Esquisitos?

Publicado em 13 maio 2020, às 00h00. Atualizado em: 5 jun 2020 às 11h26.

Sempre haverá um louco, um esquisitão falando de amor, de paixão.

Mesmo ante os infortúnios da vida, haverá um pregador da leveza.

São esses idiotas, sem escrúpulos que deixam a vida amena.

Que haja sempre esses doidos dispostos a falar o que pensam.

Onde os polidos fraquejam, os malucos ganham força e seguem.

Essa gente nada tem a perder e, por isso, eles vivem intensamente.

Malucos, chapados, maltrapilhos e otimistas não possuem coisas.

O nada ter é uma das melhores formas de caminhar sem medo.

 

Por nada, essas pessoas são esfoladas vivas. Perecem nos asfaltos, nas esquinas.

O sangue dos esquisitos não é considerado puro, tampouco reconhecido.

Todos os dias (ou noites) há imolação de quem fala de amor, de poesia.

Como cordeiros, os malucos são oferecidos em sacrifício a um mito diabólico.

Eles morrem, mas outros nascem e continuam a saga. Precisa ser assim.

A luz que entra pelas retinas dos esquisitos, incide em seus corações purificados.

Lacerados, eles caminham para frente e olham para o céu em busca da luz perfeita.

Sem alento, todos esses malucos contam com a proteção do acaso e se vão…

 

E eles saem por aí, pelos becos e estradas, falando de amor, divergindo do pragmatismo.

A liberdade dessa gente incomoda a muitos detentos da ala “ter cada vez mais”.

Encurralados em corpos balofos, muitos espíritos gritam de raiva dos esquisitos.

Os malucos são alvos fáceis de gente que não sabe o que é amor e que prega a divisão.

Eles morrem facilmente na ponta aguda da ganância que a tudo corta e corrompe.

Mesmo nos dias de sacrifício, não há tristeza para os esquisitos. Há esperança.

Eles não acreditam em causas, mas sim, na liberdade que é a vida.

Longe, no horizonte do medo, surge alguém assim e muda tudo com um sorriso.

 

Jossan Karsten

Imagem: Vladimir Kush

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