O time de futebol que representa a favela México 70 veste, orgulhosamente, as cores do país-sede da Copa do Mundo conquistada pela Seleção Brasileira há exatos 50 anos. Símbolo do elo que une os dois países desde então, a comunidade localizada em São Vicente teve sua equipe ‘desafiada’.
Com milhares de moradores, a favela México 70, uma das maiores da Baixada Santista, foi formada na época do tricampeonato mundial conquistado pela Seleção Brasileira e batizada em homenagem à calorosa acolhida oferecida ao time liderado por Pelé.
Com a taça Jules Rimet no escudo, o Grêmio Esportivo Unidos 70 representa a comunidade nos campeonatos amadores locais. Ex-meia esquerda e treinador, o pedreiro Antônio da Silva, mais conhecido como Japão, é o atual presidente do time verde, branco e vermelho.
“Como a Copa de 1970 foi lá, todo o mundo tem um carinho pelo México”, disse Japão, que torce pelo país norte-americano nas Copas do Mundo, apesar do apelido, desde que não seja contra o Brasil. “Eu tenho até camisa do México. É quase igual ao nosso uniforme. Só muda o emblema”, observou, aos 52 anos.
Morador da comunidade vicentina desde 1976, Japão lembra orgulhosamente os títulos conquistados como jogador, treinador e cartola do time que representa a favela. “Comecei no México com 12 anos e nunca joguei contra”, contou. “Sempre fui México”, pontuou, seco.
Camisa autografada por Chicharito (no detalhe) sumiu
Durante a Copa do Mundo 2014, poucos quilômetros separaram a favela de São Vicente da seleção mexicana, que estabeleceu sua base em Santos. Na época, a Gazeta Esportiva presentou o time com uma camisa autografada pelo astro Chicharito Hernandez, hoje com paradeiro desconhecido.
“Essa camisa sumiu quando estávamos levando as coisas para a nossa sede. Já procuramos, mas, realmente, não sabemos o que aconteceu. Queríamos colocá-la em um quadro. Alguém deve ter pegado, infelizmente”, suspeitou o presidente Japão, chateado.
O cinquentenário da Copa do Mundo de 1970 também vem sendo tratado com destaque pelo país-sede. Ao falar sobre o tricampeonato, Oscar Soberanes, cônsul para assuntos culturais no Consulado Geral do México em São Paulo, valorizou o elo construído entre os dois países desde então.
“Um dos maiores legados da Copa de 1970 é a criação de um vínculo afetivo, além de cultural, entre os povos mexicano e brasileiro, que transcende até hoje. Prova disso são as ruas que levam o nome do México e de Guadalajara. Em São Paulo, há também a Escola Estadual México, com a qual temos constante contato”, contou.
Atualmente, assim como os clubes profissionais de São Paulo, as atividades do time presidido por Japão estão paralisadas pela pandemia de covid-19. Quando as partidas forem retomadas, porém, a equipe da favela México 70 já tem um adversário interessado em enfrentá-la.
“Há também o bairro México 70 lá em São Vicente, ao qual mando um grande abraço. Espero poder visitar em breve para jogar uma partida de futebol entre uma seleção de mexicanos e de mexicanos da comunidade México 70”, disse Oscar Soberanes, cinquenta anos após o tricampeonato.