Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – A safra de café do Brasil em 2021 foi estimada nesta terça-feira em 48,8 milhões de sacas de 60 kg, perto do ponto mais alto da projeção de janeiro, de 43,85 milhões a 49,58 milhões de sacas, apontou a estatal Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), despertando reações negativas de parte do setor produtivo, que espera uma produção inferior à prevista.
Caso a estimativa do segundo levantamento de safra da Conab seja confirmada, a colheita no maior produtor e exportador global de café cairá 22,6% ante o recorde de 63,08 milhões de sacas do ano anterior, com a seca reduzindo a produção de grãos arábica, a principal variedade produzida no Brasil, que está em 2021 no ano de baixa de seu ciclo produtivo bianual.
“Os efeitos fisiológicos observados em diversas regiões produtoras neste ciclo, bem como as condições climáticas adversas registradas em muitas localidades, influenciaram diretamente nessa perspectiva. Essa influência se deu tanto na redução do rendimento médio como na diminuição da área em produção”, afirmou a Conab em relatório.
Mas a Associação dos Cafeicultores do Brasil (Sincal) avalia que a Conab errou, considerando o prolongado período de seca que vem atingindo as lavouras, o que deveria resultar em uma produção bem menor, especialmente de arábica.
A produção de café arábica foi estimada pela Conab em 33,365 milhões de sacas, acima do ponto mais alto do estimativa anterior, que variava de 29,7 milhões a 33 milhões de sacas.
“Erro crasso da Conab. O café arábico deve colher em 2021 entre 23 a 25 milhões de sacas”, disse à Reuters o diretor do Sincal Marco Antonio Jacob, citando os efeitos de uma seca considerada histórica.
Questionada sobre o assunto, a Conab explicou que houve um aumento de área em produção do arábica detectado entre o primeiro e segundo levantamento, o que explica a melhora ante a previsão de janeiro.
“Como a produção do arábica representa quase 70% da produção total, o aumento da produção desta espécie condicionou a maior proximidade do limite superior…”, disse a Conab, em referência à safra total prevista, incluindo grãos canéforas.
Conforme os dados da Conab, a área de arábica em produção foi revisada para cerca de 1,45 milhão de hectares, versus 1,38 milhão na estimativa anterior.
Se confirmada a previsão da Conab, a colheita de arábica terá uma redução de 31,5% ante 2020.
Essa queda é menor até mesmo do que a projeção de safra de consultoria privada, que historicamente costuma ter volumes acima dos vistos pela Conab.
Em seu último número, a consultoria StoneX projetou a safra de arábica em 31,4 milhões de sacas, queda de 33% ante a temporada anterior.
Mas há no mercado quem aponte um número maior, como o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que vê uma colheita de arábica de 35 milhões de sacas, com redução anual de 30%.
ROBUSTA/CONILON
Já a safra de café canéfora (robusta/conilon) foi projetada pela Conab em 15,44 milhões de sacas, contra intervalo de 14,13 milhões a 16,6 milhões de sacas na projeção anterior.
Assim, na comparação anual, a produção dessa variedade cresceria 7,9%, colaborando para amenizar a redução esperada na colheita de arábica, segundo a Conab.
A área total de produção de café do Brasil, incluindo arábica e canéfora, foi estimada em 1,82 milhão de hectares, queda de 3,2% ante 2020, segundo a Conab.
Com a colheita já em andamento, a estimativa inicial para produtividade média nacional ficou em 25 sacas/hectare, indicando redução de 25,4% em comparação à safra anterior, pressionada pela queda nas lavouras de arábica.
A Conab lembrou que nos ciclos de bienalidade negativa do arábica os produtores costumam realizar tratos culturais mais intensos nas lavouras, promovendo algum tipo de manejo como poda, esqueletamento ou recepas em áreas que só entrarão em produção nos próximos anos –essas atividades também reduzem a colheita no ciclo atual.
MAIOR ÁREA EM FORMAÇÃO
Se a área em produção de café está em queda, o total de cafezais em formação está em alta de 41,4% na comparação com o ciclo anterior, para 392 mil hectares, o que deverá impulsionar a colheita brasileira nos próximos anos, disse o diretor do Departamento de Comercialização e Abastecimento do Ministério da Agricultura, Silvio Farnese, ao comentar os números em evento transmitido pela internet.
“A maior área em formação é indicativo de que teremos no futuro uma boa produção de café, considerando áreas novas que foram renovadas, que têm tecnologia mais apurada, variedades mais produtivas. Quando entrarem em produção, vamos ter uma safra de café com boa qualidade”, destacou Farnese.
Para a safra atual, o diretor do ministério destacou que o número da Conab é muito próximo do de 2019 (49,3 milhões), o último ano de baixa de produção do arábica, apesar de preocupações do setor produtivo de uma queda muito maior do que o normal em função da prolongada seca em 2020.
De qualquer forma, ele ressaltou que a projeção dá um sinal de que haverá “de fato” menos café no mercado, o que sustentará os preços.
Os contratos futuros do café arábica em Nova York estão operando perto de máximas de quatro anos, já refletindo a produção menor do Brasil. Três horas após a divulgação da pesquisa da Conab, os preços na bolsa ICE subiam 0,7%, para 1,501 dólar por libra-peso.
Embora a queda na produção em 2021 limite a disponibilidade de café para exportação no Brasil, a taxa de câmbio elevada e os preços internacionais atrativos deverão manter o estímulo às vendas externas, pontuou a Conab.
Outro fator que poderá contribuir para manter os embarques brasileiros em patamares elevados é a perspectiva de recuperação do consumo de café fora de casa à medida que o controle da pandemia do Covid-19 avança em muitos países, afirmou a estatal.
ESTADOS
A Conab estima uma queda de 32,6% na produção de Minas Gerais, maior produtor brasileiro, para 23,3 milhões de sacas.
No Espírito Santo, líder em produção de café conilon, a estimativa de produção total (incluindo arábica) é de 13,63 milhões de sacas, queda anual de 2,4%.
Os capixabas deverão produzir 3,2 milhões de sacas de café arábica (ante 4,8 milhões em 2020) e mais de 10 milhões de conilon, com alta de cerca de 1 milhão de sacas na comparação anual.
São Paulo, terceiro produtor de café no Brasil, deve alcançar a produção de 4 milhões de sacas, indicando redução de 35% em comparação ao resultado de 2020.