A Gaviões da Fiel cobrou uma equalização das contas do Corinthians e se posicionou, na última sexta-feira, a favor do pagamento das dívidas do clube, mesmo que isso represente um jejum de títulos nos próximos anos devido a elencos mais enfraquecidos.
O assunto sempre gera polêmica, seja entre torcedores, dirigentes ou jornalistas, e está longe de um consenso. Há até mesmo dúvida sobre a principal torcida organizada corintiana manter a postura de apoio, caso tal medida seja adotada pelos gestores do clube.
A Gazeta Esportiva, então, lembra alguns fatos históricos que remetem ao conflito de ideais que atinge o Corinthians neste momento de crise financeira e ano eleitoral.
Fé inabalável
Em 110 anos, O Corinthians já teve diversos times que fracassaram na busca por títulos e, mesmo assim, foram abraçados pela Fiel, em reconhecimento ao empenho, raça e força de vontade dos elencos, principalmente quando a fragilidade destes esquadrões também era perceptível entre os mais fanáticos.
Em 1961, chamado de “faz-me rir” pelos rivais, o Corinthians viu sua torcida criar uma música para combater as provocações: “No momento difícil, presente / A torcida responde por ti / Demonstrando a toda essa gente que tu tens um nome, do qual não se ri”.
Em 1968, de novo nada de caneco, mas a vitória sobre o Santos de Pelé, graças a gol de Paulo Borges, que findou um jejum de 11 anos diante do rival em Paulistas, lavou a alma de muitos corintianos na época.
Outro ano que ficou marcado pela união entre time e torcida, independente da ausência de taça, aconteceu em 1971. Um Corinthians enfraquecido, há 17 anos na fila, venceu o Palmeiras da Academia com o Morumbi lotado. Entre viradas e reviravoltas, o placar de 4 a 3 até hoje é lembrado como um dos maiores Derbys de todos os tempos.
O livro de Celso Unzelte (Arte: Divulgação/SCCP)
“Tem jogo de turno, jogo que não valia muita coisa. O corintiano, muitas vezes, dá mais valor para alguns momentos do que para jogos de título, como é o pensamento comum”, comentou Celso Unzelte, à Gazeta Esportiva.
“E realmente tem de se entender que time mais fraco não significa jejum. Em 90 e 77, ganhou com times inferiores. Em 2018, iria ganhar do Cruzeiro. Até o time do Carille, quem diria que seria campeão? Aquele time surgiu em um Corinthians e Palmeiras, em Itaquera, pela primeira fase do paulista, quando a equipe ia mal das pernas. Meu filho chegou a me pedir as mãos para torcer e eu: ‘criança acredita em cada uma’. De repente, sai o gol do Jô e foi aquela gritaria”.
Orgulho assumido
A característica peculiar da Fiel, que aliás carrega tal alcunha não à toa e tem registrado seu maior crescimento justamente no período de maior seca do clube, já foi abordada até mesmo pelo departamento de marketing do Corinthians.
No fim de 2010, após a frustração de terminar o ano de seu centenário sem título, o Corinthians lançou a campanha que tinha o seguinte mote: “Muitos vivem de títulos. Nós vivemos de Corinthians”.
Pouco depois, em outubro de 2011, ao lançar seus novos uniformes, o Corinthians decidiu tirar de vez as estrelas que eram expostas acima do brasão e que remetiam à conquistas de Brasileiros e do primeiro Mundial para reforçar a ideia de que taças sempre estarão em segundo plano (veja vídeo abaixo).
Reflexão
Após o golpe mais duro, o corintiano entoou “Eu nunca vou te abandonar” a cada jogo da equipe na Série B do Campeonato Brasileiro. Em eliminações recentes, aplausos reconheceram o esforço despejado no gramado, onde a vitória nunca é certa. A paixão, por diversas vezes, cega e esbarra na irracionalidade, o que já levou a acontecimentos lamentáveis por parte de torcedores alvinegros, principalmente quando percalços têm de ser absorvidos por uma geração mal (ou bem) acostumada com títulos. Mas, se “na vitória ou na derrota o grito é forte“, enquanto o clube põe a casa em ordem, aos jogadores talvez baste a dedicação e simplesmente “honrar a tradição”.