Brutal

Publicado em 19 mar 2020, às 00h00. Atualizado em: 5 jun 2020 às 11h25.

Desceu do ônibus quase vazio àquela hora.

Caminhou devagar, mas tinha pressa.

Foi pela rua escura, estreita e úmida.

No bolso, a pistola pesava mais de uma tonelada.

 

Conhecia o beco. Era seu caminho de anos.

Ainda sentia as dores físicas e na alma lhe rasgando.

O ataque fora violento, brutal, horrível.

Sangrou muito. Chorou sem amparo. Vergonha?!

 

Nunca havia tocado em uma arma antes.

Saiu do hospital e andava com muita dificuldade.

Na loja do árabe, comprou a pistola sem problemas.

Dois pentes lotados e uma caixa de balas de brinde.

 

Entendia como um meio de justiça cega o que fazia.

Fora violentado. Covardia. Brutalidade pura.

Voltava do serviço cansado. Rodava turno há dez anos.

Sem chance de defesa. Ataque perverso, vil.

 

Agora era a hora certa. Planejara tudo no hospital.

Conhecia o local. Desconhecia a si mesmo.

Chegou ao lugar infernal, escuro. Passos lentos.

Havia uma fogueira em um tambor de metal.

 

Estavam lá. Os três. Irmandade do mal.

Bebiam, fumavam e riam. Esperavam.

Três disparos. Nas cabeças. Sangue jorrando.

Caíram. Repetiu o feito. Tinha munição de sobra.

 

Foram seis tiros. Tudo estava resolvido agora.

Voltou. Conhecia o caminho estreito e escorregadio.

O mesmo ônibus retornava. Fez um sinal. Embarcou.

Os olhos ficaram turvos. Chorou sem se importar.

 

Nada expia a dor de uma alma maculada.

No coração um aperto de prensa. Gritou.

Tudo estava feito agora. Sem volta ou arrependimento.

Tinha que caminhar a esmo. Desceu do ônibus…

 

Jossan Karsten

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