagia a quem vê. A liberdade e o contato com a natureza proporcionam em cada manobra ou simples caminhada inúmeros benefícios, como diz Vandressa Luz. “Meu sono melhorou, tenho mais concentração no que faço, além de ter beneficiado minha musculatura, assim como aumentou a qualidade da minha respiração.” Vandressa, assim como Diogo e muitos outros, conheceu o esporte através de amigos, que com mesma vivacidade falavam do slackline.

Equilíbrio além da fita

Conhecido também como corda bamba, mas significando “linha folgada”, o slackline surgiu em meados de 80 nos campos de escalada do Vale Yosemite, nos Estados Unidos. Escaladores passavam semanas acampando em busca de novas vias de subida e nos tempos vagos esticavam fitas dos equipamentos de segurança para se equilibrar.

O esporte é uma prática de equilíbrio sobre uma fita de nylon, estreita e geralmente a 30 centímetros do chão. O slackline já chegou às artes circenses, devido à flexibilidade da fita e a possibilidade de criação de saltos e manobras inusitadas.

Mas o esporte não é apenas se equilibrar por aí. O slack, como é comumente chamado pelos praticantes, tem várias modalidades:

– Trickline: é a modalidade mais praticada do esporte. É quando a pessoa anda sobre a fita e realiza manobras e saltos que exigem equilíbrio extremo, preparo físico e treino. A fita em geral fica a cerca de 60 cm do chão.

– Longline: modalidade praticada em fitas com comprimento a partir de 20 metros, o que exige muito preparo físico, pois quanto maior a distância do ponto final maior deve ser a resistência muscular e equilíbrio.

– Highline: é praticado em fitas com altura superior a cinco metros do chão. Essa modalidade requer experiência e conhecimento de alpinismo. É necessário utilizar equipamentos de segurança devido à periculosidade da modalidade. Também é necessário concentração e muito controle devido a ansiedade e o receio da altura.

– Waterline: modalidade sobre as águas. A waterline é geralmente praticada em piscinas, rios ou praias, em que a fita fica a determinada altura acima da água proporcionando um esporte mais descontraído com manobras mais arriscadas, afinal, as quedas não serão uma má ideia.

No Brasil o esporte ficou desconhecido por muito tempo e passou a ser popularizado quando, em 2010, começou a ser praticado nas praias do Rio de Janeiro. Atualmente o slack se espalhou por todas as regiões do país.

Em Cascavel

De volta ao interior do estado do Paraná, é preciso destacar que o esporte tem em suas vantagens a descontração e relação interpessoal. Na cidade os praticantes se reúnem sempre que possível, seja com um, dois ou dez amigos: o que importa mesmo é a amiga fita. “Eu trabalho, estudo, mas sempre que tenho uma brecha reúno uns amigos para praticar o slack e isso acontece geralmente nos finais de semana e feriados. Sempre tem gente, às vezes dois ou três, às vezes 10 ou 15”, detalhou Diogo, antes sedentário hoje um esportista.

Em sua maioria os praticantes se equilibram em espaços verdes da cidade, como o Parque Tarquínio, no bairro Parque São Paulo, sul de Cascavel. No município não há aulas da modalidade. O esporte não tem limite de idade assim como a paixão pela adrenalina e crescimento técnico. “Curso Engenharia Civil e por enquanto levo o slack como um hobby, mas quando eu me formar quero me dedicar mais e quem sabe tornar isso a minha profissão”, fala Vandressa Luz que aos 20 anos é apaixonada pelo esporte que conheceu há quatro meses.

O grupo, ainda informal, tem projetos com foco na modalidade, exigindo equilíbrio, paciência e foco, pois o caminho também é longo. “Pretendemos fundar uma associação de Slackline de Cascavel, mas infelizmente isso ainda não foi possível, pois a prefeitura não pôde ceder ao nosso pedido”, afirma Diogo, que continua na mesma vibe do slack, esperando pela resposta, mas se divertindo pelo caminho das fitas.

A prefeitura exige que um projeto seja apresentado para criação de uma associação e possível auxílio do município. Para isso, Diogo diz que mais eventos devem ser criados nos próximos meses visando angariar mais adeptos.

Como praticar?

Primeiramente encontre duas árvores ou dois pontos que possam servir como base para amarrar os extremos da fita. A distância entre os dois lados deve ter em média 15 metros, lembrando que quanto mais curto, mais fácil será o trajeto. A fita deve ficar a no mínimo 30 centímetros do chão.

Depois disso, se equilibre com um pé de cada vez, flexione os joelhos, levante os braços e concentre-se no centro do seu equilíbrio, que é o abdômen. Olhe sempre pra frente e nunca para a fita ou os pés.

Agora, calma!

Não precisa sair correndo pela fita, mantenha-se seguro e lentamente complete o trecho.

Por fim misture a técnica, adrenalina, emoção, paz, suavidade e paixão até tornar a sensação homogênea. O ponto certo é quando você perceber que não consegue mais ficar sem o esporte. Por isso, cuidado! Essa receita rende muitas porções e torna o slackline um vício. Mas, assim como salada, você pode se servir a vontade.

Caso não tenha compreendido algum passo da receita, procure vídeos do esporte, eles são uma boa e recomendável forma de aprendizado. Há também uma página no facebook dedicada ao esporte em Cascavel, acesse: Slackline Cascavel.